O ministro da Educação, Milton Ribeiro, tem causado polêmica ao falar sobre a inclusão de crianças com deficiência nas escolas regulares. O responsável pela pasta afirmou que essas crianças “atrapalhavam” o ensino dos demais estudantes. A fala foi duramente criticada e, nesta quinta-feira (19), Juliette Freire queixou-se dos comentários.
Tudo começou na semana passada, quando o subordinado de Jair Bolsonaro foi entrevistado pelo programa “Sem Censura”, da TV Brasil. Milton Ribeiro criticou o que chamou de “inclusivismo”. Segundo o responsável pela Educação no Brasil, uma criança com deficiência não aprenderia caso fosse incluída em salas de aula com alunos sem a mesma condição. Ribeiro ainda afirmou que isso “atrapalhava” o aprendizado dos outros estudantes.
Com as lamentáveis declarações, a campeã do “BBB21” condenou o preconceito e “desserviço” prestado pelo ministro, defendendo a inclusão nas escolas. “Por trás dessa fala infeliz e preconceituosa do atual Ministro da Educação, há muita ignorância e um completo desserviço à sociedade. A educação é a base e um direito de todos, sem distinção”, escreveu Juliette. “Precisamos de formação adequada aos nossos profissionais da educação e escolas adaptadas para todas e todos. Educar é incluir”, completou ela.
Precisamos de formação adequada aos nossos profissionais da educação e escolas adaptadas para todas e todos. Educar é incluir.
— Juliette (@juliette) August 19, 2021
A ex-Fazenda Jakelyne Oliveira também rechaçou as falas do ministro: “É um absurdo ver que o ministro da educação, que deveria apoiar, lutar e incentivar a inclusão, faz e pensa o oposto, com falas carregadas de preconceito”. A modelo é irmã da jovem Geovanna, de 12 anos, que tem síndrome de Down. Além disso, Jake é engajada ativamente com projetos sociais voltados à inclusão de pessoas com deficiência.
“A inclusão está no nosso dia a dia, dentro e fora das salas de aulas. Seu pensamento não deveria ser fazer ‘escolas especiais, para pessoas especiais’, e sim capacitar as escolas e profissionais para proporcionar inclusão. É um absurdo esse pensamento que pessoas com necessidades especiais devem conviver apenas com pessoas da mesma condição”, concluiu a Miss Brasil 2013.
Quem também se pronunciou foi Ivy Faria, filha caçula do ex-jogador Romário, em uma carta aberta que deu o que falar. “Seu ministro da Educação, aqui é a Ivy. Eu estou muito triste com senhor. Sabe, eu tenho síndrome de Down, sou uma pessoa com deficiência, e sou estudante. Estudo para ter um futuro e ajudar o meu país. Eu não atrapalho ninguém. Frequento uma escola regular, onde há jovens com e sem deficiência. Cada um aprende no seu tempo, ninguém é igual”, disse a adolescente, de 16 anos.
Ivy ainda classificou a observação de Milton como “falta de educação”. “Como pode achar que a deficiência torna alguém incapaz de estudar? A deficiência não nos torna incapaz de nada, basta que tenhamos oportunidade”, escreveu a filha do senador. Ela citou que existem muitos profissionais com síndrome de Down se capacitando, graduando e ajudando o país, e fechou seu texto com uma resposta certeira: “Seu ministro, uma criança com deficiência em sala de aula contribui mais com a educação deste país do que o senhor neste ministério”.
Ministro volta a falar do assunto e piora a situação
Após a repercussão negativa, Milton Ribeiro voltou a falar do assunto nesta quinta-feira (19), durante outra entrevista. Desta vez, o ministro da Educação afirmou que há crianças que é “impossível a convivência” apenas por seus graus de deficiência, em mais uma declaração desastrosa e equivocada.
“Nós temos, hoje, 1,3 milhão de crianças com deficiência que estudam nas escolas públicas. Desse total, 12% têm um grau de deficiência que é impossível a convivência. O que o nosso governo fez: em vez de simplesmente jogá-los dentro de uma sala de aula, pelo ‘inclusivismo’, nós estamos criando salas especiais para que essas crianças possam receber o tratamento que merecem e precisam”, afirmou Ribeiro.
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou que há crianças com “um grau de deficiência que é impossível a convivência”.
A declaração foi dada durante uma visita ao Recife, dias depois de dizer que estudantes com deficiência ‘atrapalham o aprendizado de outros alunos’. pic.twitter.com/EXSEnyBBWC
— Fala Nordeste (@nordeste_fala) August 20, 2021
Posteriormente, Milton teve de voltar às redes sociais e pedir desculpas pelo que havia dito. “Inicio pedindo perdão a todos que sentiram-se ofendidos ou constrangidos com a forma como me expressei em relação aos nossos educandos especiais”, escreveu o ministro, no Twitter. “Algumas palavras foram utilizadas de forma não apropriada e não traduzem, adequadamente, o que eu quis expressar. Minha intenção foi referir-me quanto à dificuldade de desenvolvimento adequado de algumas crianças com deficiências em classes comuns”, encerrou ele.
Algumas palavras foram utilizadas de forma não apropriada e não traduzem, adequadamente, o que eu quis expressar. Minha intenção foi referir-me quanto à dificuldade de desenvolvimento adequado de algumas crianças com deficiências em classes comuns. [2/2]
— Milton Ribeiro (@mribeiroMEC) August 19, 2021