A Polícia Civil concluiu que não houve crime na troca de bebês ocorrida no Hospital da Mulher de Inhumas (GO), em novembro. Segundo O Popular nesta quinta-feira (27), o inquérito aponta que a identificação foi feita corretamente, mas houve erro de uma técnica de enfermagem ao entregá-los. O delegado Miguel da Mota Leite Filho afirmou que a falha “não pode ser enquadrada dentro de alguma tipificação no Código Penal”.
Depoimentos e fotos comprovaram que os bebês saíram identificados do centro cirúrgico. A avó de um deles relatou que recebeu o neto de uma técnica de enfermagem e notou que, após a troca, a profissional frequentou seu comércio por um mês, comprando um único pão e perguntando sobre a criança. Em depoimento, a técnica, de 47 anos, deu respostas “confusas e desconexas”, negando lembrar do ocorrido e de ter ido ao comércio. Durante a oitiva, discutiu com o delegado sobre o uso dos termos “se lembrar” e “conhecia”. “A senhora não lembra de nada, né?”, questionou ele.
O caso veio à tona após Yasmin Kessia da Silva, 23, e Cláudio Alves, 30, descobrirem, por meio de exame de DNA, que o bebê que criavam não era seu filho biológico. Durante o processo de separação, Cláudio desconfiou da paternidade devido à aparência da criança. Yasmin decidiu fazer o teste e concluiu: “Se não fosse filho do Cláudio, também não era meu”. Investigando, o casal encontrou Isamara Cristina Mendanha, 26, e Guilherme Luiz de Souza Silva, 28, cujos bebês nasceram com 14 minutos de diferença. Após novo exame, confirmou-se a troca.
A Polícia Civil não esclareceu como as pulseiras de identificação foram removidas. Fotos sugerem que um dos bebês foi entregue sem a pulseira, mas a técnica de enfermagem negou erro. O delegado solicitou a quebra de sigilo telefônico da profissional, mas a Justiça negou o pedido. O promotor Maurício Alexandre Gebrim afirmou que, apesar do transtorno, a Polícia Civil não conseguiu apontar indícios de crime.
“O que ocorreu foram transtornos muito lamentáveis trazidos pela troca de bebês, não havendo prática de crime em virtude da ausência de previsão legal que o tipifica, não podendo tal questão ser resolvida no âmbito criminal”, escreveu o promotor.
No relatório, o delegado concluiu que a troca ocorreu no berçário e “certamente foi perpetrada” pela técnica de enfermagem, mas por razões desconhecidas. “Houve a correta identificação, tendo havido apenas a troca dos neonatos no berçário. Ante o exposto, considerando a ausência de tipificação legal do fato ora investigado e o esgotamento dos meios possíveis de investigação, determino sua remessa ao Poder Judiciário, ocasião em que sugiro o seu arquivamento”, pontuou.

Yasmin manifestou frustração com a conclusão e criticou a falta de apoio do hospital: “Estamos sem ajuda psicológica ou financeira. Estamos de mãos atadas”. As famílias adotaram guarda compartilhada e pretendem oficializá-la na Justiça.
Também querem registrar os sobrenomes de todos os pais nas certidões das crianças. Segundo Yasmin, os filhos sabem que têm “dois pais e duas mães”, mas o acompanhamento psicológico é essencial: “Os dois meninos vão crescer, como vou comunicar ao meu filho que ele foi trocado? O acompanhamento psicológico seria bom para evitar possiveis desentendimentos e revoltas”.
O advogado Márcio Rocha destacou que o arquivamento ainda depende do Ministério Público: “Precisaremos aguardar para então proferirmos nosso parecer”.
Siga a Hugo Gloss no Google News e acompanhe nossos destaques