Gypsy Rose Blanchard segue compartilhando detalhes da época em que sofria uma série de abusos de sua mãe, Dee Dee Blanchard. A norte-americana foi solta esta semana após cumprir oito anos de prisão pelo assassinato da sua genitora. Em entrevista à People publicada neste domingo (31), Gypsy revelou qual foi a cirurgia mais dolorosa que a mãe a obrigou a fazer.
Entre os abusos cometidos por Dee Dee estava o fato de que ela submetia a filha a passar por procedimentos médicos desnecessários com a justificativa de que Gypsy tinha várias doenças. De acordo com a mulher, a cirurgia mais difícil pela qual ela passou foi a de remover duas glândulas salivares atrás do seu pescoço.
A norte-americana explicou que não respondeu bem à anestesia, o que fez com que todo o processo de recuperação fosse muito difícil. “Até hoje, isso me deixou com os efeitos colaterais de ter que pigarrear o tempo todo. Então estou sempre [pigarreando], se você me ouvir, isso é uma coisa constante que tenho feito desde então. E isso irrita muito as pessoas”, afirmou ela.
Segundo Gypsy, sua intenção não é incomodar ninguém. “É porque minha saliva é muito espessa e por isso estou sempre tendo que pigarrear. Então tem sido um efeito colateral negativo para mim. E a razão pela qual fiz aquela cirurgia é porque minha mãe colocou [gel para alívio na dentição] na minha gengiva para me fazer babar na consulta e reclamar com o médico que [eu babo] demais”, disse.
Ela ainda contou que chegou a questionar a mãe sobre a cirurgia, mas a reação de Dee Dee não foi boa. “Ela ficava muito, muito chateada comigo e começava a me manipular de uma forma que tiraria de mim o seu amor”, explicou.
Agora em liberdade condicional, Gypsy criou contas nas redes sociais, inclusive no TikTok. Neste domingo (31), ela postou um vídeo na plataforma para marcar o seu retorno. “Eu estou finalmente livre! Gostaria de mandar um vídeo rápido para agradecer todo mundo pelo grande apoio que tenho recebido através das redes sociais. Todos tem sido muito, muito legais e dado suporte. Eu realmente aprecio isso”, declarou ela.
@gypsyroseblanchard727 #ThePrisonConfessionsOfGypsyRoseBlanchard #releasedconversationsontheeveoffreedom ♬ original sound – Gypsy Rose Blanchard
Relembre o caso
Quando Gypsy tinha 7 anos, Dee Dee alegou falsamente que sua filha sofria de inúmeras doenças. Uma delas era a distrofia muscular, que, segundo Dee Dee, exigia que Gypsy usasse uma cadeira de rodas, embora a menina conseguisse andar sem problemas. Em seguida vieram tubos de alimentação dolorosos e desnecessários e a alegação de que Gypsy tinha leucemia, razão pela qual Dee Dee raspou a cabeça de Gypsy. Dee Dee enganou amigos e familiares, fazendo-os acreditar que as doenças eram reais e enganou os médicos para que as diagnosticassem e tratassem.
A própria Gypsy passou anos no escuro: “Obviamente eu sabia que podia andar e não precisava de sonda de alimentação, mas todo o resto era uma grande confusão para mim”. Sobre seu diagnóstico de epilepsia, ela afirmou que era enganada por Dee Dee constantemente: “Sempre que eu a questionava, minha mãe dizia que eu ‘tive uma convulsão na noite anterior e não me lembrava’. Sempre havia uma desculpa”.
“Eu expressava preocupações, dizendo: ‘Eu realmente sinto que não preciso disso’, e ela ficava muito, muito chateada comigo e começava a me manipular”, detalhou Gypsy. Nos primeiros anos, para fazer com que Gypsy obedecesse, “ela dizia ‘Se você se sair bem no hospital, então iremos à Toys ‘R’ Us comprar uma nova Barbie’”.
A situação se agravou ainda mais quando Gypsy teve o contato com outras pessoas totalmente cortado. Ela nunca foi matriculada na escola e também foi impedida pela mãe de conviver com seu pai, Rod, sua madrasta Christie e seus meio-irmãos. “Eu estava limitada no que podia assistir e na exposição que tinha a outras crianças. O que eu conhecia do mundo exterior estava apenas nos filmes da Disney e eles não falam sobre sinais de alerta de pais ruins”, disse ela.
Foi na adolescência que Gypsy se rebelou contra os abusos e a relação com a mãe se tornou violenta. “Eu tentei o meu melhor para ser respeitosa, mas às vezes era difícil. Ela me chamava de coisas como vadia, vagabunda etc. (…) Dee Dee começou a me bater, socar e dar tapas para conseguir o que queria. Era muito semelhante a um tipo de relacionamento de violência doméstica. Contanto que você seja complacente, está tudo bem. A contrarie, e então será ruim”, relembrou.
O assassinato
Na conversa com a People, Gypsy Rose revelou que decidiu matar a mãe depois de uma tentativa de fuga frustrada. Com mais um procedimento médico desnecessário marcado, este em sua laringe, a jovem decidiu sair de casa. Entretanto, ela foi encontrada horas depois. “Eu simplesmente não estava aceitando. Ela me encontrou, me trouxe de volta e preparou a papelada dizendo que eu era incompetente e que ela tinha uma procuração sobre mim”, contou.
Sentindo-se encurralada, ela tentou colocar um fim na situação. “Eu estava tentando muito descobrir outra maneira. Foi quando houve uma conversa entre mim e meu co-réu Nick”, disse, referindo-se ao rapaz que conheceu em um site de namoro online. “Ele disse: ‘Eu faria qualquer coisa para proteger você’. Eu disse: ‘Qualquer coisa?’. Ele disse sim’”, detalhou.
Ao contrário de Gypsy, Nicholas Godejohn foi condenado à prisão perpétua por desferir o ataque mortal. Recentemente, ele disse em depoimento que “[mataria] de novo se isso significasse salvar Gypsy”. A jovem, por sua vez, passou por anos de reflexão e terapia e concluiu que a mãe não merecia a morte.
“Ela não merecia isso. Ela era uma mulher doente e, infelizmente, eu não fui educada o suficiente para ver isso. Ela merecia estar onde eu estou, sentada na prisão cumprindo pena por comportamento criminoso”, observou. À medida que sua liberdade se aproxima, ela disse que ainda está processando seu passado. “É uma jornada. Ainda estou realmente tentando chegar a um ponto de perdão por ela, por mim e pela situação. Eu ainda amo minha mãe. E estou começando a entender que era algo que talvez estivesse fora de controle dela, como um viciado com impulso. Isso me ajuda a lidar e aceitar o que aconteceu”, refletiu.
Como forma de alertar outras pessoas, Gypsy pretende contar sua história real na série documental “The Prison Confessions of Gypsy Rose Blanchard” (As confissões de prisão de Gypsy Rose Blanchard), que estreia em 5 de janeiro, no canal norte-americano Lifetime. “Quero ter certeza de que as pessoas em relacionamentos abusivos não recorram ao assassinato. Pode parecer que todas as vias estão fechadas, mas há sempre outra maneira. Faça qualquer coisa, mas não tome esta atitude”, finalizou. Assista ao trailer abaixo:
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