[Alerta de conteúdo sensível] A francesa Gisèle Pélicot, que foi drogada pelo marido por 10 anos para que estranhos a estuprassem, contraiu quatro infecções sexualmente transmissíveis (IST’s) em consequência dos abusos. A informação foi confirmada pela perita responsável pela avaliação clínica e ginecológica da mulher durante o quarto dia do julgamento de Dominique Pélicot e mais 50 homens, acusados de serem os autores das violações.
“Ela escapou milagrosamente da contaminação pelo HIV e pelas hepatites B e C, mas contraiu quatro infecções sexualmente transmissíveis, necessitando de tratamento com antibióticos, incluindo um por via intramuscular”, explicou a médica, segundo o g1.
Ela destacou que acompanha Gisèle desde 2020, dois meses após a revelação dos estupros, e ressaltou o sofrimento da vítima ao longo dos últimos anos. “Ela também deve lidar com o sofrimento de seus filhos. Ela se preocupa com as consequências psicológicas e com as consequências em sua relação a sua filha”, pontuou a perita.
Filha do casal testemunha
Nesta sexta-feira (6), foi a vez da filha do casal, Caroline Darian, de 45 anos, testemunhar. Conforme o site, a moça afirmou que Pélicot é “um dos maiores criminosos sexuais dos últimos 20 anos”. Em meio às lágrimas, ela também relembrou o dia em que descobriu os crimes do pai.
“Naquele dia 2 de novembro de 2020, às 20h35, minha vida virou de cabeça para baixo”, confessou. “Minha mãe me disse: ‘Passei quase o dia inteiro na delegacia. Seu pai me drogou para me estuprar com estranhos. Tive que ver as fotos’”, relatou Caroline.
No depoimento, Caroline também confessou a decepção que teve. “Amava meu pai, amava a imagem do homem que eu achava que conhecia. Um homem saudável, amável, respeitado. Descobri que o homem que era meu pai, em que eu tinha total confiança, que achava que era íntegro, que respeitava sua filha, que estava orgulhoso dela e que sempre a havia animado, na verdade havia me fotografado nua sem eu saber”, lamentou.
A filha só tomou conhecimento de suas fotos sem roupa no segundo dia do julgamento, e chorou ao ouvir o que Pélicot tinha feito. Caroline foi ouvida por cerca de 20 minutos pelo Tribunal Criminal de Vaucluse. “É o que chamamos de ponto de inflexão, o início de uma lenta descida ao inferno, e você não tem ideia de quão fundo vai chegar. Ligo para meus irmãos, estamos desamparados, choramos, não entendemos o que está acontecendo com a gente. Sentimos dor, uma dor que eu não desejaria a ninguém”, desabafou.
Em 3 de novembro de 2020, os três filhos se encontraram em Carpentras, diante da polícia, e descobriram que o número de agressores de sua mãe era estimado “entre 30 e 50”. “Sempre lembrarei de David, branco, pálido, e meu irmãozinho Florian afundando [em si]“, descreveu Caroline. Em 2022, ela publicou o livro “E eu parei de te chamar de pai”, sob um pseudônimo que adotou como nome. O lançamento aconteceu em meio ao escândalo que transformou sua vida.
Fotos nuas das noras
A nora de Pélicot também testemunhou em juízo na sexta-feira (6), uma vez que também teve fotos suas tiradas durante o banho sem autorização. Céline, esposa de David, contou que todos estão preocupados com os possíveis crimes cometidos pelo sogro contra os netos, com quem era carinhoso e passava muito tempo a sós.
Segundo a mulher, uma das imagens foi tirada em 2011, e ela aparece nua e grávida de gêmeas. Ainda em depoimento, Céline disse que foi feito um zoom em suas partes íntimas. Ela citou um dia em que seus filhos encontraram Gisèle inconsciente por volta das 11h da manhã, e “tentaram sacudi-la, mas ela não reagiu e só acordou por volta das 17h”. Para a nora, “todos os netos da família perderam sua inocência”.
Os investigadores ainda mostraram fotos de Aurore, ex-companheira de Florian. Vítima de abusos na infância, a moça aparece nas imagens na piscina e nua em um banheiro. Entre elas, aparece uma das partes íntimas do sogro sobre seu maiô com a legenda: “Minha nora imunda”.
“Senti tanta raiva ao ver a falta de respeito com que um ser humano pode ser tratado”, externou Aurore. Ambas pensavam que faziam parte da “família ideal” e “carinhosa”, com um sogro “prestativo”, apesar de seus ataques de raiva ocasionais.
Identidade dos estupradores
Ao final da investigação, 72 homens foram identificados como autores dos 92 estupros registrados em vídeos. Porém, além de Pélicot, apenas 50, com idades entre 26 e 74 anos, foram formalmente reconhecidos e respondem à Justiça. 18 deles estão detidos e os demais comparecem em liberdade ao julgamento, que deve durar quatro meses.
Pélicot assume os crimes
Dominique Pélicot foi acusado de drogar a esposa com tranquilizantes potentes, deixando-a desacordada, e levar homens para que eles pudessem estuprá-la em Mazan, no sul de França, onde o casal morava. Os crimes começaram em 2011, mas se tornaram mais frequentes a partir de 2013. O réu confessou, na terça-feira (3), ser culpado de todas as acusações e pode enfrentar uma pena de até 20 anos de prisão.
As autoridades francesas revelam que Dominique deixava Gisèle dopada, desacordada e à mercê dos “convidados”. Ele não pedia dinheiro em troca das relações sexuais, mas orientava os homens a não usar perfume ou tabaco, além de aquecer as mãos com água quente e tirar a roupa na cozinha, para evitar que itens fossem esquecidos no quarto. Leia a íntegra o depoimento da vítima, clicando aqui.
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