Grande divulgadora do funk no Brasil e mundo afora, Anitta usou as redes sociais nesta segunda-feira (15) para defender o ritmo musical de críticas feitas por Rick Bonadio. Logo pela manhã, o produtor se mostrou incomodado com a celebração nas redes, após escolha da rapper norte-americana Cardi B de incluir um funk do DJ Pedro Sampaio em sua apresentação no Grammy Awards, na última noite (14).
“Ontem no Grammy a Cardi B mostrou o PIOR tipo de música produzida no país e a galera tá comemorando? Vamos valorizar o que deve ser valorizado! O Brasil tem muita música boa de verdade”, escreveu Bonadio, no Instagram. “Já exportamos Bossa Nova, já exportamos Samba Rock, [Tom] Jobim, [Jorge] Ben Jor. Até Roberto Carlos. Mas o barulho que fazem por causa de 15 segundos de funk na apresentação da Cardi B me deixa com vergonha. Precisamos exportar música boa e não esse ‘fica de quatro’”, reclamou ainda.
Sem demora, Anitta rebateu os comentários de Rick. “Tenho uma sugestão top pra você também. Escolhe um ritmo brasileiro à sua altura, faz uma música e exporta pro mundo. É facinho… e rápido.. e de uma hora pra outra, claro, não dá pra começar com míseros segundos no Grammy. Quando você chegar lá, a gente comemora com você”, alfinetou.
A cantora fez um adendo: “Ah e sozinho, também… não vale chamar um amiguinho pra unir forças e nem comemorar quando tem vitória de outro amiguinho. Aí, você conseguindo, eu faço uma campanha pra deixarem de ser meus fãs e serem seus…”.
E não parou por aí, não. Bonadio também opinou que o funk ainda “precisa evoluir” e que existe uma “alienação generalizada” das pessoas em torno do ritmo: “Eu sinto a necessidade de criticar algumas situações porque vejo uma alienação generalizada. O funk precisa evoluir. Os funkeiros precisam ousar evoluir musicalmente para crescer. Não se pode fazer o mesmo sempre porque isso dá certo. Meu post anterior não teve a intenção destrutiva”.
“Não dá pra aceitar que sempre a mesma batida com letras de putaria seja algo necessário ou a ‘cultura do país’. De qualquer forma, eu respeito todos do funk por suas batalhas e vitórias. Desculpem se ofendi, nunca é minha intenção”, lamentou o produtor na sequência.
Anitta também respondeu aos comentários, fazendo um paralelo com as críticas lançadas, no passado, sobre a Bossa Nova. “‘Essa é a merda que o Rio nos manda!’… 2021? Não! Apenas um dos milhares de comentários pejorativos dos ‘entendedores’ de cultura na época em que a grande Bossa Nova foi lançada. Será que já vi esse filme? Estudei, então já vi”, disparou.
Sobre a alegada similaridade entre as melodias do funk, a cantora se posicionou com uma alfinetada daquelas para a carreira de Rick: “Mesma batida? Você deve ter parado de pesquisar desde seu último álbum de sucesso. Mesmas letras? Aceito. Porém, infelizmente, cada um canta uma letra compatível com o nível educacional e cultural que lhe é oferecido. Nesse caso, pelo governo brasileiro, para com suas comunidades”.
Mais tarde, foi vez do produtor rebater as falas da popstar. “Nem faz sentido essa conversa Anitta. Cada um na sua. Meu papel é criticar e forçar a evolução. Faço isso todos os dias dentro do estúdio há mais de 30 anos e sempre para o lado positivo. Não sou artista. Estamos em mundos completamente diferentes. Não disputo nada com você”, escreveu ele, que levou uma invertida da funkeira.
“Que sorte a sua que não tá competindo nada comigo. Críticas construtivas vem embasadas em estudo. Forçar a evolução é fazer alguma coisa, ao invés de tecer comentários negativos sobre quem tá fazendo. Há mais de 30 anos no seu estúdio e não conseguiu exportar um ritmo do Brasil pro mundo sem que você estivesse ganhando dinheiro por isso. Que sorte que não tá competindo comigo”, retrucou a carioca.
Não satisfeita, a poderosa publicou um longo desabafo em seu perfil, explicando os motivos que a levaram a se manifestar sobre o caso. “Entenda uma coisa, galera… é MUITO necessário resistir a esse tipo de comentário. São de pequenas opiniões assim que as coisas crescem aos poucos e podem virar cruciais no futuro. Alguém já viu o filme ‘Sombra Lunar’ na Netflix? Explora essa questão”, indicou.
“Uma pequena ideia compartilhada por um homem vai se espalhando e crescendo a ponto de virar uma guerra infinita depois de décadas. E isso é muito mais possível do que imaginamos. Sabe o que eu faço quando tenho uma opinião negativa sobre algo que não está fazendo mal a absolutamente ninguém? Opção 1. Fico calada. Opção 2. Faço melhor”, declarou ainda.
Segundo a diva, o comentário de Bonadio vai além de uma mera “opinião”. “Estamos falando de um ritmo que sustenta milhares de famílias sem prejudicar a ninguém. Infelizmente ainda existem muitas pessoas que comandam a indústria no Brasil, que ainda têm como referência essas pessoas que tiveram uma grande relevância no passado”, insinuou, sobre a carreira do produtor.
“Independente delas estarem atualizadas quanto aos rumos políticos e sociais que influenciam a música no nosso país. Então, quando essas pessoas que têm o poder de alavancar novos talentos do funk escutam esse tipo de opinião, o que acontece? Um funkeiro perde uma oportunidade de crescer, de aprender e de melhorar. Graças a Deus eu não preciso mais de absolutamente nada de pessoas que têm esse tipo de pensamento… mas sei que quem tá começando precisa, então não posso ficar calada”, reforçou Anitta.
A funkeira finalizou o texto, lembrando dos dias em que não tinha tamanha influência no cenário. “Se essa galera que tá começando ousar tentar bater de frente, vão ser engolidos pela indústria. Eu sei bem, porque já estive nessa posição, mas sou doida e fui assim mesmo porque pra me engolir, a boca tem que ser grande e o fôlego maior. Por que vocês acham que essa galera do business não ousa falar de outros ritmos? Porque existem grandes empresários por trás. Aí a briga dói no bolso… melhor não, né? Mas já com os funkeiros… quem vai brigar por eles? Ai, ai… prazer, aqui a gente faz doer na exposição. Beijos”, encerrou.
Lexa e Luísa Sonza, outras duas artistas conhecidas pelo funk, também se manifestaram de forma contrária a Rick. “O funk evoluiu e cresceu tanto que estava no Grammy ontem. É preciso respeitar nosso movimento. Tenho respeito pelo seu trabalho e esperamos o mesmo respeito. O funk é cultura, é música e tá quebrando barreiras sim. Desmerecer o trabalho do outro é TRISTE e DESRESPEITOSO”, respondeu a voz de “Sapequinha”, ao produtor.
Sonza também não poupou saliva – ou melhor dizendo, caracteres. “Ai não, gente, ninguém merece em 2021 ver produtor ultrapassado falando mal de funk NO GRAMMY. Eu fico pensando aqui se vale a pena responder um sujeito desses ou só ignorar mesmo, porque é um pensamento TÃO burro que acho que não consigo nem ter um diálogo, dá preguiça até de responder uma coisa dessas”, disparou.
“Pensamento elitista, preconceituoso e burro. Eu estudei muito e conheço muito de música e é só por isso que digo com tranquilidade que o funk vai ser o maior ritmo brasileiro reconhecido em todo o mundo. Nunca visto antes aqui no Brasil. Quer vocês, ‘elite musical’, queiram ou não”, finalizou a cantora.
Jão, Lucas Silveira, Valesca Popozuda, Mc Rebecca e PK também deram suas opiniões sobre o assunto. Confira:
por favor rick bonadio cale a boca 🙏
— Jão (@jaoromania) March 15, 2021
Louco isso, pois o Bob Dylan nunca precisou cantar afinado pra dar o recado dele. Nem o Johnny Rotten, o Notorious ou metade dos grandes vocalistas brasileiros dos anos 80. A crítica sobre sexismo no funk também cai por terra quando o sexismo de 80% rock não é problema.
— Lucas Silveira (@lucasfresno) March 15, 2021
É fácil jogar pedra em algo que é gigante, pois sempre acerta. Ao mesmo tempo, nem arranha. Eu não sou funkeiro e me senti desrespeitado como como brasileiro pelo teu comentário. Deixa os cara. Nem precisa aplaudir. Só deixar os cara e as mina trabalhar já é ter respeito.
— Lucas Silveira (@lucasfresno) March 15, 2021
Toda vez que algo me faz me sentir velho, eu procuro me informar. Não pra virar jovem de novo, mas pra entender o porquê daquilo ser do jeito que é, e sair desse processo aprendendo algo novo, pois sempre tem o q se aprender de tudo.
— Lucas Silveira (@lucasfresno) March 15, 2021
Da pra aceitar sim, dá pra respeitar e dá pra você ignorar o ritmo, mas você escolheu “criticar” e “ofender”. Sim eu me ofendi, eu canto funk e proibidão mas eu gero empregos, pago imposto e mantenho a comida na minha casa com letras do proibidão.
— Valesca Popozuda #Mecomeesome (@ValescaOficial) March 15, 2021
Em pleno 2021 produtor querendo criticar o funk, além de ignorância é algo extremamente elitista e que ignora a importância do funk na vida de tantas pessoas, inclusive na minha. Que cada vez mais a gente possa levar o funk para o mundo! Funkeira com muito orgulho SIM!
— Mc Rebecca #ToPreocupada (@mcrebecca) March 15, 2021
2021 e ainda tem gente que quer criticar o funk?
O gênero musical que gira a economia das periferias, que gera empregos, que fertiliza sonhos.
Eu com o dinheiro da música explícita mais escutada da história do Spotify Brasil, já ajudei mais famílias que o governo
Chupa meu piru— PK ∆ (@pkfreestyleiro) March 15, 2021