O ator Silvero Pereira foi o escolhido para interpretar o serial killer Francisco de Assis Pereira, mais conhecido como Maníaco do Parque, na produção do Prime Video que reconta os crimes que assombraram o Brasil entre 1997 e 1998. Em conversa com a Folha de S. Paulo, o artista detalhou o processo de gravação e contou por que escolheu não conhecer o assassino cara a cara.
O longa “Maníaco do Parque” é apenas uma das produções sobre o caso que será lançada em 2024. Comandada pelo diretor Maurício Eça, a produção detalhará a história do motoboy, que na década de 1990 matou 11 mulheres e estuprou outras 9. Francisco se passava por um “caça-talentos” e atraía as vítimas para o Parque do Estado, em São Paulo, com a desculpa de que faria uma sessão de fotos na natureza. No local, ele as atacava, estuprava e assassinava, antes de esconder os corpos na vegetação.
Questionado pelo veículo, Silvero admitiu que, apesar da grande repercussão na época, ele não acompanhou a história do Maníaco do Parque com interesse. “Eu estava saindo do interior do Ceará para a capital para fazer faculdade, para me tornar profissional em arte; estava focado em outra coisa. Então, não faz parte da minha história”, confessou.
Ainda assim, o ator se jogou “de cabeça” na pesquisa, que conta com mais de 50 depoimentos que serão utilizados na série documental “O Maníaco do Parque: A História Não Contada”, também produzida pela Prime Video em paralelo ao longa ficcional. “Eu também tive acesso a longas entrevistas do Francisco, então, basicamente, a construção veio de ouvi-lo e construir essa mimese”, afirmou.
Entretanto, Silvero escolheu não conhecer Francisco pessoalmente e explicou o motivo. “Não fiz questão de conhecê-lo, acho que não seria saudável”, apontou o artista. “Além disso, não conhecer o Francisco pessoalmente me dá a possibilidade de, enquanto artista, ter o meu momento ficcional também. O roteiro não é 100% realista, ele tem uma estrutura ficcional, até porque tem personagens ficcionais”, observou.
O serial killer foi detido em 1998 e está preso desde então na penitenciária Orlando Brando Filinto, em Iarasm no interior de São Paulo.
Papel “fora do óbvio”
Conhecido por interpretar personagens que fogem das definições binárias de gênero, como Zaquieu no remake de “Pantanal” e Elis Miranda em “A Força do Querer”, Silvero afirmou que o filme não o tira do caminho que escolheu para sua carreira ,e que escolheu interpretar o assassino nas telonas para dar uma plataforma para as mulheres.
“De certa forma, ele me leva no mesmo lugar de todos os projetos, do que eu acredito enquanto arte, transformação, movimento, questionamento e provocação social”, disse ele ao veículo. “É um cara que violenta essas mulheres, sim, mas a composição artística e a produção desse trabalho tenta enaltecer essas mulheres e dizer o quão esse cara realmente foi violento, agressivo e nocivo à sociedade”, reforçou.
O ator destacou, ainda, os personagens criados para mover a narrativa, entre eles a jornalista investigativa Elena, interpretada por Giovanna Grigio. “É muito interessante perceber que a Giovanna é a grande protagonista do filme, e eu sou o antagonista dessa história. Acho que o objetivo aqui é dar voz para as mulheres”, acrescentou.
Além disso, o papel – seu primeiro como protagonista no cinema – é uma oportunidade para que o meio artístico o enxergue sua versatilidade. “Será a imagem do Silvero tirado desse lugar do LGBT, do militante. Então, me dá essa possibilidade de fazer o que a gente gosta no nosso ofício, que é de se transformar, ser diverso, fazer vários personagens”, concluiu.
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