Lizzo é acusada de assédio sexual e até cárcere privado por ex-dançarinas, que ainda detalham trauma em stripclub

Lizzo é acusada de assédio sexual e até cárcere privado por ex-dançarinas, que ainda detalham trauma em stripclub


Nesta terça-feira (1º), três ex-dançarinas entraram na Justiça contra a cantora Lizzo. No processo, aberto hoje no Tribunal Superior de Los Angeles, as antigas funcionárias da artista a acusaram de assédio sexual e da criação de um ambiente de trabalho hostil. As reclamantes alegaram, ainda, terem sido vítimas de assédio religioso e racial, cárcere privado, interferência em vantagens econômicas potenciais e outras alegações.

No documento obtido pela NBC News, Arianna Davis, Crystal Williams e Noelle Rodriguez alegaram que a voz de “Truth Hurts” teria pressionado uma delas a tocar em uma artista nua em uma boate em Amsterdã. A vencedora do Grammy também teria submetido seu balé a um teste “excruciante” após acusá-los de consumir bebida alcoólica no trabalho.

Por fim, as ex-dançarinas acusaram a cantora – que ganhou fama por abraçar o movimento “body positive” e celebrar corpos de todos os tamanhos – de dar destaque ao ganho de peso de uma de suas bailarinas. A mesma foi demitida logo após gravar uma reunião por causa de um problema de saúde.

Da esquerda para a direita, as dançarinas Noelle Rodriguez, Arianna Davis e Crystal Williams. (Foto: Reprodução/Instagram)

Shirlene Quigley, a capitã do balé de Lizzo, também foi citada na ação. De acordo com o escritório de advocacia das denunciantes, Quigley foi acusada de fazer proselitismo (tentativa de converter pessoas, ou determinados grupos, a uma determinada ideia ou religião) com outros dançarinos. Além de ridicularizar aqueles que fizeram sexo antes do casamento, ela também teria compartilhado fantasias sexuais obscenas, simulado sexo oral e discutido publicamente a virgindade de uma das denunciantes.

À NBC News, o advogado de acusação Ron Zambrano revelou que Lizzo – cujo nome real é Melissa Viviane Jefferson – supostamente não estaria ciente sobre as alegações contra sua capitã de dança. No entanto, os dançarinos afirmaram que ela estava, sim, ciente sobre as queixas da equipe sobre ela.

A produtora da cantora, Big Grrrl Big Touring, também foi citada entre os réus da ação. “A natureza impressionante de como Lizzo e sua equipe de gestão trataram seus artistas parece ir contra tudo o que Lizzo defende publicamente, enquanto em particular ela envergonha seus dançarinos e os rebaixa de maneiras que não são apenas ilegais, mas absolutamente desmoralizantes”, destacou Zambrano em comunicado à imprensa norte-americana.

Ex-dançarinas da artista entraram com ação na Justiça dos EUA nesta terça-feira (1º). (Foto: Getty)
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Incidente em Amsterdã

O documento alega que a visita ao stripclub “Bananenbar”, em Amsterdã, aconteceu no início de 2023. O local foi palco para uma das after parties de Lizzo depois de uma apresentação, um ritual rotineiro entre ela e sua equipe. Apesar de não obrigatório, os participantes supostamente eram favorecidos pela cantora se fossem, além de ter “maior segurança” em seus empregos.

Arianna Davis teria sido o “alvo” da artista durante o incidente, revelou o documento: “[Lizzo] começou a convidar os membros da equipe para se revezar tocando as artistas nuas, pegando consolos lançados das vaginas das artistas e comendo bananas saindo das vaginas das artistas. Lizzo, então, voltou sua atenção para a Sra. Davis e começou a pressioná-la a tocar os seios de uma das mulheres nuas”.

Após a recusa da bailarina, a voz de “2 Be Loved” teria liderado um coro de torcida com o resto dos acompanhantes, incitando Davis a tocar a mulher desconhecida. A jovem teria recusado outras três vezes, até que o canto do grupo “ficou mais alto e estridente, exigindo que uma Sra. Davis visivelmente desconfortável se envolvesse com a artista”.

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Após a pressão, Arianna alega que cedeu e tocou brevemente a dançarina exótica, levando seus colegas aos risos. Na sequência, Lizzo supostamente pressionou um membro de sua equipe de segurança a subir no palco e começou a gritar “Tire isso” para os artistas do estabelecimento. “Os queixosos ficaram horrorizados com a pouca consideração que Lizzo demonstrou pela autonomia corporal de seus funcionários e daqueles ao seu redor, especialmente na presença de muitas pessoas que ela empregava”, detalhou a documentação.

Nos dias que sucederam o incidente, após um show em Paris, Lizzo voltou a convidar o grupo para uma boate. A artista alegou que eles poderiam “aprender algo ou se inspirar na performance”. “O que Lizzo deixou de mencionar ao convidar os dançarinos para esta apresentação é que era um bar de cabaré nu”, revelou o processo. Os denunciantes teriam ficado chocados com a decisão da artista de esconder a natureza do evento, acusando-a de “roubar-lhes a opção de não participar”.

Cantora foi acusada de assédio sexual e mais. (Foto: Getty)
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Acusações de assédio

A acusação de assédio racial foi descrita na documentação como comentários de cunho “racial e gordofóbico”, estes feitos por funcionários da produtora Big Grrrl Big Touring. Na época, as ex-dançarinas teriam pedido para serem recompensadas por seu tempo de inatividade, com 50% de seu pagamento semanal.

Entretanto, o contador da empresa supostamente respondeu repreendendo-as pelo pedido “inaceitável ​​e desrespeitoso”, e ofereceu somente 25% do valor requisitado. O tratamento discriminatório teria sido direcionado apenas ao grupo de dança – composto por mulheres negras de corpo plus-size.

O caso de assédio religioso foi conectado à capitã do balé, Shirlene, que teria pregado suas crenças mesmo contra a vontade das dançarinas. “[Quigley] aproveitou todas as oportunidades para fazer proselitismo para todos e quaisquer em sua presença, independentemente de protestos”, afirmaram os denunciantes.

Após descobrir que Arianna Davis era virgem, Quigley teria discutido o assunto em entrevistas e postado sobre isso nas redes sociais.

Entretanto, Noelle Rodriguez foi apontada como o “alvo principal” de Shirlene. Na documentação, foi revelado que a capitã se referia à dançarina como uma “descrente”. Outros membros da equipe teriam pedido que ela parasse de pressionar Noelle sobre sua fé, mas a capitã se recusou e respondeu: “Nenhum trabalho e ninguém vai me impedir de falar sobre o Senhor”.

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Demissões

Após uma série de incidentes nos bastidores, duas dançarinas foram demitidas por Lizzo. Williams foi a primeira a ser cortada do balé, em 26 de abril, dias depois de contestar uma afirmação de Lizzo de que os dançarinos bebiam antes das apresentações.

No dia anterior, a artista havia dito ao grupo que eles teriam que fazer um teste para garantir seu lugar na equipe novamente. O processo descreveu o teste como “um ensaio excruciante de 12 horas”, durante o qual os artistas poderiam ser demitidos, caso Lizzo não ficasse satisfeita com suas performances.

Davis, com medo de perder o emprego, evitou ir ao banheiro e acabou sujando suas calças. Ela teve que voltar ao ensaio vestindo uma roupa transparente, sem roupas íntimas, para finalizar a apresentação.

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Quando Lizzo levantou a questão novamente no dia seguinte, Williams respondeu, dizendo que os dançarinos não bebiam. Segundo o a ação, a cantora supostamente ofereceu uma “resposta debochada”: “Bem, se você não [está bebendo], então bom para todos vocês”. Cinco dias depois, o gerente da turnê de Lizzo demitiu Williams no saguão de um hotel e atribuiu a decisão a cortes orçamentários. No entanto, nenhum outro membro da equipe foi demitido.

Rodriguez, por sua vez, reclamou com o gerente sobre a decisão de demitir Williams publicamente, assunto que foi abordado “repetidamente” por Lizzo numa reunião em 27 de abril. A artista teria afirmado ao balé que ela tinha “olhos e ouvidos em todos os lugares”. A conversa foi gravada por Davis, já que ela sofria de um problema ocular que às vezes a deixava desorientada em situações estressantes.

Dias depois, Lizzo teria feito uma reunião de emergência e feito seus seguranças confiscarem os telefones dos dançarinos. “Lizzo ficou furiosa, lançando palavrões para o grupo e afirmou que iria andar pela sala, pessoa por pessoa, até que alguém dissesse a Lizzo quem fez a gravação”, alegaram as vítimas.

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Davis assumiu ter gravado a reunião pois queria “uma cópia dos apontamentos de Lizzo sobre o desempenho deles”. Quando Davis disse que não tinha a intenção de fazer mal – e que havia deletado o vídeo -, Lizzo supostamente respondeu: “Não há nada que você possa dizer para me fazer acreditar em você”. Quigley e Lizzo teriam se unido para repreender Davis, antes de demiti-la em frente ao restante do grupo.

Antes de deixar a reunião, Rodriguez disse à cantora que se sentia desrespeitada e que planejava pedir demissão. Lizzo teria reagido à notícia “estalando os nós dos dedos, cerrando os punhos” e usando um palavrão para dizer a Noelle que ela teve “sorte”. Quando a dançarina deixou o local, Lizzo levantou os dois dedos do meio e gritou mais xingamentos.

Por fim, o processo alega que um membro da segurança da produtora teria mantido Davis em cárcere privado, supostamente forçando-a a permancecer na sala após o término da reunião para que ele pudesse procurar pelo vídeo em seu telefone. O processo pede indenização por danos que cobrem sofrimento emocional, incluindo salários não pagos, perda de rendimentos e honorários advocatícios, mas o valor não foi especificado na documentação.

Até o momento, Lizzo e sua equipe não se manifestaram sobre o processo.

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