Os primeiros brasileiros deportados dos Estados Unidos logo após a posse do presidente Donald Trump relataram momentos tensos durante a viagem de retorno. Segundo o g1 neste domingo (26), o grupo, que foi algemado e teve os pés acorrentados, pousou no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, na noite de ontem.
Já em solo brasileiro, os deportados relataram agressividade dos agentes de imigração, problemas com alimentação, falhas técnicas e maus-tratos.
Na sexta-feira (24), o voo com 88 brasileiros aterrizou no Aeroporto Internacional de Manaus, ao invés de ir diretamente para Confins. A aeronave parou em Manaus para reabastecer, no entanto, apresentou problemas no ar-condicionado, o que gerou um princípio de tumulto entre os passageiros. “O momento mais difícil foi quando o ar-condicionado estragou no ar, as pessoas começaram a passar mal, alguns desmaiaram e as crianças estavam chorando. As turbinas estavam parando durante o voo, foi desesperador, coisa de filme mesmo”, contou Kaleb Barbosa, de 28 anos, que migrou para o país há seis anos para dar uma vida melhor aos filhos.
Veja:
Depois do pouso em Manaus, as turbinas do avião chegaram a soltar fumaça, segundo o relato de Kaleb. As saídas de emergência foram abertas e os passageiros pediram socorro. Ele também afirmou que, sem a intervenção do governo todos poderiam estar mortos.
Sandra Pereira de Souza, de 36 anos, o marido Alisdete Gonçalves dos Santos, de 49, e os dois filhos pequenos estavam no avião. Ela relatou que a família saiu de casa acreditando que iria para uma reunião com a imigração, mas nunca voltou. Eles só levaram os pertences que tinham em mãos, sem tempo até de pegar uma fralda para o filho. “Um inferno, uma tortura desde que saímos da Louisiana. Deu para perceber que o avião tinha algum problema. Acho que foi uma falta de compromisso deles com os seres humanos, a gente estava morrendo de medo de morrer”, confessou Sandra.
O casal chegou no país há três anos e meio, ilegalmente, mas relatou que cumpria com todas as obrigações com a imigração desde então. Voltar para o Brasil não estava nos planos dos dois, que deixaram uma casa, um carro e uma empresa nos Estados Unidos. No entanto, depois dos desafios enfrentados, relataram que apenas querem reconstruir a vida no Brasil.
Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça e Segurança Pública, determinou a retirada das algemas e solicitou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB). Quatro pessoas já tinham desembarcado em Manaus, e os outros 84 seguiram para Confins.
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Posicionamento do governo brasileiro
O Itamaraty considerou o tratamento dado aos brasileiros como “degradante” e irá se queixar ao governo Trump. A decisão se deu após o chanceler Mauro Vieira se reunir com autoridades militares brasileiras em Manaus para entender melhor os detalhes do caso.
Macaé Evaristo, ministra Direitos Humanos e da Cidadania, considerou “muito graves” as denúncias contra os agentes americanos. O Ministério irá propor um posto de atendimento humanitário em Confins, caso ocorra a escalada de deportação de brasileiros. A pasta também fará um relatório sobre as denúncias, que será encaminhado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
Evaristo revelou que os deportados estão muito cansados, mas o Ministério já registrou o contato de todos. “O nosso posicionamento é que os países podem ter suas políticas imigratórias, mas nunca podemos desrespeitar os direitos humanos. Bem-vindos de volta ao Brasil”, afirmou, em seu perfil do X neste sábado (25). “A gente tinha numa mesma aeronave famílias, crianças, crianças com autismo, com algum tipo de deficiência, que passaram por situações muito graves”, disse.
Confira:
O nosso posicionamento é que os países podem ter suas políticas imigratórias, mas nunca podemos desrespeitar os direitos humanos. Bem vindos de volta ao Brasil.
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— Macaé Evaristo (@MacaeEvaristo) January 26, 2025
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