Bate-papo raro! Após um bom tempo sem conceder grandes entrevistas, o cantor Gusttavo Lima recebeu o jornalista Leo Dias, do jornal Metrópoles, para uma conversa franca a respeito de diversos assuntos. Na gravação de mais de 50 minutos, o sertanejo fala sobre sua decisão em não transmitir mais nenhuma live, suas origens humildes, e revisitou um capítulo delicado da sua vida, quando a irmã morreu, e ele pensou em abandonar sua carreira artística.
Um dos primeiros nomes do cenário musical a se render ao fenômeno das lives durante a quarentena, Gusttavo Lima se destacou tanto ao produzir transmissões grandiosas para os fãs, quanto ao se envolver em polêmicas. Em abril do ano passado, quando ainda fazia lives mais intimistas, o sertanejo recebeu uma advertência do Conar, órgão de regulamentação publicitária, após o excesso de consumo de bebidas alcoólicas nos shows que eram patrocinados pelas marcas das cervejas. Para Leo Dias, o artista explicou que ali, na verdade, ele estava tendo a possibilidade de mostrar para os fãs quem ele era de verdade.
“É muito louco, porque as pessoas que te acompanham em casa começaram a te ver de uma forma diferente. Começaram a te ver de uma forma que você não tá ali em cima do palco cantando. As primeiras lives — antes do ‘mimimi’ — que eu fiz, foram extremamente caseiras, do jeito que eu sou, e isso as pessoas puderam ver a verdade do artista. Cada vez mais elas começaram a consumir isso e também cobrar isso. Tanto que quando vieram as lives com mais produção, com mais patrocínio, as pessoas começaram a reclamar“, lembrou Gusttavo.
O cantor reforçou que, mesmo com os shows mais roteirizados que vieram depois dessa primeira fase, ele nunca deixou de mostrar sua essência, e afirmou que “só deve satisfação” ao público que acompanha e consome seu trabalho. Mas Lima entregou que o formato das lives gigantes não o satisfazia. “A gente testou os dois lados. As profissionais eram engessadas e eu nunca gostei de fazer esse trabalho engessado, mas pô, tenho conta pra pagar, funcionário pra caramba”, brincou. Gusttavo acredita que transmitirá hoje (4) sua última live, e já tem outros planos profissionais pela frente. “Tudo tem um começo, meio e fim. Até quando a gente vai viver fazendo live?”, indagou.
“Pelo menos por mim, a gente vem há um ano fazendo live, foi maravilhoso, foi gostoso, mas agora é hora de voltar o trabalho de verdade. Acredito que, enfim, no final do ano ou começo do ano, a gente já vai estar fazendo shows. Nesse ritmo que tá a vacinação, mesmo que lento, a gente já consegue ver um norte. Os Estados Unidos, a Europa, são um reflexo para cá”, analisou. Enquanto os fãs brasileiros aguardam a imunização, Gusttavo Lima fará uma série de shows nos Estados Unidos e gravará seu próximo DVD em Boston no dia 15 de agosto. “Agora é hora de compor, de gravar. Já estamos com quase 10 mil ingressos vendidos em Boston e ainda faltam 2 meses [para o show]”, comemorou.
No bate-papo, Leo Dias voltou no tempo para relembrar as dificuldades que Gusttavo enfrentou ainda na infância, quando aos 2 anos de idade, ele e sua família perderam a casa em que moravam. “A gente morou três meses debaixo de um pé de manga”, contou o sertanejo. Mais para frente da conversa, ele detalhou como tudo aconteceu. “Meu irmão botou fogo brincando. Não tinha energia elétrica, não tinha luz, era lamparina, que você colocava querosene, um pavio e colocava o fogo ali e iluminava a casa inteira a noite toda”, começou. “Chegou a lamparina [e ele brincou com o fogo] e a parede era de madeira com barro”, relatou o cantor.
Apesar das dificuldades, o sertanejo guarda com carinho as lembranças dessa época. “[A casa] não tinha geladeira. Era fogão à lenha. A carne que a gente comia ficava em uma lata… Minha mãe colocava um pedacinho no prato de cada um porque se colocasse a mais não dava porque era menino demais. Oito filhos! Era menino para dar com o pau”, divertiu-se. “Mas minha mãe sempre foi muito asseada, cuidadosa. Era uma casinha simples, mas muito asseada e certinha. Foi uma infância difícil, mas feliz. Hoje só tenho gratidão!”, afirmou.
Quem vê o sertanejo consolidado como um grande artista e ostentando uma vida luxuosa, pode nem imaginar que ele passou por poucas e boas, mesmo depois de já ter emplacado alguns hits. “Em 2014 eu quebrei. Depois de já ser um sucesso nacional, naquele momento também já internacional… Morei de aluguel.[…] Foi uma porrada atrás da outra”, relembrou Gusttavo. A fase realmente foi muito difícil para o mineiro. Além da questão financeira, Gusttavo lidou com as mortes da mãe e da irmã e em um espaço de termo relativamente curto.
“Perdi minha irmã em 2012 e a minha mãe em 2015. Quando eu estava fazendo de 30 a 32 shows por mês, estava no interior de São Paulo fazendo show, o telefone toca às duas da manhã. […] Meu irmão que trabalhava comigo na época ligou e falou: ‘Gustavo, levanta aí que preciso conversar com você. A Luciana, nossa irmã, acabou de falecer’. Fiquei sem reação, sem saber o que fazia. Estava fazendo 30 shows por mês e nem sabia o que estava vivendo porque era praticamente um boneco. Me colocavam em cima do palco e eu cantava. Eu não tinha nem noção de nada e comecei a ver as coisas de uma forma diferente”, desabafou.
A triste perda fez com que o artista refletisse sobre o estilo de vida que estava levando por conta da sua profissão. “Falei: ‘Cara, do que adianta isso aqui tudo, dinheiro, sucesso? Eu perdi uma pessoa que eu amo…’ Cara, não consegui ir no velório da minha irmã. Por quê? Compromisso, agenda. Eu fui ao funeral, mas não fui ao enterro. Porque à noite eu tinha um show para cumprir. Aquele show foi a gota d’água. Ali minha cabeça foi a mil. Não adianta ter tudo se você não está com seu pai, seus irmãos, as pessoas que você ama”, lamentou.
Gusttavo Lima chegou a cogitar largar a carreira de cantor. “Falei que não ia cantar mais. Voltei para a casa dos meus pais na roça, em Presidente Olegário. Depois de uma semana, todo mundo estava desesperado, shows vendidos o ano inteiro. Aí chegaram uns cinco atrás de mim e me convenceram de novo. Mas eu estava disposto a abandonar tudo. Naquele momento a única coisa que eu não queria que falassem comigo era de música. A gente só dá valor depois que perde e fica com uma culpa gigantesca, que, se você não tiver Deus e pessoas boas do seu lado, você cai em depressão”, avaliou.
Quando a mãe do cantor faleceu, ele ainda batalhava para se recuperar da crise financeira, e por isso, também se sentiu muito mal por ficar tanto tempo fora. “Eu estava fazendo um show em Campinas e cinco horas da manhã, meu irmão me liga e fala: ‘Nossa mãe faleceu’”, recordou. Mais uma vez, o artista se viu refletindo sobre a vida e o trabalho, lembrando principalmente que nunca precisou de luxos, e a prioridade tinha que ser sua saúde mental e física.
“De onde eu vim, de onde eu saí, eu me contento com pouco e com muito. Eu vivo do luxo ao lixo. Eu fui criado no lixo. Comia abóbora com farinha até os sete anos de idade. Meu pai levava carne para a gente comer uma vez no mês. Ele trabalhava fora, ficava um mês fora e a gente comia todo dia arroz com farinha ou feijão com abóbora, enfim, o que a gente plantava ali numa casinha de pau a pique, de palha. Então eu, naquele momento de 2014, falei: ‘Não tem problema nenhum eu voltar para onde eu vim. Eu já estou acostumado. Isso aqui é fichinha para mim. Se eu tiver que cantar em barzinho de novo, não tem problema’”, garantiu.
Na época, Gusttavo Lima teria pago uma multa de R$ 12 milhões, após rescindir o contrato com a empresa que administrava sua carreira desde a época em que ainda era desconhecido. Os veículos da imprensa especularam que o artista estaria insatisfeito com os valores que eram repassados para ele da quantia total cobrada pelo seu cachê. Para pagar a multa, o cantor chegou a vender alguns de seus bens, como mansão e helicóptero. “Mas tinha que ser do meu jeito, porque na gestão que estava não estava saudável”, concluiu o cantor, lembrando da agenda exaustiva de shows antes de tomar a difícil decisão.
Assista à entrevista na íntegra: