Txai Suruí foi a única brasileira a falar na abertura da cúpula do clima, a COP26, de 2021. Com 24 anos, também foi a primeira indígena a discursar na abertura de uma conferência do clima. A jovem não chamou atenção apenas por suas vestes tradicionais, como o cocar de penas coloridas, rodeada de engravatados. Sua postura impressionou muitos ao cobrar agilidade no enfrentamento das mudanças climáticas do planeta. Além disso, fez questão de lembrar a situação dos povos originários perante o aquecimento global. Mas afinal, quem é Txai Suruí?
Filha de Neidinha Suruí, ativista indígena e Almir Suruí, cacique-maior do povo paiter, Txai passou sua infância e adolescência na Floresta Amazônica. Cresceu na reserva 7 de Setembro, em Rondônia, uma área que vive sob ameaça de garimpo ilegal. Na semana passada, durante a COP26, foi a responsável por dar voz aos povos indígenas. O evento ocorreu em Glasgow, na Escócia, e é parte dos projetos da Organização das Nações Unidas (ONU).
Primeiramente, em seu discurso, Txai Suruí cobrou participação dos indígenas nas decisões da cúpula do clima. Além disso, diante de líderes mundiais como Boris Johnson, premiê britânico e Antonio Guterres, secretário-geral da ONU, lembrou o assassinato de seu amigo. Ai Uru-Eu-Wau-Wau morreu lutando contra a extração ilegal de madeira na Floresta Amazônica. Da mesma forma, Txai fez cobranças de agilidade aos líderes quanto ao enfrentamento das questões climáticas: “Não é em 2030 ou 2050”, disse ela. “É agora!”.
Quem é Txai Suruí e o que ela representa
Nesse sentido, a jovem também levantou uma questão importante. Txai Suruí chamou a atenção de todos ao lembrar que povos originários são os que mais sofrem com o aquecimento global. “Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática. Por isso devemos estar no centro das decisões que acontecem aqui”. Contudo, ao terminar seu discurso, chegou a ser abordada por um homem da delegação do Governo brasileiro. “Ele disse para eu não falar mal do Brasil“, comentou ela.
Ainda na COP26, o Brasil anunciou vários planos de contenção de questões climáticas. O país se comprometeu a zerar o desmatamento até 2028, reduzir em 30% suas emissões de metano, bem como ampliou de 43% para 50% a meta de reduzir emissões de gases do efeito estufa até 2030. Da mesma forma, assinou um acordo sobre proteção de florestas. Tal acordo prevê financiamento a povos indígenas para proteger suas terras.
Por outro lado, Txai Suruí recebeu as novidades do país com desconfiança. A jovem diz que o saldo de participação do governo ainda é negativo, já que está mais preocupado com sua imagem e a imagem que passa, “porque isso interfere com a questão comercial”, do que realmente preocupado em colocar as ações em prática. Txai também lembrou que, até então, o governo federal não retirou seu apoio aos projetos de lei que regularizam terras desmatadas, bem como impedem novas demarcações do território indígena.
Resposta do presidente
Contudo, após seu discurso, Txai Suruí ainda foi alvo de ataques do presidente Jair Bolsonaro, que não compareceu ao evento. Bolsonaro não chegou a mencionar Txai diretamente, mas a ativista foi a única brasileira a falar no palco da COP26. Ele critica: “Estão reclamando que eu não fui para Glasgow. Levaram uma índia para lá, para atacar o Brasil. Alguém viu algum alemão atacando a energia fóssil da Alemanha? (…) Ninguém critica o próprio país. É só aqui”. O presidente rebateu o discurso de Txai em frente ao Palácio da Alvorada na semana passada.
Após a fala do presidente, a jovem confessou que passou a receber ataques e ameaças em suas redes sociais. Txai Suruí ainda comenta: “Depois do meu discurso, o presidente Jair Bolsonaro me atacou. Mas eu só vim trazer a realidade dos povos indígenas. Eu estou aqui para uma luta que não é só minha”. A ativista ainda comentou que não vai se intimidar pelas palavras do presidente, e pretende reagir “levando para mais longe” a realidade de luta dos povos indígenas. Segundo ela, as críticas apenas fazem a defesa ecoar mais alto.
“Eles não entendem que isso é favorável para mim”, refletiu Txai Suruí. “Eles estão me dando engajamento, estão fazendo minha voz ecoar cada vez mais. A minha forma de responder é continuar a denunciar o que está acontecendo, e levar cada vez a voz dos povos indígenas para o mundo”. A jovem ainda confessa que não tem medo das ameaças que tem recebido, pois convive com o medo desde que nasceu. Nesse sentido, Txai cresceu em território indígena ameaçado por invasões de garimpeiros e madeireiros.
Txai Suruí e seu clã guerreiro
Quando se fala sobre quem é Txai Suruí, também é preciso entender que a jovem sempre precisou lidar com ameaças externas. Sua mãe, Neidinha Suruí, é voz ativa na denúncia de invasões de terras indígenas. O pai, o cacique-maior Almir Suruí, assinou junto do cacique Raoni uma denúncia contra Bolsonaro por “crimes ambientais num contexto de crimes contra a humanidade”. A queixa foi registrada ao Tribunal Penal Internacional.
Sobre isso, a ativista comenta que, pelo fato de seus pais serem muito corajosos, acredita ter puxado isso deles. “O que meus pais me passaram sobre luta é exatamente essa força, essa coragem, esses ensinamentos de que a gente deve viver em harmonia com a natureza.” Nesse sentido, Txai fala que o povo Paiter Suruí é composto por 4 clãs. “Eu sou do clã Gameby, que é o clã dos guerreiros”.
Com 14 anos, Txai conta que passou um tempo vivendo sob escolta da Força Nacional. “Onde a gente ia, aqueles homens armados estavam do nosso lado”. Além disso, a jovem é estudante do último semestre do curso de Direito, em Porto Velho. Ela é coordenadora do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia, e ainda trabalha na ONG de defesa de direitos indígenas Kanindé. Após o fim da COP26, no dia 12, Txai irá para a Suécia, já que possui uma agenda com parceiros do programa de embaixadores da Z1.