Um dentista de Cachoeira Paulista, no interior de São Paulo, viu a transformação de um sonho de infância em um pesadelo jurídico após recriar uma réplica da Ferrari F-40, sendo processado pela famosa montadora italiana. O caso, que se arrasta desde 2019 na Justiça brasileira, teve novos desdobramentos no início de novembro.
Tudo começou quando José Vitor Estevam Siqueira, fã da escuderia desde criança, decidiu recriar a Ferrari F-40. Lançado em 1987, o modelo foi o último desenvolvido sob supervisão de Enzo Ferrari, fundador da marca, e é considerado um supercarro raro, com apenas cerca de mil unidades no mundo, avaliado em mais de R$ 4 milhões.
Iniciado em 2017, o projeto exigiu tempo e recursos financeiros do entusiasta de ciência e tecnologia. Utilizando o método de “tentativa e erro”, José Vitor conseguiu montar um protótipo do carro italiano com materiais comprados em casas de ferragens e lojas de construção. As chapas foram moldadas no laboratório improvisado nos fundos de sua casa.
“Era um sonho infantil, inocente, eu não imaginei que poderia isso. Eu aceitei como um desafio para mim mesmo e comecei a estudar, investir tempo e dinheiro para que saísse do papel”, contou ele ao g1, em 2019.
Após concluir a réplica, José enfrentava dificuldades financeiras devido a um furto em seu consultório odontológico em 2018, que resultou na perda de todos os equipamentos. Ele, então, decidiu anunciar o carro na internet por R$ 80 mil. “Eu não estava conseguindo pensar na época, estava sem trabalhar. Eu tinha duas opções: uma que era vender a clínica e, a outra, vender o carro. Inicialmente, anunciei o carro, mas duas semanas depois recuei e acabei vendendo, na verdade a clínica. Então apaguei o anúncio”, explicou.
Apesar disso, a Ferrari, zelosa pela exclusividade de sua marca, localizou o anúncio e entrou com uma denúncia à Polícia Civil, pedindo a apreensão do veículo. A montadora argumenta que José utilizou a propriedade intelectual da empresa para obter lucro financeiro.
Atendendo ao pedido da Ferrari, o carro foi apreendido e enviado à perícia, deixando José desolado. Ele fez apelos nas redes sociais, temendo que sua criação fosse destruída. Enquanto isso, a Ferrari destacou que realiza um “pente-fino” no Brasil para combater réplicas e usos não autorizados de sua marca.
No processo, José Vitor pode ser condenado a pagar indenização por lucros cessantes e danos materiais. Além disso, ele foi proibido de fabricar ou vender réplicas de modelos da Ferrari. A montadora também busca ressarcimento financeiro, com uma dívida calculada atualmente em R$ 42,5 mil. No dia 8 de novembro, a Justiça converteu o bloqueio do valor em penhora e bloqueou R$ 887,74 das contas de José Vitor.
Por outro lado, o dentista processou a Ferrari, pedindo R$ 100 mil por danos morais, alegando que sofreu abalos psicológicos devido à exposição pública do caso e à apreensão da réplica. Entretanto, seu pedido foi negado pela Justiça.
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