Uma mulher de 46 anos foi encontrada morta em sua casa no bairro do Pina, Zona Sul do Recife, poucas horas após ter se submetido a um procedimento de “harmonização de bumbum”. Adriana Barros Lima Laurentino realizou o procedimento no sábado (10), com o médico Marcelo Alves Vasconcelos na clínica Bodyplastia. A harmonização envolveu o uso de polimetilmetacrilato (PMMA), uma substância sintética comumente usada em intervenções estéticas.
Segundo relato de Rita de Cássia Barros, prima da vítima, à TV Globo, Adriana era uma pessoa saudável, que se exercitava regularmente e não tinha histórico de problemas de saúde significativos. Após o procedimento, Adriana queixou-se de dores intensas e acabou falecendo de choque séptico e infecção no trato urinário, conforme indicado no atestado de óbito.
“Como uma pessoa em plena saúde, após um procedimento, em poucas horas, acaba morrendo? A gente está sofrendo muito. O filho dela é muito grudado com ela, ele está em choque. […] Era uma pessoa que estava cheia de sonhos, se cuidando. É um procedimento caro e que acabou com a vida da minha prima”, comentou Rita.
O Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) realizou uma fiscalização emergencial na clínica e descobriu que o Dr. Marcelo Alves Vasconcelos não possui registro no órgão. Além disso, o local onde o procedimento foi realizado foi considerado inadequado para tal intervenção.
A família descobriu os detalhes do procedimento ao acessar o celular da mulher após sua morte. Mensagens entre Adriana e a clínica mostraram que o estabelecimento cobrava R$60 por mililitro de PMMA, com a aplicação variando de 180 ml a 840 ml – o que poderia custar entre R$10.900 e R$50.400. Embora as conversas não especificassem explicitamente que o preenchedor era PMMA, tanto o site da clínica quanto as postagens no Instagram do médico mencionavam o uso dessa substância.
Em defesa, o médico Marcelo Vasconcelos, por meio de seus advogados, alegou que “não há nexo de causalidade entre o procedimento e a morte” de Adriana: “Não pode divulgar detalhes sobre o procedimento, tendo em vista o sigilo profissional que é imposto ao médico pelo Código de Ética Médica”; “Todas as pacientes do Dr. Marcelo assinam um termo de consentimento livre e esclarecido para a possibilidade de ocorrer um evento adverso”; “A paciente não tinha qualquer comorbidade ou contraindicação para o procedimento realizado, quer seja bioplastia glútea, sendo todas as etapas do procedimento cuidadosamente planejadas e executadas, seguindo os mais rigorosos padrões de segurança e qualidade”; “Ao que consta, a paciente foi vitimizada por uma fatalidade, que nada tem a ver com qualquer falha da profissional”.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica expressou preocupação com o uso de PMMA, tendo recomendado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a proibição da substância em novembro de 2024, devido aos riscos associados, como formação de nódulos, granulomas, processos inflamatórios crônicos, embolias, necroses teciduais, infecções persistentes, hipercalcemia, insuficiência renal, deformidades irreversíveis e até mortes.
Segundo Rita, a família de Adriana não recebeu suporte da clínica após o incidente. “A gente tentou entrar em contato, não teve apoio. A gente não sabe se teve horas de observação lá, se fez exames. A gente só quer respostas. A gente tentou ligar logo no dia que a gente encontrou [Adriana morta], mas não atenderam. Foi uma dor gigante”, lamentou.
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