Na tarde desta quinta-feira (14), Sabine Boghici, de 49 anos, morreu após cair do quinto andar de um prédio no Leblon, no Rio de Janeiro. A tragédia aconteceu pouco mais de um ano depois que ela foi presa durante a operação “Sol Poente” da Polícia Civil do Rio de Janeiro, por um golpe milionário na mãe de 84 anos.
Segundo informações da Folha de S. Paulo, após a queda, Sabine chegou a ser socorrida pelos bombeiros. Ela foi levada ao hospital, mas não sobreviveu aos ferimentos. O óbito foi constatado logo após sua entrada na unidade de saúde.
Boghici respondia em liberdade ao processo pelo golpe contra a mãe, a idosa Geneviève Boghici. Em agosto do ano passado, Sabine foi presa acusada de cárcere privado, estelionato, roubo, extorsão e associação criminosa contra a idosa, que teria sido convencida por supostas videntes a pagar por um tratamento espiritual que evitaria a morte de Sabine.
Tudo não passava de um esquema durante o qual Geneviève perdeu mais de R$ 9 milhões, distribuídos entre obras de arte – entre elas quadros famosos como o “Sol Poente” de Tarsila do Amaral -, joias e dinheiro. Ao longo do último ano, enquanto respondia pelo processo, Sabine vivia na casa da filha de Rosa Stanesco, sua esposa e, de acordo com a promotoria, cúmplice do crime. Rosa, por sua vez, continua presa. As mulheres eram casadas em comunhão universal de bens, revelou o veículo.
Até o momento, Geneviève não foi notificada sobre a morte de Sabine, afirmou uma fonte próxima à família. O caso está sendo investigado pela polícia.
O crime
De acordo com a denúncia da Promotoria do Rio de Janeiro, o golpe contra Geneviève – viúva de um marchant (negociador de obras de arte) – se estendeu por mais de um ano, entre janeiro de 2020 e abril de 2021. Em um primeiro momento, falsas videntes haviam convencido a idosa de que a vida de Sabine estaria em perigo e, por isso, ela deveria pagar por um tratamento espiritual para evitar sua morte.
Ao longo de duas semanas, Geneviève realizou oito transferências bancárias totalizando R$ 5 milhões. Com o tempo, ela passou a desconfiar que estaria sendo vítima de um golpe. A idosa então se recusou a continuar com os depósitos.
Sabine passou a manter a mãe em cárcere privado no apartamento da família, em Copacabana. Segundo depoimento, a suspeita teria obrigado a idosa a limpar e faxinar a cobertura, bem como cuidar da limpeza das fezes de 20 cachorros que pertenciam à Sabine. Geneviève teria sido mordida por um dos animais certa vez.
Além do trabalho forçado, a idosa ainda teria sido ameaçada pela filha com uma faca para fazer as transferências bancárias para a conta do filho de Rosa Stanesco, que se passou como uma das supostas videntes. Entre as provas reunidas pela polícia, estavam os comprovantes dos depósitos feitas pelas idosa, que totalizaram R$ 9 milhões, um deles no valor de R$ 692 mil.
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Geneviève alegou que, além do dinheiro, a filha e as falsas videntes teriam retirado joias e obras de arte de alto valor de sua residência, com a desculpa de que os objetos precisavam ser benzidos. Um dos quadros levados foi a obra “Sol Poente”, de Tarsila do Amaral, pintada em 1929. O quadro foi encontrado pelos investigadores debaixo de uma cama.
Ao todo, os 16 quadros – entre eles pintura de Alberto Guignard e Di Cavalcanti – foram avaliados em cerca de R$ 709 milhões. Já as joias levadas valeriam R$ 6 milhões, enquanto os pagamentos pelos “trabalhos espirituais” custaram R$ 5 milhões, e as transferências sob ameaça mais de R$ 4 milhões. As obras revendidas por Sabine para uma galeria em São Paulo foram recuperadas, mas os quadros revendidos para o Malba (Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires) permanecem expostos no museu.
Sabine foi libertada em março deste ano, sob a condição de que não se aproximaria da mãe. Com a filha em liberdade, Geneviève entrou na Justiça com uma ação para torná-la indigna da herança. No entanto, a idosa desistiu do processo e continuou a pagar o plano de saúde da filha.
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