Um casal de São José dos Campos foi encontrado morto pelo dono de uma pousada em Monte Verde, Minas Gerais, no sábado (24). Segundo reportagem do g1, desta terça (27), a bomba de água do aquecedor da banheira do chalé estava ligada quando os corpos foram encontrados pelo proprietário do local.
De acordo com nota à imprensa, liberada pela Polícia Militar, a água que alimenta o banheiro, hidromassagem e chuveiro do chalé – que fica nos fundos de uma residência em Monte Verde – é aquecida a gás. A informação foi confirmada pelo dono do local, em depoimento às autoridades.
Segundo o proprietário, que não teve sua identidade divulgada, ele notou que algo estava errado quando o barulho da bomba de água do aquecedor se estendeu por mais tempo do que o comum. Foi então que ele se dirigiu até o chalé, de onde o ruído era originado, e bateu na porta para chamar atenção dos hóspedes, Walther Reis Cleto Junior e Alessandra Aparecida Campos Reis Cleto, mas não obteve sucesso. Na sequência, o proprietário ligou para os celulares do casal, mas também não foi atendido.
No depoimento à PM, o homem contou que, preocupado com a falta de resposta, decidiu usar a chave reserva do chalé para inspecionar o que havia acontecido. Ao entrar no local, ele encontrou Walther e Alessandra desacordados e no chão. A Polícia Civil, no entanto, afirmou que a mulher foi encontrada no chão e o homem deitado na cama. A banheira aquecida estava cheia.
Ainda de acordo com os agentes, a lareira da residência havia sido acesa pelo casal, mas estava apagada quando o dono entrou no espaço. Os corpos do casal não apresentavam sinais de violência ou arrombamento. Os familiares das vítimas suspeitam de intoxicação por monóxido de carbono, um gás altamente tóxico produzido pela queima incompleta de combustível.
O quarto foi usado por mais de 100 casais e até mesmo pelo proprietário, que se hospedou no local na última quarta-feira (21), apenas três dias antes da tragédia.
Investigação em andamento
Desde o dia das mortes, a polícia de Monte Verde tem investigado o caso. Nesta segunda-feira (26), o dono do chalé prestou depoimento à Polícia Civil, que não divulgou outros detalhes das declarações. A corporação afirmou, no entanto, que um exame toxicológico foi colhido e encaminhado ainda ontem para avaliação em Belo Horizonte. O prazo para os resultados é de 10 dias.
A Polícia Civil também reforçou que está apurando as circunstâncias que envolveram o falecimento de Walther e Alessandra, e aguarda a conclusão dos laudos periciais para confirmar a sequência de eventos, bem como a real causa das mortes.
Após repercussão da tragédia, a assessoria de imprensa da Move, Agência de Desenvolvimento de Monte Verde, se manifestou. Em nota, a presidente da agência, Rebecca Wagner, afirmou que o estabelecimento em questão não está cadastrado na lista de acomodações oficiais da entidade.
No entanto, a equipe destacou que o chalé “Aroma de Jasmim” é usado como casa de aluguel e não um meio de hospedagem e negou irregularidade na atividade. “Não é irregular, ele alugou uma casa, ele alugou um chalé. Só que ele exerce a atividade dele como sendo um chalé de aluguel, que é a lei do inquilinato. Ele não é um meio de hospedagem, eles seguem outras diretrizes. Ele não está exercendo uma atividade irregular, ele não está exercendo uma função de prestação de serviço, ele está alugando um chalé”, explicou Wagner.
A agência informou, ainda, que “reforça a orientação aos turistas para buscarem acomodações em estabelecimentos cadastrados nos órgãos reguladores, que exigem uma série de requisitos que garantem a segurança dos hóspedes”.
Segundo diretrizes da própria Move, todo meio de hospedagem precisar ter laudo do Corpo de Bombeiros, autorização da Vigilância Sanitária, CNJP, inscrição municipal e alvará de funcionamento. Os imóveis também precisam estar cadastrados no Ministério do Turismo (Cadastur) – exigências que não são aplicadas a casas de aluguel, que não têm fiscalização ou regulamentação.
A Prefeitura de Camanducaia, município onde se encontra Monte Verde, também deu seu parecer. O secretário de Turismo de Camanducaia, Bruno Alves, confirmou ao g1 que a hospedagem em questão não tem CPNJ e não realizou qualquer cadastro junto aos órgãos oficiais.
O órgão revelou, ainda, que o distrito possui mais de 7 mil leitos de hospedagem, dos quais 95% possuem lareira e sistema de aquecimento. Apesar disso, a cidade nunca registrou um caso parecido com o de Walther e Alessandra. Desde a tragédia, a prefeitura tem ajudado nas investigações e intensificou a fiscalização de hospedagens locais, com o intuito de evitar novos episódios.
Relembre o caso
Walther Reis Cleto Junior, de 51 anos, e Alessandra Aparecida Campos Reis Cleto, de 49, deram entrada no Chalé Aroma de Jasmim na tarde de sexta-feira (23), para passar o fim de semana. Como informado pelo proprietário do estabelecimento, os dois foram vistos pela última vez no início da noite, quando a filha dele levou um saco de lenha até o quarto.
Segundo o boletim de ocorrência, o casal foi encontrado pelo responsável do chalé na manhã de sábado (24), um dia após o check-in. A perícia feita na acomodação aponta que os corpos não tinham sinal de violência e o quarto não tinha evidências de um arrombamento. As causas das mortes de Walther e Alessandra estão sendo investigadas. O casal deixa três filhas.
Os corpos foram encaminhados ao IML (Instituto Médico Legal) de Pouso Alegre (MG). Os dois foram velados no domingo (25), na Urbam, e o enterro ocorreu ontem (26), em São José dos Campos. Nas redes sociais, uma das filhas disse que o caso “foi uma fatalidade“. “Tantos planos, tanta vida pra viver, tantas memórias pra criar com a gente (…). Tá doendo tanto, mas tanto. É uma dor física. (…) Eu amo vocês com todo o meu coração“, escreveu.
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