Linha Direta: Vítimas detalham o “Golpe dos Nudes”, que já levou pessoas a tirarem a própria vida; assista

Linha Direta: Vítimas detalham o “Golpe dos Nudes”, que já levou pessoas a tirarem a própria vida; assista


No “Linha Direta” desta quinta-feira (25), o tema foi o “Golpe dos Nudes” – esquema que movimentou mais de R$ 5 milhões de dentro de presídios do Rio Grande do Sul. Os criminosos enviavam fotos de mulheres nuas para as vítimas e, em seguida, pediam dinheiro para manter o segredo e não denunciarem o suposto abuso. Ao longo dos anos, além de separações, o crime causou depressão e até suicídio entre as vítimas.

O primeiro passo é o envio da mensagem inicial, entrando em contato com uma vítima preferencialmente casada ou comprometida, e com mais de 50 anos. Após a demonstração de interesse mútuo, a mulher envia fotos seminua e até completamente nua. Por fim, os demais criminosos entravam em contato com as vítimas se passando por familiares dela, afirmando que a moça era menor de idade, e ameaçando expor o caso.

Para dar veracidade, os criminosos simulavam uma delegacia, criando cenários, e enviavam vídeos para a vítima. Eles também atuavam como policiais corruptos, para pressionar o envio do dinheiro em troca do arquivamento do caso. “Um dia ela mandou solicitação e dois dias depois mandou mensagem“, explicou uma das vítimas.

“Carência afetiva existe bastante. Tinha aquela coisa de mandar foto, né? A gente acaba entrando… Primeiro eram fotos só de lingerie, depois já nua. Eram todos os tipo de foto”, acrescentou outro. Após um tempo de conversa, ele questionou a idade da menina, o que deu início às chantagens: “Perguntei a idade e ela disse 18 anos. Poucos minutos depois, veio uma ligação, de um suposto tio dela, falando que era crime, pois ela era menor de idade”.

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Segundo a vítima, o desespero era maior por causa da própria família. “A gente pensa na família, o que é terrível. A minha família é grande, muito unida e eu jamais queria que eles ficassem sabendo desse assunto. Pra mim eu estava cometendo um crime, a gente se sente culpado. É um desespero muito grande. Não consegue comer, não consegue dormir, não consegue trabalhar direito”, afirmou.

As ameaças aumentam, com vídeos direto da delegacia, ligações de “advogados” e documentos com pedidos de prisão preventiva. Uma das vítimas recorreu a um agiota e vendeu o carro para pagar a quadrilha. “O prejuízo foi de R$ 18 a 20 mil, em um espaço de 15 dias. Todos os dias eles pediam dinheiro. Aí começa a entrar em desespero, porque não tinha mais de onde tirar dinheiro e não queria contar para a família”, disse.

Para as vítimas, a quadrilha também fala que a menina foi internada em uma clínica de reabilitação, por um quadro de depressão, e chega a pedir mais 30 mil reais para custear a suposta hospitalização. Ao final, quando já extorquiu o máximo de dinheiro possível, o golpista diz que a menina acabou cometendo suicídio. Tomados pela culpa, os homens também pensam na pior das hipóteses. “O único sentimento era: ou vou preso, ou tiro a própria vida. Passa tudo pela cabeça, só que preso eu não queria ir para não envergonhar minha família”, contou um deles. “A pessoa que não tem um apoio familiar, ela pode fazer besteira”, completou o outro.

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E isso realmente aconteceu. Eurides Alves Meira, de 65 anos, foi encontrado morto pelo amigo, no sítio onde vivia, após ser mais uma vítima do golpe. “Cheguei aqui e ele estava enforcado. A gente ouviu os áudios pedindo dinheiro. Ele desesperou naquele dia e chegou num ponto que ele fez aquilo. Desesperado por ter se envolvido com uma menor de idade. O policial afirmou que o motivo foi o golpe”, lembrou Jandir de Campos.

Segundo o depoimento do amigo, o idoso tinha se aposentado há três meses e estava “muito feliz”. “Gente que faz tudo por dinheiro. A pessoa chegar num ponto desse é complicado. Tinha se aposentado e estava feliz que ia viver tranquilo“, lamentou.

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Após uma denúncia “coletiva”, os policiais chegaram aos criminosos, dentro dos presídios gaúchos. Em três deles foram apreendidos 83 celulares, 40 chips e 56 cadernos de anotações sobre os golpes, com nomes das vítimas e os valores recebidos. “Era uma quadrilha hierarquizada, tinha divisão de tarefas. A maioria dos líderes está dentro das penitenciárias. Abaixo são os executores diretos, os beneficiários e os destinatários finais”, explicou a delegada Luciane Bertoletti. Bruno Hoffmann e Fernanda Feck, os líderes, seguem presos; ambos foram indiciados por extorsão e associação criminosa.

Ao longo das investigações, a Polícia Civil prendeu 120 pessoas, 99% de todos os criminosos que foram mapeados.  Giliane Lindsai da Silva Abreu, uma das principais integrantes do grupo, segue foragida da Justiça desde setembro de 2021.

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