Nesta terça-feira (17), a bailarina clássica Ingrid Silva usou suas redes sociais para relatar um episódio de racismo que sofreu nos Estados Unidos. A integrante do Dance Theatre do Harlem contou que passeava com a família em um parque na cidade de Filadélfia, quando um norte-americano perguntou se ela estava lá para trabalhar como faxineira.
Ela disse que conversava em português com sua filha Laura, de 2 anos, e de repente, foi abordada por um homem. “Um americano, que fala português e estava no parque onde a gente estava, viu eu falando com ela em português, e falou assim: ‘ah, é brasileira? Eu estava no Rio há duas semanas. Nossa, eu adoro o Rio’. Aí eu falei: ‘Eu também sou, você foi para a melhor cidade”, iniciou nos Stories.
Durante o bate-papo, ele perguntou se Ingrid estava morando na Filadélfia, ao que a bailarina negou e explicou: “Estou trabalhando aqui, eu vim para trabalhar”. Foi então que o estadunidense a indagou: “Cleaning? (faxina?) Faxineira?”. “Quando ele falou isso, ele me deixou em choque. Em 14 anos morando em Nova York, eu nunca conversei com alguém que, simplesmente assumisse ou verbalizasse, por eu ser uma mulher preta, que eu estaria limpando”, lamentou ela. “Nada contra as pessoas que limpam, de jeito nenhum, minha mãe foi empregada doméstica, mas eu nunca imaginei que alguém iniciaria uma conversa desta forma”, pontuou.
Ingrid Silva fala sobre racismo que sofreu nos Estados Unidos – Parte 1 pic.twitter.com/qkyzCCU8Ci
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“Eu falei para ele, ‘não, eu sou bailarina clássica’, e a cara dele ficou assim: ‘uau!’ Por que eu não poderia ser uma bailarina clássica?”, questionou Silva. “Olha como o racismo estrutural é louco. Louco não… É tudo estruturado para que as pessoas pretas não tenham oportunidade de crescer ou quando crescem, não sejam vistas desta forma”, explicou ela.
“Mesmo chegando no patamar que eu cheguei hoje em dia, trabalhando com o que eu trabalho, tudo o que eu represento, por eu ser uma mulher preta, foi isso que ele associou. Ele não me associou com uma diretora de uma grande empresa, uma CEO, ou até uma bailarina clássica. Ele ficou surpreso“, expressou.
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Ao final do desabafo, a bailarina fez um pedido para as pessoas brancas que a acompanham nas redes sociais. “Estudem, se eduquem, parem de falar essas merdas, a gente está cansado de ouvir. Sempre revejam a forma que vocês educam seus filhos, como vocês têm esses tipos de diálogo, como vocês ensinam a respeitar o próximo, independente da sua cor, sexualidade, do que a pessoa é”, discursou ela.
“Eu tenho certeza que nessa conversa que eu estava tendo com o cara, que era super descontraída, não tinha nada a ver, e ele não estava se dando conta da merda que ele estava falando. E a gente está por aqui desses erros. Isso meio que arruinou um pouco o meu dia, virou uma coisa que me tirou o chão”, concluiu.
Ingrid Silva fala sobre racismo que sofreu nos Estados Unidos – Parte 5 pic.twitter.com/7AwTd3suGD
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Ingrid é a primeira-bailarina do Dance Theatre do Harlem, uma das principais companhias de ballet dos EUA. Por anos, estudou balé ao lado apenas de pessoas brancas, e passou a tingir sua sapatilha com uma base marrom-escura, já que os calçados eram feitos apenas em cores claras e compatíveis com a pele branca. Somente em 2019, veio a conquista, com a mudança na diversidade da fabricação de sapatilhas.
“Pelos últimos 11 anos, eu sempre pintei a minha sapatilha. E finalmente não vou ter mais que fazer isso! FINALMENTE! É uma sensação de dever cumprido, de revolução feita, viva a diversidade no mundo da dança. E que avanço, viu? Demorou mas chegou!“, celebrou ela na ocasião. Na época, as sapatilhas tingidas de Ingrid entraram para o acervo do Museu Nacional de Arte Africana Smithsonian, nos Estados Unidos. Ela também lançou um livro biográfico, “A sapatilha que mudou meu mundo”
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