A TV Globo foi condenada a pagar R$ 500 mil à atriz Roberta Rodrigues por danos morais, após a Justiça do Trabalho reconhecer que ela foi submetida a um ambiente de trabalho marcado por assédio moral e racismo institucional durante as gravações da novela “Nos Tempos do Imperador”. A decisão, assinada pela juíza Aline Gomes Siqueira, do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, foi divulgada pela coluna de Mônica Bergamo na Folha de S. Paulo e ainda pode ser contestada em instâncias superiores.
Segundo o processo, Roberta desenvolveu burnout e precisou se afastar das gravações por três meses devido à situação nos bastidores. A atriz relatou que os artistas negros do elenco recebiam tratamento desigual em comparação aos colegas brancos, o que teria contribuído para seu adoecimento. A Globo negou qualquer prática discriminatória e ressaltou que a atriz continuou trabalhando em outros projetos da emissora após a novela. A empresa reforçou sua política de inclusão e afirmou que não comenta processos judiciais em andamento.
Segundo a jornalista, Roberta reivindicava R$ 10 milhões de indenização, mas a juíza estabeleceu o valor em R$ 500 mil. Seus advogados, Carlos Nicodemos e Cinthia Carvalho, não comentaram a decisão.
Polêmica nos bastidores
A novela, exibida entre 2021 e 2022, enfrentou críticas desde o início por sua abordagem sobre a escravidão, considerada problemática por parte do público. A situação se agravou quando uma cena sugeriu que uma personagem branca teria sido vítima de “racismo reverso”, gerando forte repercussão negativa. A própria autora, Thereza Falcão, reconheceu o erro e pediu desculpas: “Foi péssimo. Pedimos muitas desculpas. Eu mesma quando vi a cena aqui em casa, falei: ‘O que foi isso?’”.
Cena de Nos Tempos do Imperador sugere “racismo reverso” pic.twitter.com/MEK9SK5TPv
— WWLBD
(@whatwouldlbdo) August 24, 2021
Além disso, um áudio divulgado na época mostrou que o diretor artístico da novela, Vinicius Coimbra, reuniu apenas os atores negros do elenco para discutir as críticas direcionadas à produção. Durante a conversa, ele fez um alerta sobre possíveis retaliações: “Assim como você tem a tropa de choque do movimento negro, a [escritora] Djamila [Ribeiro], o [influenciador] AD Junior, você também tem a tropa de choque do movimento branco, entendeu? Que também vão, a qualquer deslize de vocês, vão deslegitimar as reivindicações, os discursos”.
Pouco depois, Coimbra foi demitido da Globo sob a acusação de assédio moral. Em entrevista posterior, ele admitiu falhas estruturais, mas afirmou que sempre buscou combater a segregação. Relembre detalhes, clicando aqui.
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