Um grupo de estudantes do Colégio Santo Agostinho da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, teria usado inteligência artificial para criar nudes falsas de pelo menos 20 alunas da instituição e espalhado as montagens em grupos do WhatsApp. Segundo informações divulgadas pela Polícia Civil nesta quarta-feira (1º), a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) instaurou um inquérito do caso após denúncias dos pais das jovens.
Os suspeitos são alunos do 7º ao 9º ano do Ensino Fundamental que teriam baixado um aplicativo para remover as roupas de fotos das jovens que foram postadas nas redes sociais. Em seguida, eles teriam enviado as montagens pelo aplicativo de mensagens. De acordo com O Globo, as vítimas seriam alunas do 9º ano, com idades entre 14 e 16 anos.
“A Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) instaurou procedimento para apurar os fatos. Todos os envolvidos estão sendo chamados para serem ouvidos na especializada. Diligências seguem para identificar a autoria do crime e esclarecer o caso”, afirmou a Polícia Civil em nota.
A direção do Colégio Santo Agostinho enviou um comunicado para os pais e responsáveis em que lamentou o ocorrido e divulgou uma nota de esclarecimento à imprensa. “O Colégio Santo Agostinho tomou conhecimento de que fotos alteradas de alguns de nossos alunos foram divulgadas por meio de aplicativos de troca de mensagens”, iniciou.
“Como escola, atuamos no âmbito preventivo, promovendo a conscientização de atitudes e valores, a formação em assuntos ligados aos relacionamentos, convivência e violência, e intensificamos os momentos de rotina escolar para o aprendizado de algumas situações e desafios”, pontuou.
“Informamos que o Colégio está tomando todas as medidas necessárias à apuração cautelosa dos fatos e está adotando as medidas previstas no Regimento Escolar. Sabemos de nossa missão na educação e na formação integral dos nossos alunos, bem como sabemos da confiança de todos em nosso Colégio”, garantiu.
Em entrevista ao O Globo, a mãe de uma das vítimas afirmou que um dos alunos que seria responsável pela divulgação das imagens disse que não seria punido “porque é branco e rico”. “As fotos começaram a ser divulgadas na última sexta-feira. No entanto, não fizeram nada quando souberam. O sentimento é de impunidade. A minha filha descobriu a dela no início da semana. As meninas estão tendo crise de ansiedade e chorando”, contou a mãe que não foi identificada.
“Elas estão em semana de provas e não conseguem focar nos estudos. Esses alunos continuam na mesma sala delas e elas estão tendo que conviver. Eles tiram sarro da situação. Eu soube que um deles afirmou que não seria punido ‘porque é branco e rico’, então não aconteceria nada. Eles sabem que é errado, são instruídos, mas parecem não temer”, revelou.
Segundo a mães, as jovens e seus pais estão preocupados com o uso dessas imagens em plataformas de conteúdo adulto. “Na internet, nós acabamos perdendo o controle das coisas. Não sei onde essa foto da minha filha foi parar. Ela terá que guardar para sempre o registro de ocorrência. Hoje em dia eles conseguem fazer até vídeos. No futuro, alguém do trabalho dela pode receber alguma gravação ou foto e achar que realmente é ela. Como ela ficará? Ela precisa de provas que mostrem que ela não está vendendo conteúdo adulto ou algo do tipo”, disse ela.
“Estamos correndo atrás de justiça porque não queremos que as nossas filhas aprendam a ficar caladas nessas situações. Ela, como mulher, precisa e merece ter voz. Essas violações dos corpos femininos não podem ser normalizadas”, ressaltou a mãe.
Investigações
A Polícia Civil do Rio de Janeiro já identificou parte dos adolescentes envolvidos no caso. Ao Estadão, o delegado da DPCA do Rio de Janeiro, Marcus Braga, disse que a partir de segunda-feira (6) serão ouvidas novas vítimas, alguns dos suspeitos de produzir as falsas nudes e funcionários do colégio.
“O foco da DPCA nesse momento são os menores infratores, os adolescentes. Já temos alguns identificados”, afirmou o delegado. Ele não especificou a quantidade de suspeitos identificados nem o perfil deles. Ainda de acordo com Braga, os envolvidos serão tratados como menores infratores e a apuração será conduzida de forma rigorosa.
“Já foram ouvidos vários pais, vários documentos estão sendo produzidos. Na segunda-feira a gente começa a ouvir as pessoas do colégio, o diretor, os envolvidos, os professores, e a gente começa a ampliar a investigação. Estamos tratando como um crime grave, que precisa de uma apuração forte da polícia civil para dar uma resposta”, declarou.
O delegado ainda explicou que, como os suspeitos são menores de idade, eles devem responder por ato infracional previsto no artigo 241-C do Estatuto da Criança e do Adolescente, que pune “simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual”. A pena nestes casos é de um a três anos de reclusão e multa.
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