No primeiro episódio do “Linha Direta“, que voltou à programação da Globo nesta quinta-feira (4), testemunhas e sobreviventes falaram sobre o “Caso Eloá“. Enquanto Victor Lopes de Campo detalhou os momentos de terror que viveu no apartamento, Simone Morais Duarte lembrou a reação da família ao descobrir que a menina de 15 anos estava sendo mantida refém pelo ex-namorado, Lindemberg Alves Fernandes. O caso terminou de forma trágica, em 18 de outubro de 2008, com a morte de Eloá.
Depoimento do sobrevivente
Victor Alves estava na casa de Eloá para um trabalho da escola. Segundo ele, os amigos estavam preparando o almoço quando foram surpreendidos pela invasão do sequestrador. “Ele não esperava que a gente estivesse ali, queria pegar ela sozinha. Ele sabia que o Iago e a Nayara eram namorados, e não me conhecia. Foi aí que ele me deu uma coronhada. Eu tinha combinado com meu pai de estar em casa às 17h, não lembro o que a gente ia fazer”, relatou.
Segundo o rapaz, o pai foi o responsável por entrar em contato com os policiais e contar o que estava acontecendo: “Meu pai era bem rígido. Ele ligava e eu não atendia. Quando meu pai chegou no apartamento e tentou arrombar a porta. Quando ele tentou arrombar, o Lindemberg gritou: ‘Nem tenta arrombar a porta senão vou matar todo mundo que está aqui dentro’. Meu pai entrou em desespero e foi atrás da polícia”.
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O jovem também lembrou o momento em que foi solto pelo criminoso, após desmaiar no apartamento. “Só sei que eu acordei com a Eloá me chacoalhando. Ele até falou: ‘Você quer ir embora?’. Eu falei: ‘Eu quero’. Ele ainda falou: ‘Faz uma gracinha pra você ver se eu não dou um monte de tiro nas suas costas’. Eu saí e a primeira pessoa que vi foi meu pai. Bate um alívio por eu ter saído, mas apreensivo porque meus amigos estavam lá”, recordou.
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Mesmo após ser liberado, Victor continuou no local, acompanhando os próximos passos dos policiais. No depoimento, ele lembrou o momento da invasão e o susto com o estado de Eloá, que saiu carregada pelos agentes. “Eu estava na rua, bem em frente. A Nayara saiu primeiro, com a mão no rosto, mas andando. Eu falei: ‘Bom, pelo menos está andando’. Só que a Eloá saiu no colo, sangrando. A gente queria saber a notícia, mas já imaginamos o pior mesmo”, contou. Enquanto Nayara foi atingida no rosto, Eloá foi atingida na virilha e na cabeça.
O rapaz ainda comentou o choque dos amigos com a morte da menina: “Quando saiu a notícia de morte cerebral, que ela só tava viva pelos aparelhos, minha mãe falou: ‘Filho, acho que dessa vez não vai dar certo’. Aí a gente começou a chorar, a família inteira, os amigos”. Assista:
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Descoberta da morte
Simone Morais Duarte, vizinha da família, acompanhou de perto o crime. Os pais e irmãos de Eloá ficaram todo o tempo no apartamento da moça, enquanto a jovem era mantida em cárcere privado. Segundo ela, inicialmente a família não acreditou nas intenções de Lindemberg. “Eu fui até a mãe da Eloá para saber o que estava acontecendo. Ela disse: ‘O Lindemberg prendeu a Eloá dentro do apartamento, mas ele está com a cabeça quente. Isso vai passar, daqui a pouco vai acabar’. Ela ficou na minha casa até o desfecho”, contou.
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Simone também lembrou que Ana Cristina, mãe de Eloá, não imaginou que o ex-genro teria coragem de matar a filha. Ana ainda conversou com o criminoso por telefone, tentando convencê-lo a soltar a menina. “A gente fez uma ligação da minha casa para o apartamento. Ela falava: ‘Liso, solta a minha filha, você é jovem, depois que saírem daí vocês conversam, não faz isso’. E ele gritava: ‘Não, ela só sai daqui morta, se ela não vai ficar comigo, não vai ficar com ninguém’. A Tina chorando e ele gritando do outro lado”, detalhou.
“Dava pra ouvir a Eloá falando: ‘Mãe, calma, ele não vai fazer nada. Ele não tem coragem’. E a Ana falava: ‘Não faz isso, Eloá’. Aí quando ele desligou o telefone, não conseguimos mais falar com ele”, acrescentou.
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A testemunha relembrou o momento em que a família descobriu a gravidade do caso e o estado de saúde de Eloá. “A gente achava que ela tinha levado um tiro na barriga. No meio do caminho falaram no noticiário que ela já estava morta. No hospital foi diferente, eles falaram que ela estava em cirurgia para tirar uma bala alojada na cabeça”, disse.
“A Ana Cristina não sabia ainda e falava assim: ‘Eu estou orando pelo Lindemberg. Porque minha filha só levou um tiro na barriga. Mas ele saiu de lá, bateram nele, ele vai ser judiado e é capaz da população matar ele’. Aí eu falei: ‘Ana, vamos orar pela Eloá agora porque ela precisa de oração’. O filho dela levou ela até o médico, e ele explicou que o caso era grave””, continuou.
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Simone também criticou a atuação da imprensa no caso, que teria feito um “circo” da situação. Com a cobertura intensa da mídia, o criminoso conseguiu acompanhar tudo o que se passava do lado de fora do prédio, inclusive a ação da polícia. “Outra coisa que atrapalhou muito foi a imprensa, que divulgava todos os fatos, todos os dados, item por item do que ia acontecer. Ele estava por dentro de tudo, ficava na televisão assistindo a tudo o que estava acontecendo”, lamentou. “Teve uma noite que nós acordamos com uma mulherada gritando: ‘Ô, Lindemberg, eu vim aqui só pra te ver’. Virou um circo”, acrescentou.
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Desfecho trágico
Eloá teve morte cerebral confirmada no dia 18 de outubro, um dia após a invasão da polícia. O criminoso, em contrapartida, saiu ileso e foi levado pelos policiais. “Lindemberg foi condenado a 98 anos de prisão. Em 2013, o Tribunal de Justiça de SP reduziu a pena para 39 anos de reclusão, menos da metade da primeira. Em 2021, Lindemberg conseguiu o benefício do regime semiaberto, em que o detento pode trabalhar durante o dia e voltar pro presídio durante à noite”, disse Pedro Bial.
“O benefício foi revogado depois de 4 meses porque laudos psiquiátricos provaram que Lindemberg apresenta comportamentos antissociais e agressivos. Hoje Lindemberg está de novo em regime semiaberto. Mas o Ministério Público recorreu e a decisão ainda é esperada”, finalizou.
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