O “Linha Direta” desta quinta-feira (1º) narrou o desenrolar do caso do “Serial Killer de Curitiba”, uma série de assassinatos de homens gays cometidos por José Tiago Correia Soroka, que ocorreu há bem pouco tempo, durante a pandemia, na capital do Paraná. No programa, a polícia revelou uma corrida contra o tempo para prender o criminoso antes que ele cometesse mais vítimas.
As mortes ocorreram há dois anos, entre os meses de abril e maio de 2021. Com um método próprio, o assassino escolhia suas vítimas por meio de aplicativos de encontro e sites de relacionamento. A primeira delas foi o professor universitário Robson Paim, de 36 anos. Ele foi estrangulado até a morte com a alça de uma bolsa de couro.
Após muitas tentativas de comunicação, a família de Robson foi até a casa do docente e o encontrou morto na cama. A princípio, os pais imaginaram que ele teria tirado a própria vida, contudo, ao analisarem as condições do quarto – muito revirado e com sangue no colchão – concluíram o assassinato e chamaram a polícia.
Ao chegarem no local, as autoridades cogitaram que o caso se tratava de um latrocínio (roubo seguido de morte), já que o carro e outros objetos do jovem tinham sido levados pelo bandido. O enterro de Paim foi realizado no dia do aniversário de sua mãe. “Ele estava preparando uma festa surpresa, mas a surpresa que eu tive foi recebê-lo em um caixão”, relembrou Dirce. “Foi bem difícil, porque era uma data para ser comemorada junto da família e a gente comemorou com todos os familiares, mas velando ele”, completou a mulher.
Esse relato da mãe de uma das vítimas do serial killer de Curitiba p linha direta doeu pic.twitter.com/ONNuJ12A7d
— mel daroit (@megrassmann) June 2, 2023
Mal sabiam eles que esse seria apenas o primeiro crime de uma série de mortes que se seguiu nas próximas semanas. Onze dias depois, em uma terça-feira, ocorreu o segundo assassinato com as mesmas características. A vítima da vez foi um enfermeiro que chegou a tentar lutar contra o homicida, mas terminou vencido.
Orelhas foram cruciais
Os investigadores, então, analisaram o celular do rapaz, encontraram uma troca de mensagens e chegaram a um padrão. O criminoso marcava encontros em sites de relacionamento, ia até a casa das vítimas, simulava o início de uma relação sexual e as sufocava com um mata-leão. Todos homens, jovens e gays.
Em maio, um novo assassinato se sucedeu. Marcos Vinício era médico e foi estrangulado com uma coberta. No entanto, dessa vez, as imagens das câmeras de segurança do prédio conseguiram ajudar a polícia a identificar o culpado. Como os casos aconteceram durante a pandemia, as máscaras de proteção utilizadas na época estavam dificultando o trabalho dos agentes, porém, os investigadores usaram closes das orelhas do suspeito para chegar a uma conclusão. O assassino agora tinha nome.
Na próxima terça-feira, quando aconteceria a próxima morte, a polícia distribuiu imagens do criminoso para as empresas de táxi e carros de aplicativo da região, e recebeu um chamado de um dos motoristas. Eles, então, correram para o endereço, mas chegaram três minutos atrasados.
Vítima que sobreviveu quebra silêncio
Por sorte, o jovem de 27 anos sobreviveu para contar a história e detalhou o modus operandi do assassino. A vítima pediu para não usarem sua imagem no programa, mas não por medo do serial killer, e sim por que a família não aceita sua sexualidade.
“Foi ele que me mandou mensagem primeiro. Aí a gente trocou WhatsApp, trocou nudes e eu passei o meu endereço. Em dez minutos, ele chegou”, narrou. “Ele era muito tímido e educado, mas logo ele me levou para o quarto. Lá, ele me virou de costas, desceu a minha calça e engatou um mata-leão”, continuou, acrescendo que, por alguns segundos, chegou a pensar que o homem tinha fetiches sadomasoquistas.
A partir daí, deu se início a uma luta corporal que poderia terminar em morte. “Eu comecei a lutar com ele, mas eu não tinha voz, eu não conseguia respirar. Eu comecei a ver tudo branco. Foi aí que veio uma voz na minha cabeça: ‘Luta, que você não vai morrer assim‘”, relembrou a vítima.
Ao ver uma mesa de cabeceira do lado da cama, o rapaz chutou o objeto diversas vezes para fazer barulho. Com a distração, Soroka terminou deixando o jovem cair no chão. “De certa forma, o meu corpo me salvou e ele não conseguiu me apagar porque eu era maior que ele“, explicou o sobrevivente. “Mas ele tava gostando da dor que ele tava me causando, dava pra ver isso“, pontuou.
Depois da tentativa frustrada, o comportamento do assassino mudou. “Ele começou a ficar com os olhos arregalados, um sorriso eufórico. Ele parecia um desenho animado, um cartoon“, descreveu. Assista:
Depoimento de sobrevivente do Serial Killer de Curitiba pic.twitter.com/SSVXAcjJxL
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O rapaz conseguiu se soltar. O criminoso arrancou o fio do interfone e fugiu, mas antes disse: “Eu sou como o Coringa. Se você quiser conhecer a minha história, assiste ao filme do Coringa”. Ainda zonzo, o jovem correu até o vizinho e pediu para que ele interfonasse até a portaria para evitar a saída do agressor. No entanto, uma pessoa abriu a garagem para entrar com o carro no prédio, e Soroka conseguiu escapar. Logo depois a polícia chegou ao local.
Depois da falha, os investigadores marcaram uma coletiva de imprensa e divulgaram o retrato do assassino como procurado. Pouco depois, eles encontraram o homem em uma pensão em Capão Raso e o identificaram pela tatuagem.
Assassino assume crimes
No depoimento, Soroka confessou todos os crimes, mas negou que as vítimas tinham sido escolhidas por serem gays. Ele também negou que seria homossexual ou que já tivesse se relacionado com algum homem na vida. Entretanto, as autoridades encontraram um namorado que também sofreu abusos do agressor após os quatro anos que ficaram juntos. Em 2019, depois uma briga, o criminoso foi ao apartamento do homem, o estuprou e gastou todo o seu dinheiro. “Ele estava bem tenso, vermelho, um olhar fixo. Ele arrancou o telefone do gancho e eu pensei que ia morrer. Ele veio pra cima de mim com o fio, mas, do nada, jogou o fio para longe”, relatou a vítima.
🚨VEJA: O depoimento de Soroka, serial killer de Curitiba, mostra a frieza do criminoso em admitir os assassinatos.
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— Railson Lima (@jorn_lima) June 2, 2023
O laudo psiquiátrico mostra que o criminoso foi considerado um psicopata. “O conflito dele é interno. Ele comete crime para tentar lidar com a própria sexualidade. Ele está tentando esconder a homossexualidade dele. Ele está tentando matar no outro aquilo que ele vê nele”, explicou o psicólogo Guilherme Bertassoni.
Dirce Paim, mãe de primeira vítima fatal, fez um apelo ao final do programa. “A homoafetividade sempre existiu, desde o início da humanidade, ela não é uma doença, por isso que ela não tem cura, doente é quem não aceita a condição do outro. O outro deve viver em plenitude, viver aquilo que se é“, declarou, acrescentando que amava o filho incondicionalmente.
José Tiago Correia Soroka foi condenado a mais de 130 anos de prisão com o agravante da homofobia. Seus advogados estão recorrendo da decisão para que o cliente seja internado em um hospital prisional.
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