O pai do adolescente que matou uma aluna e feriu outras duas na Escola Estadual Sapopemba, na Zona Leste de São Paulo, revelou como descobriu sobre o atentado. Durante uma entrevista divulgada pelo UOL, nesta quinta-feira (26), o homem, que preferiu não se identificar, contou ter acordado com a ligação de uma pessoa questionando se sua arma estava em casa.
O adolescente de 16 anos responsável pelo ataque vinha sendo alvo de bullying e agressões na unidade. Segundo o advogado da família, o responsável pelo atentado e seus pais solicitaram ao poder público para lidar com a questão do bullying, mas não tiveram resposta. No dia 23 de outubro, ele entrou armado na instituição e disparou contra os colegas. Relembre os detalhes, clicando aqui.
De acordo com o pai do jovem, o filho passou o fim de semana em sua casa e teria aproveitado o momento em que ele saiu para trabalhar como entregador de aplicativo – entre 22h de sábado até 5h de domingo – para procurar pelo revólver que estava guardado dentro do baú da cama. Ao deixar o filho na casa da mãe, ele disse ter “sentido uma sensação estranha” ao se despedir do adolescente: “Desci a escada da viela onde ele mora. Aí, ele me deu um abraço e disse: ‘Eu te amo’. Senti um aperto no coração, sabe? A sensação era como se ele quisesse me avisar alguma coisa. Parecia que ele estava se despedindo”.
No dia do atentado, o homem foi surpreendido com um telefonema. “Acordei com a ligação e com a pergunta se eu ainda tinha a arma em casa. Eu falei que sim. Aí, ouvi: ‘Então vê aí, porque acho que o seu filho pegou a sua arma e fez uma besteira na escola. Foi quando percebi que a arma não estava mais onde eu havia guardado. Minha reação foi de desespero”, relembrou.
Em depoimento à policia, o homem contou que comprou a arma em 1994 para sua proteção. Na época, ele considerava seu emprego com corte e religação de água perigoso. A pistola, entretanto, não estava em situação regular, já que não teve recadastramento autorizado no Estatuto do Desarmamento de 2003. Ao comparecer à delegacia na manhã de hoje, o pai do adolescente foi autuado por posse ilegal de arma. “Decidi me apresentar [à polícia] logo após o atentado. Que exemplo eu daria para o meu filho se fugisse e ficasse foragido?”, questionou durante a entrevista.
Ele ainda afirmou que, depois de sair do “emprego de risco”, parou de andar com o artefato na rua. “O cara que me treinou tinha uma arma. Aí, eu acabei adquirindo. Saía com ela na rua durante um ano. Depois, passei a guardar em casa. Não me sentia bem andando armado”, acrescentou. O homem também reforçou que nunca comentou sobre o revólver para o filho e que pensou em se desfazer do objeto diversas vezes, mas não sabia qual seria o procedimento adequado. “Nunca mostrei e nunca falei que tinha uma arma para ele”, disse ele.
Sobre as informações de que o adolescente sofria bullying dos colegas de classe, o pai enfatizou que já tinha entrado em contato com a escola, mas que nada foi feito. “Meu filho sofria bullying na escola e passou por tratamento psicológico, mas falaram que ele não tinha nenhum tipo de distúrbio”, lamentou.
Por fim, ele falou sobre as consequências do ataque em sua vida: “Nunca imaginei que o meu filho pudesse fazer uma coisa dessas. Estou sofrendo com tudo isso, mas a minha dor não é nada perto da dor que a família da menina que faleceu está passando. Fica um sentimento de culpa. Fico pensando no que eu poderia ter feito para evitar essa tragédia. Antes, eu tinha um nome. Agora, sou o pai do atirador. Uma menina estava indo para a escola e a mãe falou, quando passou perto de mim: ‘Sai de perto que esse é o pai do atirador da escola’”. Assista à entrevista na íntegra:
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