Nesta semana, a investigação que acompanha uma quadrilha que roubava etiquetas de identificação de malas prendeu 17 pessoas. Elas são suspeitas de participar do esquema que despacha drogas pelo Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, o maior do Brasil. No “Fantástico” deste domingo (23), imagens mostraram uma sequência de crimes, a rotina dos criminosos e quem estava participando. O grupo estava envolvido no caso da troca de malas de Kátyna e Jeanne, as brasileiras que foram presas injustamente na Alemanha.
Uma das presas da quadrilha é Carolina Pennachiotti, de 35 anos. Em uma das gravações, ela apareceu reclamando do “emprego“, que é organizar o tráfico de drogas, e em outra comemora. “Ai, meu pai amado. Acho que vou ter que arrumar um emprego, mano. Esse daqui tá difícil e cansativo”, disse. “Tô saindo aqui do aeroporto. Deu tudo certinho”, vibrou. Ela era funcionária de uma empresa que presta serviços no aeroporto e a Polícia Federal começou a investigá-la em março, após o caso das turistas brasileiras Kátyna e Jeanne na Alemanha. Ela e o grupo tiraram as etiquetas das malas da dupla e passaram para outras com cocaína. Assista:
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No entanto, segundo a Polícia Federal, a troca de bagagens no voo para Alemanha não foi a primeira. Em 23 de outubro de 2022, as imagens mostram um carro chegando ao aeroporto, um homem desce com uma mala cheia de cocaína. Então, Tamiris Zacharias, de 35 anos, entra em cena. Ela era funcionária da Gol Linhas Aéreas e mais uma das acusadas no caso.
Tamiris se encontrou com o homem que carregava uma mala e os dois foram para o balcão de atendimento. Ela fingiu que estava fazendo check-in e nenhum comprovante foi emitido. Assim, a mala com drogas vai para esteira e os dois saem juntos do balcão. O homem vai embora sozinho e ainda não foi identificado, mas o conteúdo foi descoberto quando o voo para Lisboa chegou ao destino.
Havia 43 quilos de cocaína na mala e ninguém no aeroporto recolheu o compartimento. “Recolheram a mala e informaram a gente que uma mala do voo que veio de Guarulhos estava com drogas. Puxamos as imagens do dia”, explicou Felipe Lavareda, delegado da Polícia Federal.
Mais casos
As imagens também registraram outro caso, que aconteceu em 3 de março deste ano, quando criminosos também fizeram envio de cocaína. Zacharias e Carolina são vistas juntas e se separam em um determinado momento. “Eu tô aqui fora. Esperando a Tamiris mandar a bola. Eu tô come fome, mãe. Eu vou demorar mais uns 40 minutos, uma hora, no máximo”, disse Carolina em áudio. Segundo a PF, “mandar a bola” significa despachar a cocaína.
Novamente, Tamiris estava no balcão de check-in quando um homem chega para entregar a mala. As autoridades suspeitam que seja o mesmo homem da filmagem de outubro. O esquema do envio se repetiu, com o despache sem comprovante. O homem vai embora e Carolina sai do aeroporto com Zacharias. Na ocasião, ela enviou outro áudio para a mãe. “Eu tenho que lá pegar 500 conto meu e 500 da Tamiris. De um café que a gente ganhou. E tenho que ir atrás da minha moeda, mãe”, contou. A Polícia Federal apontou que “café” seria um adiantamento pelo crime.
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Depois do check-in, o esquema continua em uma área destinada para as bagagens. Neste momento, mais dois homens atuam na “operação”. Os funcionários Deivd Souza Lima e Pedro Venâncio trocam as etiquetas de identificação de uma bagagem e guarda no bolso da calça. Cerca de 15 minutos depois, a mala despachada por Tamiris surge na esteira. Segundo a polícia, foi neste momento que Pedro colocou a etiqueta furtada na mala com 43 quilos de cocaína.
A droga viajou com destino a Paris, onde dois criminosos tentaram subornar um funcionário do aeroporto. “Tentaram comprar o funcionário do aeroporto, tentaram pagar ele para retirar a mala, mas acabaram presos pela pela polícia francesa. Um brasileiro e um angolano”, detalhou o delegado. No dia seguinte, aconteceu a troca de malas de Kátyna e Jeanne.
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De acordo com Lavareda, os bandidos tomam cuidado ao fazer a troca. “Pra garantir que não vai pro voo errado. Nem sempre todo caminho da mala até o avião é com gente que está dentro do esquema de tráfico”, esclareceu.
Prisões
A PF identificou três criminosos acusados de chefiar a quadrilha do aeroporto. Um deles é Fernando Reis, conhecido como Brutus, que planejou a mentira que Zacharias deveria contar. “Se caso chegar alguém pra perguntar alguma coisa pra ela, fala que ela tava ali e uma pessoa chegou nela e pediu ajuda pra fazer o check-in nesse tal lugar, pra tal lugar. Ela foi e levou lá. Só isso. Foi ajudar, Não conhecia nada”, orientou.
As coordenadas de Brutus não deram certo. Ele, Pedro, Carolina, Tamiris e Deivd foram presos na operação. A defesa de Pennachiotti disse que a prisão é uma “violação das normais legais” e que vai “demonstrar a improcedência das acusações“. Zacharias foi demitida e confessou a participação nos esquemas durante depoimento. As defesas de Deivd e Pedro não quiseram se manifestar, já a de Fernando disse que ele é inocente.
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A Gol informou que desde abril, quando ficou sabendo das investigações, se colocou à disposição da polícia. A empresa também repudiou as ações criminosas.
Kátyna e Jeanne
A dupla ficou presa por 38 dias na Alemanha. O processo ainda não foi encerrado. Para o dominical, elas deram mais detalhes. “Eles ainda estão com nossos celulares, então em poderes de mil euros e as nossas bagagens”, contou Kátyna. “Parece que saímos da cadeia, mas a cadeia não saiu de nós“, desabafou. “Falta segurança nos aeroportos e na fiscalização das companhias aéreas”, disse Jeanne.
“Houve falha na prestação de serviço. Uma vez que você entrega a bagagem para companhia aérea, ela tem que te entregar a bagagem no destino final de forma segura, intacta e garantir que você não está correndo risco de ter sua mala envolvida em um crime”, pontuou Luna Provázio, advogada das brasileiras.
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As duas viajaram pela LATAM e a empresa afirmou que tem colaborado com as autoridades. A LATAM ainda disse que está trabalhando para melhorar a eficiência no manejo de milhões de volumes transportados.
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