Golpe na USP: Polícia pede prisão preventiva de estudante que desviou quase R$ 1 milhão de formatura

Golpe na USP: Polícia pede prisão preventiva de estudante que desviou quase R$ 1 milhão de formatura


Depoimento

Em depoimento à polícia, em São Paulo, Alícia confirmou ser a responsável por desviar os valores da formatura. Segundo a jovem, ela entendeu que os recursos arrecadados pelos alunos não estavam sendo administrados corretamente pela empresa contratada, mas realizou aplicações ruins e, eventualmente, perdeu o dinheiro.

Desesperada, ela tentou recuperar a quantia fazendo apostas em uma casa lotérica. Alícia afirmou, ainda, que usou parte do montante em benefício próprio, pagando despesas pessoais como aluguel de veículos, apartamento e ainda compra de eletrônicos. Durante o depoimento, ela admitiu que a história que contou aos colegas de que teria investido o dinheiro em um fundo e sofrido um golpe era mentira.

A investigação confirmou, também, que a empresa ÁS Formaturas de fato transferiu quase R$ 1 milhão para a conta bancária da estudante, que era presidente da comissão de formatura da turma 106 da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “Foram feitas diversas movimentações bancárias. Ela conseguiu a transferência da empresa responsável pela formatura para a conta dela”, disse a delegada Zuleika Gonzalez Araujo.

Alícia assumiu a responsabilidade pelo golpe. (Foto: Reprodução)
Alícia assumiu a responsabilidade pelo golpe. (Foto: Reprodução)

Segundo a polícia, a jovem vem de uma família humilde e foi agraciada com condições especiais para participar da festa de formatura. “Os nossos investigadores tiveram contato com a família. Trata-se de família humilde mesmo. Ela conseguiu ingressar no curso com muito esforço, a origem é humilde. Inclusive, o valor pago por cada estudante para empresa na formatura era de R$ 12 mil. Os estudantes que comprovassem uma situação financeira econômica um pouco mais difícil pagariam R$ 6 mil. Ela foi agraciada com essa possibilidade”, revelou a delegada.

Alícia reforçou que agiu sozinha, mas sua namorada também foi intimada a prestar depoimento. A Polícia Civil já confirmou que ela será indiciada por apropriação indébita, crime que tem previsão de pena de até quatro anos de reclusão.

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Festa mantida

No dia 23 de janeiro, a ÁS Formaturas se reuniu com o Procon-SP e decidiu não repassar aos alunos o prejuízo que teve com o desvio de dinheiro. A empresa absorverá a dívida e realizará a festa sem custo extra para os formandos.

Em entrevista coletiva, Guilherme Farid, chefe de gabinete do Procon, afirmou que o contrato entre os alunos e a empresa foi formado em 2019. Entretanto, a pessoa jurídica que comandou a negociação, que fazia parte de uma associação dos formandos, nunca foi registrada. “O contrato foi celebrado entre duas pessoas jurídicas. Mas os alunos teriam que ter criado uma associação, registrado no tabelião de notas e formado pessoa jurídica. Teria representatividade legal”, explicou Farid. Por esse motivo, o negócio teria sido “mal elaborado” e acordado informalmente.

Alícia prestou depoimento e foi indiciada. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Durante a deliberação, foi revelado que dos 100 interessados no evento, quem analisava e decidia sobre os valores era um grupo formado por cerca de 20 pessoas, em comunicações feitas por meio do WhatsApp. A ÁS Formaturas recebeu 15 dias para contatar cada um dos formandos individualmente e apresentar a nova proposta. A ideia é oferecer uma festa bancada pela empresa, com os mesmos fornecedores e estrutura que haviam sido contratados anteriormente.

Caso os alunos aceitem o novo plano, a organização deve levar cerca de um ano até a realização da festa. O processo será acompanhado de perto pelo Procon-SP. Até lá, se forem comprovados problemas relacionados com a empresa, uma multa de até R$ 12 milhões pode ser aplicada.

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Inquéritos

Atualmente, Alicia Dudy Muller Veiga é alvo de dois inquéritos policiais. O primeiro é comandado pelo 16° DP, que investiga crime de apropriação indébita, envolvendo o dinheiro da festa de formatura. Já a Delegacia Especializada em Investigações Criminais (DEIC) de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, apura os crimes de estelionato e lavagem de dinheiro contra uma lotérica.

A polícia trabalha com a hipótese de que o dinheiro usado pela estudante em apostas não pagas, todas feitas no ano passado na lotérica da Zona Sul de São Paulo, poderia integrar o montante destinado à formatura de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

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