Conversa com Bial: Woody Allen se pronuncia sobre acusações de abuso sexual, e responde atores que o renegam: ‘Estou sendo boicotado’


Em entrevista ao “Conversa com Bial”, exibido na madrugada desta terça-feira (9), o cineasta Woody Allen, de 85 anos, relembrou momentos marcantes de sua carreira e abordou controvérsias da vida pessoal, como as acusações de abuso sexual que o acompanham desde a década de 90.

Antes do início da entrevista, o apresentador Pedro Bial fez um resumo das denúncias contra o cineasta. Segundo a reportagem, o caso de violência sexual surgiu na mídia em 1992, durante o processo de separação entre Allen e a atriz Mia Farrow, com quem o cineasta compartilhou a adoção de Dylan e Moses, além do filho biológico do casal, Ronan. Na época, Dylan acusou o pai de tê-la violado.

Dylan e Mia Farrow em Nova York em 2016. (Foto: Ben Gabbe/Getty Images)

A investigação teve início em 1992, mas foi considerada “sem indício de suspeita”, já que a polícia afirmou que a denúncia havia sido motivada pelo envolvimento do cineasta com Soon-Yi, na época com 22 anos, filha adotiva de sua ex-mulher, Mia, com o compositor André Previn. O diretor é casado com Soon desde 1997.

Woody Allen é casado com Soon-Yi, filha adotiva de Mia Farrow, com quem o diretor foi casado nos anos 1990. (Foto: Getty)
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Nos anos seguintes, Allen acusou Dylan de ter sido manipulada pela mãe, porém, o caso voltou à tona em 2014, quando, já adulta, a filha do cineasta escreveu uma carta aberta ao The New York Times, detalhando o episódio. Segundo o programa de Bial, ela também foi apoiada por Ronan, que não conversa com Allen até hoje. Moses, por outro lado, reforçou o argumento do diretor de que a mãe manipulava a irmã.

No mesmo ano, Woody foi inocentado, porém, as acusações ressurgiram durante o ápice do movimento feminista #MeToo, que tomou Hollywood em 2017, o que resultou na “expulsão” definitiva do diretor da lista dos queridinhos da indústria cinematográfica.

Woody fala sobre acusações

Sobre o caso, Allen revelou ao talk-show da TV Globo, que as acusações geraram grandes impactos em sua vida pessoal e profissional, principalmente no momento em que sua autobiografia “Apropos of Nothing” (em português, “A propósito de Nada”) seria publicada pela editora francesa Hachette.

Segundo ele, seu livro foi sabotado pela empresa. “Hachette deveria ter publicado o meu livro, mas pessoas na organização eram contra”, disse Allen. “Eu fui boicotado, mas eles estão cometendo um erro”, alfinetou o diretor. Após a polêmica e mesmo abandonada pela editora francesa, a obra literária chegou ao público em março de 2020, quando foi publicada pela Arcade Publishing.

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À Pedro Bial, o cineasta explicou que o conteúdo do livro aborda, de maneira inusitada, sua versão dos fatos em relação às acusações de abuso sexual, já que a narrativa sobre o assunto foi construída por meio de depoimentos de outras pessoas envolvidas no processo.

“Estava escrevendo a história da minha vida, e quando chegou a esse ponto, escrevi conforme aconteceu. Quando era hora de estabelecer os fatos da narrativa, eu tentei usar as palavras de assistentes sociais, testemunhas, empregadas, pessoas que podiam falar e descrever a situação. E eu tentei não me meter nisso, a menos que fosse preciso”, disse ele.

“Tentei ser o mais fiel possível, e se alguma coisa podia ser vista como ambivalente, tentei usar a perspectiva de outra pessoa. Citava psiquiatras, juízes, investigadores, todos os envolvidos, para que não parecesse que era eu dizendo algo. Queria apenas contar uma história sem que as pessoas achassem que, por ser a minha versão, sou uma pessoa maravilhosa e tal”, pontuou Allen.

Bate-papo de Pedro Bial com o cineasta Woody Allen. (Foto: Reprodução/Globoplay)

Movimento #MeToo

Allen também comentou sobre o #MeToo, que ajudou a revelar os casos de abuso envolvendo o produtor Harvey Weinstein e que repercutiu em sua própria carreira. Segundo ele, os “conceitos básicos” do movimento são bons, porém, acredita que é preciso ter cuidado.

Acho que os princípios básicos do #MeToo são bons, elas querem lutar contra a exploração injusta das mulheres por homens que podem explorá-las. Mas, como em todos os movimentos, às vezes, a coisa perde o controle, erros são cometidos e pessoas inocentes sofrem“, disse ele. “Isso acontece o tempo todo. Então acho que [o movimento] fez bem para as mulheres, a intenção delas é ótima, só precisam ter cuidado ao fazerem isso para ter certeza de seus alvos, garantindo que o que estão fazendo é em benefício às mulheres e não injusto com os homens que elas acusam“, continuou. Acho que não colou…

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O diretor ainda aproveitou a oportunidade para alfinetar parte da indústria de Hollywood que, desde a explosão do #MeToo, se recusa a trabalhar com ele. “A mesma coisa com atores que falam que se arrependem ou que nunca trabalhariam comigo. É um erro”, disse Allen. “O que posso fazer? Estão cometendo um erro. As pessoas cometem erros, e esse é um deles. É tudo o que posso dizer, estão cometendo um erro”, finalizou.

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