Em novembro de 2020, a voz do nosso eterno Louro José se calava para sempre. Tom Veiga, que dava vida ao divertido papagaio do “Mais Você”, foi encontrado morto em sua casa, aos 47 anos, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC), segundo relatou o laudo do Instituto Médico Legal (IML). Cinco meses depois, o nome do artista voltou a ocupar as manchetes, agora por conta da disputa judicial protagonizada pelos seus familiares com o intuito de anular o testamento deixado por ele. O imbróglio trouxe à tona detalhes sobre a vida privada do ator, incluindo relatos de agressão, medo da ex-esposa, e até especulações de que ele teria morrido por envenenamento.
A contestação do testamento
No início deste mês, veio a público o testamento deixado por Tom Veiga. Nele, 50% dos bens foram deixados para serem divididos entre seus quatro filhos, e a outra metade ficou para sua ex-esposa, Cybelle Hermínio. A família do ator quer anular o documento por não acreditar que ele tinha o real desejo de deixar algo para Cybelle em seus últimos dias de vida. O casamento durou apenas sete meses, e o testamento foi feito quando os dois ainda estavam juntos, mas em um período bastante delicado.
Segundo o jornal Extra, em maio de 2019, Tom descobriu alguns nódulos no pulmão e decidiu se precaver ao registrar o documento. “Ninguém levou muita fé e disse que era uma bobagem isso. Só soubemos que realmente ele havia lavrado o documento no dia de seu velório”, revelou um amigo para o jornal. A inclusão de Cybelle na partilha não foi vista com bons olhos, já que o rompimento teria se dado de forma desagradável. “Tem muitos áudios e prints dela falando com os advogados dele que era para andarem logo com a papelada do divórcio porque ela queria se livrar dele logo”, contou o informante..
A situação ficou ainda mais estranha para a família ao descobrir que, um mês antes de Veiga e Hermínio assinarem o divórcio, eles estiveram no cartório do 12º Registro Civil de Pessoas Naturais do Rio de Janeiro para fazerem a troca do documento de união estável, que haviam assinado em dezembro de 2019, pela certidão de casamento, com regime de separação total de bens. A cerimônia religiosa tinha acontecido seis meses antes. “Ninguém consegue entender os motivos que levaram Tom a trocar essa documentação. Não tem sentido se casar poucos dias antes de separar”, avaliou um parente, também ouvido pela publicação.
O ator morreu no dia 1º de novembro, quatro dias antes da data marcada para a assinatura da separação. O fim do relacionamento foi divulgado no início do mês de outubro. Uma ação cível está sendo movida pelos filhos de Tom Veiga para provar judicialmente a indignidade de Cybelle como herdeira. Uma outra ação foi aberta para que Amanda, primogênita do artista, seja a inventariante. Já a ex-esposa contesta esse pedido e também requer o direito de cuidar do inventário do ator.
Tom queria tirar Cybelle do testamento
Nesta terça-feira (6), o jornal Extra teve acesso aos áudios enviados por Tom Veiga para um amigo. Neles, o ator pede a companhia do homem para testemunhar uma mudança em seu testamento, retirando o nome da ex-mulher, Cybelle Hemínio da Costa Veiga, do documento. “Pode ir lá comigo para cancelar essa bosta?”, disparou o artista em um trecho do diálogo. As conversas aconteceram nas vésperas da sua morte, entre os dias 29 e 30 de outubro de 2020.
Para o amigo, Tom Veiga explicou que estava com a agenda de compromissos atribulada e, por isso, não conseguiria resolver a questão na sexta-feira (30). Nesta data, inclusive, ele iria acompanhar a instalação do circuito interno de segurança em sua casa. Na semana seguinte, o ator viajaria para São Paulo e combinou com o homem de resolver a questão do testamento quando voltasse. “Fica sossegado. Não pretendo morrer esta semana, não”, teria dito o intérprete de Louro José. Nas mensagens, ele ainda acrescentou que o mesmo advogado que cuidaria de um novo testamento também estava tratando de seu divórcio com Cybelle.
Casamento conturbado
O breve casamento de Tom Veiga e Cybelle Hermínio teria passado por muitas discussões, incluindo agressões físicas. “Eu falei hoje com esse amigo do Tom, que obviamente eu não vou revelar o nome dele, e disse que eles tiveram brigas horríveis. Inclusive de agressão, mas não da parte dele, tá?! Eu tenho até aqui a conversa, ele [Tom] mostrou o corpo cheio de hematomas para os amigos. [Ele falou:] ‘Olha ela me bateu, me machucou’”, afirmou a jornalista Fabíola Reipert durante o programa “Cidade Alerta” nesta terça-feira (6).
A jornalista Fabíola Reipert revela ter entrado em contato com amigo de Tom Veiga: “ele nos mostrou o corpo cheio de hematomas” #CidadeAlerta pic.twitter.com/lJrBAKpRHK
— Cidade Alerta (@cidadealerta) April 6, 2021
Já a coluna do jornalista Leo Dias, do Metrópoles, teve acesso ao depoimento de Josenilde de Cássia Santos Silva, que trabalhou na casa do ator na época em que ele ainda estava casado com Cybelle. Nos relatos, registrados no 15º Serviço Notarial da Barra da Tijuca, no dia 4 de dezembro de 2020, 33 dias após a morte de Veiga, ela detalha uma briga tensa do casal. A funcionária explicou que tinha uma relação muito próxima com o intérprete de Louro José, e por vezes ele confidenciava acontecimentos da sua vida pessoal.
Josenilde definiu a mulher como “muito ciumenta”, razão de grande parte das discussões do casal. A “gota d’água” para o fim do enlace teria acontecido no dia 4 de setembro. A funcionária se lembra de ter deixado os dois em casa durante uma discussão bem acalorada, e quatro dias depois soube do desfecho. “Ao indagar Cybelle, perguntando sobre seu patrão como de costume, Cybelle disse: ‘Só esperei você sair. Dei muito nele. Dei até ele não aguentar mais’”, alegou Silva no depoimento.
Tom Veiga tinha deixado sua casa, e entrou em contato com Josenilde para os dois se encontrarem em segredo e poderem conversar a respeito do que acontecera: “Relatou a ela, com detalhes, a surra que levou e que teve que fugir de casa temendo pela sua vida. Neilton disse a ela que Cybelle só esperou ela sair para agredi-lo verbalmente e fisicamente. Como ele não reagiu às agressões físicas, ela tomou dele a taça de vinho e tacou na parede”.
“Ele, então, entrou em casa e ela foi atrás, batendo nele com toda a vontade. Ele caiu no sofá e ela seguiu batendo nele e dizendo: ‘Reage seu c*zão, reage’. A todo tempo ela dizia que faria ele reagir para então acabar com a carreira dele. Ela também dizia para ligar para o advogado, pois ela queria o divórcio. Ele conseguiu se desvencilhar e retornou para a varanda, quando ela, então, pegou a garrafa de vinho e bateu contra o braço dele. Ele disse a Josenilde que seguiria apanhando sem reagir, pois sabia que ela queria levar o assunto para a mídia”, detalhou os documentos.
De acordo com o depoimento, em seguida, Cybelle teria quebrado a garrafa e partiu para cima de Tom. Neste momento, ele percebeu que sua vida corria risco e fugiu de casa, vestindo apenas um short, sem carteira, documentos, celular. A jornalista Fábia Oliveira, do jornal O Dia, ouviu uma fonte da família que reforçou essa versão da história, e revelou que Veiga buscou refúgio na casa de um grande amigo, o apresentador André Marques. “Ele realmente teve medo de morrer e, depois de ter sido socorrido por amigos próximos, foi para um hotel, onde ficaria até que Cybelle saísse da casa para nunca mais voltar”, contou Josenilde.
Com a saída de Hermínio da casa, o ator retornou e assumiu uma postura de muito medo. Pediu que a funcionária contratasse um chaveiro para trocar as fechaduras da casa e pediu ao condomínio para proibir a entrada da sua então esposa. Josenilde notou que Tom ficou muito inseguro e pediu diversas vezes para que ela dormisse na casa por receito de ficar sozinho. Quando os dois conversavam sobre a briga, ele dizia: “Ela tentou me matar. Ela tentou me matar. Ela ficou um monstro e, eu, uma formiguinha. Se eu não saísse, ela ia acabar com a minha vida. Do jeito que ela estava descontrolada, a vontade dela era acabar com a minha vida”.
Outra medida que reforça essa postura receosa de Tom Veiga foi a instalação das câmeras de segurança em sua casa. O jornal Extra conversou com um amigo do ator, que alegou não entender por qual motivo essa medida foi tomada, já que o condomínio do artista tinha um forte esquema de segurança. “Quando perguntei, ele me disse que estava preocupado com a segurança dele. Insisti em saber o motivo, mas Tom mudou de assunto rapidamente”, relembrou a fonte.
Suspeita de envenenamento
Ainda nesta terça-feira, a coluna de Leo Dias relatou que os familiares de Tom Veiga teriam o intuito de exumar o corpo do ator. Eles estariam desconfiando que o verdadeiro motivo da morte foi envenenamento. Alessandra Veiga, segunda esposa do artista e mãe de dois dos seus filhos, negou que a informação seja verdade. “Não sabemos que família é essa. Porque a nossa, com certeza, não é. Não sabemos de nada disso. Nem eu nem os filhos do Tom, muito menos os irmãos”, garantiu ao jornal Extra.
Alessandra também conversou com a Folha de São Paulo e revelou que tem horas que escuta que as suspeitas de envenenamento partiram da família, e em outros momentos, dos amigos do ator. “Tá muito difícil, cansativo isso”, lamentou.
Em março, Alessandra Veiga concedeu uma entrevista ao Uol e revelou que estava ensaiando uma reconciliação com o ex-marido. “Estávamos conversando por telefone, num relacionamento à distância”, contou a mulher, que atualmente mora nos Estados Unidos. “Eu era uma nova Alessandra e ele era um novo Tom. Ele tinha passado por outras situações e eu também. E ainda não sabíamos se íamos gostar desse novo Tom e dessa nova Alessandra”, analisou.
Na entrevista, ela também rebateu as críticas que recebeu por exigir parte dos bens de Tom Veiga. “Tudo o que tem de bem material, a metade é minha. Porque desde quando a gente se divorciou não resolveu. Não foi dividido. Nada foi dividido”, argumentou. “Chegaram a dizer que a gente ia se casar na semana seguinte [ao falecimento], mas não é verdade. Não se pode marcar um casamento sendo casado”, destacou Alessandra. Os dois foram casados durante 15 anos.