Maria dos Aflitos, acusada de envolvimento na morte de cinco pessoas de sua própria família por envenenamento, no Piauí, confessou ter assassinado a vizinha Maria Jocilene da Silva ao oferecer a ela um café envenenado. A revelação foi feita durante depoimento e exibida pelo programa Fantástico, da TV Globo.
Segundo o delegado Abimal Silva, a estratégia de Maria dos Aflitos era simular um suicídio para que a culpa pelos homicídios fosse atribuída à vizinha, livrando assim seu marido, Francisco de Assis Pereira da Costa, das acusações. “Ela bebeu o café sem ver”, disse a suspeita sobre Jocilene, que tinha 41 anos.
Jocilene era uma pessoa muito próxima da família. Ela ficou ao lado dos netos da acusada durante o período em que estiveram internados por envenenamento. De acordo com a polícia, ela manteve um relacionamento amoroso com Maria dos Aflitos.
Francisco é apontado como o autor da contaminação do arroz que levou cinco familiares à morte. O Secretário de Segurança Pública do Piauí, Chico Lucas, afirmou que o casal tinha a intenção de “se livrar” da família: “Eles queriam se livrar dos filhos. Era uma situação de muita pobreza”.

Francisco possuía livros nazistas, com vários trechos grifados. Em um deles, havia a orientação de que “venenos deviam ser sem gosto e sem cheiro“. A casa onde tudo aconteceu abrigava 11 pessoas: ele, sua esposa Maria dos Aflitos, os seis filhos dela e três netos. Maria dos Aflitos declarou arrependimento. “Acreditava que ele ia ser solto. Então, eu fiz isso. Mas eu me arrependo. Me arrependo amargamente”, disse ela em depoimento.

Ao ser questionada sobre quem comprou o veneno, Maria apontou: “Pode ter sido ele (Francisco). Acho que ele esqueceu [o veneno] por ali, atrás do fogão”. Na ocasião da morte de Jocilene, uma fala de Maria chamou atenção das autoridades. A conversa foi gravada pelos investigadores. “Não foi envenenamento não. Foi no susto mesmo. Aí ela sentou no sofá dizendo que tava passando mal e eu chorando“, disse. “Desde o primeiro momento, ela já dizia que não se tratava de envenenamento, que era um caso de infarto, sem ninguém perguntar de envenenamento“, observou o delegado. Foi o suficiente para convocá-la a um depoimento. Assista:
Relembre o caso
No dia 1º de janeiro, cinco membros da mesma família foram envenenados após ingerirem arroz contaminado com terbufós, um inseticida altamente tóxico. As vítimas fatais foram Manoel Leandro da Silva, de 18 anos, sua irmã Francisca Maria da Silva, de 32, e os filhos dela: Maria Gabriela da Silva, de 4 anos, Davi Pereira Silva, de 1 ano, e Maria Lauane Fontenele, de 3 anos.
Depoimentos apontam que Francisco desprezava os enteados, o que pode ter motivado o crime. Ele costumava se referir a Francisca com termos como “boba”, “matuta” e “inútil”. Também chamava os filhos dela de “primatas” e demonstrava incômodo com a presença deles na casa.
Segundo as investigações, o acusado manteve sua postura hostil até o fim. Mesmo com Francisca gravemente debilitada no hospital, ele prosseguiu expressando desprezo por ela. Para a polícia, isso reforça que o crime foi premeditado e motivado por raiva.
Em agosto de 2024, Francisca perdeu dois filhos
Um laudo pericial divulgado cinco meses depois indicou que dois meninos da mesma família, mortos em agosto, também foram envenenados com terbufós, a mesma substância usada no arroz contaminado. A descoberta coloca Francisco sob nova suspeita.
“Ainda não há um elemento que o coloque diretamente na cena do crime, mas já há informação de que aquelas crianças teriam ingerido outro alimento que não o caju. Ou seja, há um fato novo e, havendo um fato novo, é preciso que se analise toda essa circunstância”, disse o promotor de Justiça, Silas Sereno Lopes, ao Fantástico.

Inicialmente, a responsabilidade pela morte das crianças era atribuída à vizinha Lucélia Gonçalves, que estava presa desde o ano passado. A hipótese era de que os meninos haviam sido envenenados ao consumir cajus contaminados no quintal dela. No entanto, as novas provas descartam essa versão.
Lucélia foi libertada no dia 13 de janeiro da Penitenciária Feminina de Teresina. Apesar disso, ela não pode retornar para sua antiga casa, pois o imóvel foi incendiado por vizinhos revoltados na época do crime. Na saída da prisão, seu advogado, Sammai Cavalcante, destacou que ela sempre afirmou ser inocente e agora será acolhida por familiares.
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