Quase uma semana após ser espancada por uma norte-americana na cidade de Framingham, em Massachusetts, nos Estados Unidos, a brasileira Raissa Garcia contou os traumas que tem enfrentado e quais medidas tomou com medo de futuras agressões. Nesta terça (4), em entrevista ao Estadão, a mulher de 36 anos relembrou em detalhes o ocorrido motivado por xenofobia, e desabafou como gostaria de “esquecer tudo o que aconteceu”.
Raissa já está em casa e conta com a ajuda de advogados para resolver o caso, que também está sendo acompanhado pela Justiça norte-americana. Conforme o relato da brasileira, a agressora, identificada como Michelle Milburn, chegou a ser presa, mas saiu após pagar fiança. “Acho que ela saiu já com a intenção de machucar algum imigrante”, afirmou. A audiência estaria marcada para o dia 13 de junho.
Raissa contou que as intimidações começaram quando elas estavam paradas em uma via, cada uma em seu carro, esperando um trem passar para continuar o trajeto. Foi quando notou a agressora com um celular na mão, gesticulando em sua direção. “Imaginei que ela estivesse falando no telefone. Não dei muita atenção e continuei olhando para frente esperando a cancela abrir”, descreveu. Momentos depois, ela começou a ser agredida verbalmente por Michelle.
“No começo, achei que ela quisesse dizer algo do meu pneu ou do meu carro, mas quando percebi que o celular dela estava apontado para mim, também abaixei o vidro e escutei ela me dizendo: ‘o que você está olhando, sua v*ca?’”, relembrou a brasileira. “Eu disse que isso era um crime e que eu não tinha feito nada, e estava no meu direito”, acrescentou.
De acordo com Raíssa, ela passou a ser ameaçada e teve seu veículo fechado pela americana. “Eu saí do carro e comecei a gravar a placa do carro dela com o meu celular para mostrar para a polícia”, informou. A brasileira apontou que Milburn começou a agredi-la fisicamente, e usou um canivete para intensificar os ferimentos. “Ela (Michelle) gritava a todo momento que nada disso aconteceria por ela ser americana”, recordou. No momento em que percebeu a gravidade da situação, Garcia clamou por ajuda de pessoas que passavam e até gravavam as agressões, mas ninguém interveio ou chamou a polícia.
Raissa falou que ainda não conseguiu retomar sua rotina, muito menos o trabalho de entregadora de mercadorias que exerce nos Estados Unidos. Ela admitiu estar assustada com tudo, e que até trocou de carro para não ser reconhecida. “A única coisa que eu queria era poder fechar os olhos e esquecer tudo o que aconteceu”, desabafou. A mineira disse que não pretende voltar ao Brasil: “Não posso generalizar todas as pessoas dos Estados Unidos só por conta de uma pessoa”.
Já em entrevista ao jornal O Globo, Garcia detalhou seu quadro de saúde. “Estou toda machucada porque, além de tudo, também sofro de fibromialgia crônica. Estou sem condições de trabalhar e meus filhos com medo de ir à escola. A voz daquela mulher ecoa na minha mente o tempo todo falando aquilo que ela repetia para mim. Minha vida não está normal. Ando na rua sentindo que tem alguém me vigiando e falando alguma coisa e, desde aquele dia, não consigo dormir mais”, confessou. “Eu vou me recuperar, sou uma mulher forte. Mas acho que vai demorar muito tempo. Estou tomada por uma sensação de impotência muito grande porque foi uma violência gratuita“, lamentou.
“Ela julgou que eu não era americana. Ela não esperou eu trocar uma palavra sequer. Por que ela chegou a essa conclusão? Porque o meu cabelo é escuro? Porque eu tenho traços indígenas? Sou descendente de índios, sou do Brasil. Tenho muito orgulho de ser brasileira e de ter conseguido chegar sozinha nesse país com dois filhos. Isso ela não vai conseguir tirar de mim”, concluiu.
Siga a Hugo Gloss no Google News e acompanhe nossos destaques