Ex-repórter da Record TV é condenado por importunação sexual e vítimas se manifestam: “Beijou minha boca”

Ex-repórter da Record TV é condenado por importunação sexual e vítimas se manifestam: “Beijou minha boca”


Duas das mulheres que acusaram o ex-jornalista de Record TV, Gérson de Souza, de importunação sexual revelaram qual era a conduta do repórter nos bastidores do “Domingo Espetacular“. Em um depoimento divulgado nesta terça-feira (16) pelo Universa, do Uol, as vítimas falaram pela primeira vez sobre os crimes que ocorreram entre 2010 e 2019.

“Ele abria os dedos em V, sacudindo a língua, imitando sexo oral”, disse uma delas ao portal, sem se identificar. Segundo o relato, a mulher trabalhava na produção da emissora há um ano quando passou a ter contato direto com Gérson. A partir daí, os comentários inapropriados viraram rotina na vida da profissional. “Se eu te pego, você não anda no dia seguinte”, exemplificou a produtora, afirmando que as abordagens continuaram por nove anos. Além disso, as funcionárias afirmaram que Souza tinha o costume de tomar sorvete simulando sexo oral enquanto encarava as colegas.

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A mulher ainda relembrou que o jornalista chegou a beijá-la à força. “Beijou minha boca. Na hora, falei: ‘Meu, você está louco? O que você fez?’ E aí ele respondeu: ‘Roubado é mais gostoso’”, narrou, lamentando que não teve apoio de seus superiores. “Minha chefe respondeu que ele ‘era assim mesmo’ e que era brincadeira. [Disse] que outro dia ele tinha pegado nos peitos dela e que era normal. Que era só dar um corte”, apontou. Ela terminou apelando para o próprio marido, que também tinha um cargo na Record.

O jornalista segue alegando sua inocência no caso (Foto: Reprodução/Instagram)

Além dos assédios, a funcionária enfrentou críticas a qualidade de seu trabalho: “Fui questioná-lo: ‘Gerson, por que você está falando de mim pelas minhas costas? A gente se conhece há tantos anos, por que não vem falar comigo? O que está te incomodando?’ O cara começou a gritar e falar cuspindo na minha cara, me chamando de incompetente”.

Outra profissional também recordou momentos conturbados que viveu com Souza durante os sete anos que trabalharam juntos. “Apertava o braço e dizia que gostava [dessa parte] porque parecia pele da bunda. Essa era clássica. Acontecia em plena luz do dia e na frente de todo mundo”, denunciou a mulher. Segundo as produtoras, o jornalista recebeu o apelido de “Gerson Mayer”, em referência ao ator José Mayer, acusado de assediar uma figurinista da TV Globo em 2017.

A situação só foi resolvida quando as mulheres tomaram coragem de denunciar Gérson para o RH da empresa. “É muito difícil reagir a um assédio e entender na hora o que está acontecendo. Você não quer arrumar um problema no ambiente profissional”, explicou uma das vítimas, relembrando os olhares tortos que recebeu após a divulgação do caso. Dias depois, uma van da emissora levou um grupo de funcionários para prestar depoimento na delegacia como testemunhas.

Gérson de Souza em reportagem do “Domingo Espetacular” (Foto: Reprodução/Instagram)

“Passei cinco meses dentro daquela redação, trabalhando com pessoas que não falavam comigo, escutando mulheres me desacreditando e homens me chamando de vagabunda, bandoleira, louca. Vi meu nome de jornalista conceituada virando ‘a mulher filha da put*’ que denunciou o Gérson”, disse. Para a outra, a situação “ficou totalmente insustentável” e “um grande caos”. Ela acrescentou: “Uma guerra deles contra nós”.

Em maio de 2019, Souza foi afastado da empresa. Em outubro, quando virou réu na Justiça, ele foi demitido. Agora, o jornalista foi condenado em primeira instância a dois anos e meio de prisão por importunar sexualmente colegas mulheres. Contudo, a pena de prisão do foi convertida em prestação de serviços comunitários e multa de dez salários mínimos, cerca de R$ 13 mil.

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Gérson nega as acusações

Logo após a primeira denúncia, Gérson de Souza chegou a se pronunciar através do Instagram, alegando que as acusações não eram verdadeiras. “Confio no trabalho da polícia para esclarecer os fatos. Em respeito à minha família e ao trabalho policial, só me manifestarei por intermédio de meus advogados”, escreveu.

A defesa de Souza continua negando os assédios. “Não há uma prova sequer que corrobore essas alegações”, disse a advogada Beatriz Esteves ao portal. Ela afirma que as mulheres agiram “com nítido objetivo de vingança”.

No entanto, a juíza responsável pelo caso ouviu outras 20 testemunhas e concluiu que os comentários do repórter mostram “sua vontade consciente de praticar atos libidinosos”. A advogada entrou com recurso no Tribunal de Justiça de São Paulo.

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