Passageiros do avião Embraer E-190 da Azerbaijan Airlines, que caiu no Cazaquistão no dia 25 de dezembro, compartilharam detalhes sobre os momentos anteriores ao acidente. Subhonkul Rakhimov e Vafa Shabanova, que estavam a bordo, relataram ter ouvido um grande estrondo antes da queda.
A tragédia ocorreu próximo à cidade de Aktau, no Cazaquistão, após a aeronave desviar de uma área no sul da Rússia onde sistemas de defesa aérea são frequentemente utilizados por Moscou contra drones de ataque ucranianos. Investigadores disseram à Reuters que o voo J2-8243 pode ter sido atingido por um míssil antiaéreo que confundiu o avião com um drone ucraniano. A hipótese inicial de danos causados por pássaros, levantada pela Rússia, foi descartada, pois não explica os estragos observados.
Das 67 pessoas a bordo, 38 morreram e 29 sobreviveram. O voo tinha como destino a cidade de Grozny, na Rússia. Subhonkul descreveu que, ao ouvir os primeiros estrondos, começou a orar e a se preparar para o pior.
“Depois do estrondo, achei que o avião fosse se desintegrar, era óbvio que tinha sido danificado de alguma forma”, relatou durante uma entrevista no hospital. “Era como se estivesse bêbado — não era mais o mesmo avião”, completou.
Vafa Shabanova também relatou o impacto dos barulhos, que ocorreram em sequência. “Fiquei muito assustada”, confessou. Segundo ela, uma comissária orientou que se deslocasse para a parte traseira do avião. Tanto Subhonkul quanto Vafa notaram problemas nos níveis de oxigênio na cabine após as explosões.
Zulfugar Asadov, um dos comissários de bordo, confirmou à Reuters que o pouso em Grozny foi negado devido à neblina. O piloto fez um sobrevoo pela região quando todos ouviram os estrondos vindos de fora da aeronave. “O piloto tinha acabado de levantar o avião quando ouvi um estrondo na asa esquerda. Foram três estrondos”, detalhou Asadov. “Nesse momento, algo bateu em meu braço esquerdo e a cabine perdeu pressão”.
Investigação
Imagens divulgadas no dia 26 mostraram orifícios na cauda do avião, e dados de monitoramento de voo indicaram interferência no GPS, que fez a aeronave oscilar de altitude por mais de uma hora.
Quatro países investigam o caso: Rússia, Cazaquistão, Estados Unidos e Azerbaijão. Inicialmente, a Rússia afirmou que o avião colidiu com pássaros e enfrentou forte neblina, mas a hipótese foi descartada após investigadores indicarem que um sistema de defesa russo disparou contra a aeronave.
Relatos sobre drones ucranianos na região reforçam a teoria de que o avião foi confundido com um drone. Um oficial dos Estados Unidos afirmou que “indicações preliminares” apontam que a aeronave foi atingida por um míssil Pantsir-S, sistema de defesa russo, e teve o GPS paralisado por sistemas de guerra eletrônica ao se aproximar de Grozny.
Fontes confirmaram que o ataque “não foi intencional” e que os militares russos acreditavam estar mirando drones ucranianos. Questionado, o vice-primeiro-ministro do Cazaquistão disse que “não confirma nem nega” a hipótese do míssil russo, enquanto o Kremlin afirmou que “não especulará e aguardará as conclusões de sua própria investigação”.
Ashimbayev Maulen, chefe do Parlamento do Cazaquistão, declarou que as causas da queda permanecem desconhecidas, mas garantiu: “Nenhum desses países está interessado em esconder informações. Todas as informações serão disponibilizadas ao público.”
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