Nesta quinta-feira (21), foram lançados os dois primeiros episódios da série “Pacto Brutal”, que traz detalhes inéditos sobre a morte da atriz Daniella Perez – crime que chocou o país em 1992. No primeiro capítulo da produção, Raul Gazolla deu um depoimento comovente sobre o momento em que viu o corpo da esposa pela primeira vez após seu assassinato. A produção trouxe, ainda, um relato forte sobre o “surto” do ator, após descobrir que Guilherme de Pádua teria sido responsável pelo crime.
Gazolla revelou que descobriu sobre a morte da amada enquanto estava na 16ª DP do Rio de Janeiro, ainda sem saber qualquer detalhe sobre o assassinato. Na cabeça do ator, a pior hipótese era que Daniella havia sido sequestrada. Ele estava acompanhado de Marilu Bueno, atriz que interpretava a mãe de Daniella na novela “De Corpo e Alma”, e que foi a responsável por lhe dar a má notícia. “A Marilu falou: ‘Raul, você tem que ser muito forte, mas a Dani não está mais aqui com a gente’. Aí eu fiquei desesperado, falei: ‘Como assim ela não tá mais aqui com a gente?’”, compartilhou ele.
A confirmação do falecimento da esposa deixou Raul atordoado. Ainda em negação, o ator se dirigiu ao policial responsável por encontrar o carro e o corpo de Perez no local do crime. “Aí eu fui correndo pro policial e falei: ‘O carro tá muito amassado, cara?’. Ele falou: ‘Amassado? Não’. Eu falei: ‘O teto não tá amassado?’ Ele falou: ‘Não’. Eu perguntei: ‘O carro capotou?’ Ele falou: ‘Não’. [Eu disse] ‘O carro tem algum amassado?’. Ele falou: ‘Não, o carro não tem amassado nenhum’. [Então] eu falei: ‘Mataram minha mulher. Mataram minha mulher, cara’”, narrou Raul, com a voz embargada e lágrimas nos olhos. “Que coisa louca aquilo. Aí eu falei: ‘Onde ela está?’. [O policial disse] ‘Não, o senhor não pode ir, o senhor não pode encostar a mão nela…’ Eu falei: ‘Eu não vou encostar a mão. Eu só preciso ver minha mulher’”, recordou.
O local do assassinato era o Recreio dos Bandeirantes que, na época, não era povoado, era escuro e, segundo Rodrigo Perez, irmão da vítima, era “muito assustador”. Gazolla eventualmente se encaminhou até lá para ver por si mesmo o corpo da amada. “Eu aos prantos, desesperado, quando eu olhei o corpo da Dani, parei, olhei pra ela bem sério, e falei: ‘Meu Deus!’. Voltei pro Rodrigo e falei: ‘Rodrigo, não é a Dani’”, detalhou.
A aparente “negação” de Raul causou esperanças no irmão da atriz falecida. “Eu, naquele momento, achei que não fosse ela, que fosse outra pessoa, e me apeguei aquilo. Apesar de ter vivenciado tudo aquilo até aquele momento. Achei que fosse outra pessoa, o Raul viu que eu dei essa viajada”, explicou Perez.
Na sequência, visivelmente abalado, Gazolla explicou o que realmente quis dizer. “Eu falei: ‘Desculpa, irmão. É o corpo da Dani que está ali, mas não é a Dani que está ali’”, disse o artista. Com a voz embargada, Raul continuou o relato. “Nesse dia eu tive certeza de que nós temos alma. Porque tinha um corpo ali que não tinha mais vida, que tinha sido da Daniella. Eu só queria saber o que que aconteceu, que alguém teve que matar a Daniella”, confessou.
Surto de fúria
Segundo o documentário, horas depois, com uma série de indícios, a polícia chegou à conclusão de que Guilherme de Pádua era o principal suspeito. O pai de uma moradora de um condomínio próximo ao local do crime havia visto dois carros parados na estrada erma, e decidiu anotar as placas. Uma delas pertencia à Guilherme. O criminoso, inclusive, tinha adulterado uma das letras da placa, sinal claro de premeditação.
Foi durante o velório de Daniella que Gazolla foi informado sobre o resultado da investigação e, segundo testemunhas, o ator teve um surto de fúria tão intenso que chegou a quebrar a capela do cemitério. “Em determinado momento do velório, a mãe do Raul [Norma Gazolla] chega pra mim e fala: ‘[Alexandre] Frota, você não vai acreditar. A polícia já sabe quem matou a Daniella’. O Gazolla, ele tá sentado. As pessoas, todas saíram, nós fechamos a porta. Ele está sentado, de cabeça baixa. Ele chorava compulsivamente”, contou Alexandre.
“Eu me ajoelhei entre as pernas dele e abracei aqui a barriga dele. O Tony Tornado ficou nas costas dele fazendo uma massagem. E o Maurício Mattar senta de um lado e dá o braço pra ele. Uma outra pessoa [Fábio Assunção] senta aqui e dá o braço pra ele. Então ele estava travado ali. A Norma vem à nossa frente aqui, entre eu e ele e fala pra ele: ‘Filho, a polícia já sabe quem matou a Daniella. Foi o Guilherme de Pádua’. Nessa hora, ele levantou com todos nós”, relembrou o deputado federal.
Outros amigos do casal, entre eles Fábio Assunção, Claudia Raia e Marcela Honigman, também presenciaram o descontrole do esposo de Daniella. “A gente agarrou o Gazolla e ele levantou todo mundo. Uma fúria”, disse Fábio Assunção, um dos presentes no velório. “Ele [Raul] gritava. Gritava de uma maneira assim que, eu me lembro e meu coração parte, sabe?”, emocionou-se Raia. “Ele quebrou a capela inteira. Ele mordia. Tinha uma almofada, uma banco com um almofada, ele mordia, ele gritava”, contou Marcela. “[Raul falou] ‘Eu falei com ele [Guilherme]! Ele teve a pachorra de falar comigo, de ir na delegacia falar comigo!’”, detalhou Maurício Mattar.
De acordo com Frota, após a explosão, Raul acabou perdendo as forças e caiu no chão, em luto, sofrendo pela perda de Perez em posição fetal. “O que veio no meu pensamento, foi: ‘Eu vou mastigar o pescoço desse filho da p*ta. Eu vou mastigar, cara. Não vou nem encostar nele’. Eu virei um bicho. Eu fiquei com muito ódio”, admitiu Gazolla. “Eu sei que não é um bom sentimento, mas não dá pra não ter, [especialmente] naquele momento que você sabe que a sua mulher foi assassinada e você sabe que o assassino era o colega de trabalho dela. Tinha mais coisa dentro desse balaio, não era simplesmente: ‘O colega foi lá e matou ela’. Tinha que ter uma história macabra. E tinha”, lamentou.
O caso
Daniella Perez foi morta com 18 perfurações no corpo em 1992, quando saía de uma gravação da novela “De Corpo e Alma”, da Globo. Os autores do crime foram Guilherme de Pádua, que interpretava Bira – seu par romântico – na mesma trama, e sua então esposa, Paula Thomaz. Na época, ele confessou o homicídio e alegou que matou a colega por “acreditar que seu papel estava sendo reduzido, enquanto a jovem ganhava destaque“.
O ator aguardou o julgamento na prisão e foi condenado em 1997. Em 1999, no entanto, recebeu a liberdade condicional após passar sete anos preso. Depois disso, ele abandonou a carreira artística, e hoje vive como pastor evangélico em Belo Horizonte. Paula, por sua vez, foi condenada a 18 anos e seis meses de prisão. Contudo, a cúmplice passou seis anos presa e teve sua pena convertida para o regime semiaberto. Ela mudou o nome de Paula Thomaz para Paula Nogueira Peixoto.
Assista ao trailer da série documental: