A diretora iraniana Tina Gharavi recebeu críticas pela série “Rainha Cleópatra“, novo projeto da Netflix, que traz a protagonista negra. Neste final de semana, para a Variety, a diretora explicou a escolha da atriz britânica Adele James para o papel principal. A série tem previsão de estreia para o dia 10 de março e traz Jada Pinkett Smith na produção executiva.
Estudiosos egípcios argumentaram que a rainha nascida em Alexandria, no Egito, tinha descendência europeia e não africana. Um advogado local, inclusive, entrou com uma ação e pede que o projeto não seja disponibilizado em seu país. “Por que Cleópatra não deveria ser uma irmã melanizada? E por que algumas pessoas precisam que Cleópatra seja branca? Sua proximidade com a branquitude parece dar-lhe valor, e para alguns egípcios isso parece realmente importar”, disse Tina.
Segundo ela, colocar uma negra como protagonista foi um “ato político”. “Ao fazer a pesquisa, percebi que seria um ato político ver Cleópatra interpretada por uma atriz negra. Para mim, a ideia de que as pessoas erraram tanto antes (historicamente, de Theda Bara a Monica Bellucci, e recentemente, com Angelina Jolie e Gal Gadot concorrendo para interpretá-la) significava que tínhamos que acertar ainda mais”, explicou.
Tina acrescentou que Cleópatra pode ter sido uma mulher negra, principalmente por causa de sua descendência: “A genealogia de Cleópatra foi atribuída em algum momento aos gregos, macedônios e persas. Os fatos conhecidos são que sua família grega-macedônia se casou com a dinastia selêucida da Ásia Ocidental e esteve no Egito por 300 anos. Cleópatra estava a oito gerações desses ancestrais ptolomaicos, tornando a chance de ela ser branca um tanto improvável”.
Para a diretora, a “indignação” dos egípcios com a escolha da atriz pode ser derivada de racismo e de outras representações já feitas. “Talvez não seja apenas porque eu dirigi uma série que retrata Cleópatra como negra, mas porque pedi aos egípcios que se vissem como africanos, e eles estão furiosos comigo. Mas estou bem com isso”, disse.
Elizabeth Taylor foi quem deu vida à famosa rainha do Egito no clássico “Cleópatra”, de 1963. Tina Gharavi explicou que, desta vez, o objetivo era “transmitir não apenas a beleza de Cleópatra, mas também sua força”, e trazer a imagem da rainha para o século XXI.
“Lembro-me de quando criança ver Elizabeth Taylor interpretar Cleópatra. Fiquei cativada, mas mesmo assim, senti que a imagem não estava certa. A pele dela era tão branca assim? Com esta nova produção, eu poderia encontrar as respostas sobre a herança de Cleópatra e libertá-la do estrangulamento que Hollywood colocou sobre sua imagem”, contou.
“O que os historiadores podem confirmar é que é mais provável que Cleópatra se parecesse com Adele James do que com Elizabeth Taylor. Podemos dizer com segurança que Cleópatra era egípcia, [mas] ela não era mais grega ou macedônia do que Rita Wilson ou Jennifer Aniston. Ambas são de uma geração da Grécia”, acrescentou.
Por fim, Gharavi criticou Hollywood por impor uma “supremacia branca” em suas produções. “Então, Cleópatra era negra? Não sabemos ao certo, mas podemos ter certeza de que ela não era branca como Elizabeth Taylor. Precisamos ter uma conversa sobre nosso colorismo e a supremacia branca internalizada com a qual Hollywood nos doutrinou”, concluiu.
Assista ao trailer de “Rainha Cleópatra”:
Siga a Hugo Gloss no Google News e acompanhe nossos destaques