Polícia de SC ignorou tentativa de assassinato de agressor de creche em Blumenau contra padrasto, que se revolta

Polícia de SC ignorou tentativa de assassinato de agressor de creche em Blumenau contra padrasto, que se revolta


A investigação sobre o massacre na Creche Cantinho do Bom Pastor, no Vale do Itajaí, em Blumenau, Santa Catarina, trouxe novas descobertas. Segundo informações do UOL, a Polícia Civil não apurou devidamente uma tentativa de assassinato anterior, cometida pelo autor do ataque contra o padrasto, em 2021.

De acordo com o portal, o caso em questão foi registrado pela polícia como “lesão corporal leve”. No entanto, o motoboy de 25 anos tentou assassinar o padrasto com três facadas, deixando a vítima com lesões graves devido às perfurações no pescoço, abdômen e braço. O crime foi relatado em um boletim de ocorrência feito pela Polícia Militar, sem que Polícia Civil ou a perícia fossem acionadas. A informação consta na ocorrência do caso.

“A lesão da vítima foi apenas superficial”, citou o registro, segundo depoimento de agentes que prestaram socorro ao padrasto do agressor. Como “lesão corporal” é considerado um crime de menor gravidade em comparação à “tentativa de homicídio” na lei, a vítima sequer prestou depoimento. O agressor também não foi submetido nem a investigação ou a um julgamento do Estado.

Motoboy tirou a vida de quatro crianças em creche no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, após tentativa de assassinato contra o padrasto. (Foto: Reprodução/G1)

Em entrevista ao portal, o padrasto – que é motorista de aplicativo – revelou ter ficado com uma série de sequelas após a tentativa de homicídio. Além de apresentar o lado direito do corpo enrijecido devido à facada no pescoço, ele também teve um dos rins atingidos. Segundo o homem, ele só ficou sabendo como o caso havia sido registrado na PM na terça-feira (11), quando prestou depoimento pela primeira vez.

Ele disse só ter sido procurado pelas autoridades sobre seu próprio caso após o ataque à creche em Blumenau. “O cara tentou me matar a facadas, mas o caso foi registrado como “lesão corporal leve”. Era para ele ter sido preso. Mas, para a polícia, foi um corte superficial, só um arranhãozinho. Foi humilhante, me senti um Zé Ninguém”, lamentou.

Após o ataque, em 2021, a vítima terminou o relacionamento com a mãe do agressor, mas continuou a ser perseguido. Em dezembro de 2022, ele então registrou um B.O. acusando o criminoso de ter arrombado o portão da sua casa e esfaqueado o cachorro da família.

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O motorista recorreu mais uma vez à polícia após ter seu lar invadido e solicitou uma medida protetiva aos agentes que atenderam a ocorrência. O pedido não foi atendido e, por medo de ser assassinado, o padrasto se mudou de Blumenau para o interior de Santa Catarina.

“Pedi medida protetiva contra ele, mas um policial me falou que isso era só para mulheres vítimas de violência. Como não fui atendido, minha solução foi fugir, porque tinha medo de ser assassinado. Abandonei emprego, família e fui para outra cidade”, confessou o homem. A vítima apontou ter encaminhado provas, incluindo imagens e vídeos, à Polícia Civil catarinense, que mostravam o criminoso rondando sua residência de moto. Ele também informou ter repassado imagens do portão depredado e do cão ferido após ter sido esfaqueado.

Padrasto forneceu provas da tentativa de homicídio às autoridades, mas teve medida protetiva ignorada. (Foto: Reprodução/UOL)
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Omissão das autoridades

A Polícia Civil tem sido questionada sobre falhas na investigação. Até o momento, a corporação não se manifestou sobre o assunto e disse apenas que divulgará mais informações após a conclusão do inquérito do ataque à creche, que será concluído hoje (14). No dia do massacre, o motoboy foi preso preventivamente pelo assassinato de quatro crianças e por ter ferido outras cinco.

Segundo especialistas consultados pelo UOL, “a Polícia Civil e a perícia deveriam ter sido acionadas quando o ataque [ao padrasto] aconteceu”. Além da vítima e do autor do crime, testemunhas deveriam ter sido interrogadas. As autoridades também deveriam procurar por registros em câmeras de segurança no entorno da residência do padrasto.

Por fim, os agentes deveriam ter solicitado os prontuários médicos da vítima e encaminhado a documentação ao IML. Tais medidas teriam sido imprescindíveis para determinar a gravidade do ataque. “Há uma série de equívocos. Não teve perícia, as pessoas não foram ouvidas para depor e não foi dada sequência ao inquérito. Só assim o suspeito poderia responder criminalmente. O Estado foi omisso. Com isso, sujeitou a sociedade a um risco de acontecimentos como o da creche”, avaliou Cássio Thyone Rosa, perito criminal aposentado e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

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