Margarida Bonetti, 68 anos, conhecida como A Mulher da Casa Abandonada que vive reclusa há mais de 20 anos em uma residência avaliada em R$ 8 milhões em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo, quebrou o silêncio e falou pela primeira vez à televisão. A herdeira comentou sobre sua rotina e as acusações que marcaram sua vida nos últimos anos.
Com o rosto coberto por uma substância branca e atrás das grades da própria casa, Margarida se defendeu publicamente das denúncias de maus-tratos a animais e de manter uma empregada em condições análogas à escravidão. Ela negou todas as acusações e detalhou sua versão sobre o caso que chocou o país.
Ao ser questionada sobre as acusações de maus-tratos a uma funcionária brasileira, quando ela e o ex-marido, Renê Bonetti, moravam nos Estados Unidos, Margarida afirmou: “Não existiu. É mentira! Eu vou falar que eu sou inocente”.
“Fala o que você precisa falar, porque eu estou cansada à beça. Eu acordei muito cedinho hoje. Eu brincava com ela [a ex-funcionária], ela era minha amiga de brincadeira. A gente jogava Queimada, Pega-Varetas… Ela mentia à beça, ela era mentirosa contumaz”, disse Margarida, em entrevista à Lorena Coutinho, da Record TV.

Segundo as investigações, Bonetti é acusada de ter mantido uma funcionária, Hilda dos Santos, em condições análogas à escravidão entre o fim da década de 1970 e o começo dos anos 2000 nos Estados Unidos: “Ela [Hilda] era bem sem-vergonha. Ela dormia com os homens por aí. Eu tinha artrite reumatoide, e eu não tinha a mínima condição. Esse meu ex-marido falou: ‘Vamos para os Estados Unidos só por 1 ano’. Olha só que danado. E de 1 ano, passou para 19 [anos]. Eu não queria ir”.
“Ela [Hilda] tinha um namorado, e a mulher dele descobriu, ela era nordestina e veio com um facão. Então, minha mãe falou: Leva ela [para os EUA], porque aí a mulher não vai encontrar ela, e não vai matar a Hilda’. Foi para salvar a vida dela”, disse Margarida.
Ao ser questionada se a ex-funcionária ficava trancada em um porão, ela respondeu: “Não! O porão brasileiro é uma coisa, o porão americano é outra coisa. Ele era totalmente acarpetado. Não existiu agressão, é mentira”.
Apesar de afirmar que sempre teve uma boa relação com Hilda, Bonetti criticou as atitudes da ex-funcionária ao longo de toda a entrevista: “O Renê estava aqui, e aí ele foi embora. Quando chegou lá [nos EUA], ela não estava lá. Ele ligou e falou: ‘a Hilda foi embora. Ela fugiu, ela sumiu’”. O casal chegou a ser acusado de não pagar salário para a funcionária durante o tempo que ficou fora do Brasil: “Na minha opinião, ele [Renê] foi burro demais. O pai dele, quando ele recebia o dinheiro, tinha conta no nome do meu pai e dela. Isso que é o certo, porque a mulher não sabia escrever, então tinha que ter alguém, sabe?”.

De acordo com o processo, Hilda chegou a ter um tumor no estômago do tamanho de um melão enquanto morava com a família Bonetti, mas, mesmo assim, não foi levada ao hospital. Benê, por sua vez, afirmou que tratava bem a colaboradora. “Ela precisava de dinheiro para qualquer coisa, eu dava. Se precisava de ir ao dentista, eu levava. Se precisava de roupa, a gente comprava. Ela comia o que a gente comia”, disse Benê, anteriormente, à TV Record. Ele foi condenado a seis anos e meio de prisão pelo crime, e cumpriu pena em solo norte-americano.
Margarida, no entanto, falou sobre o tumor de Hilda pela primeira vez: “Não é que ela teve o problema do tal do tumor. Ela já tinha o tumor aqui [no Brasil], meu pai era médico. Ele era médico dela, inclusive. E desde quando morava aqui, ela não queria operar”. O ex-marido de Margarida afirmou que ela brigava constantemente com Hilda.

Sobre a batalha judicial que enfrenta com as duas irmãs, a mulher afirmou que mantém uma boa relação com elas: “Nós não brigamos. Éramos amigas, muito amigas, tá? Então, eu não sei de onde eles tiram isso. Não existe essa história de briga entre as três irmãs, coisa nenhuma”.
Margarida é também conhecida por usar uma máscara branca no rosto. “Tá vendo como eu estou com o rosto branco? É porque eu tenho alergia à luz do sol, à luz noturna… qualquer luz. E se eu ficar sem a proteção, me causa coceira, pinica, arde. Então, eu tenho essa proteção. Essa é uma pomada que eu passo. Uma pessoa que está se escondendo não ia chamar atenção com essa pomada branca”, concluiu.
Assista a entrevista completa:
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