Na noite de segunda-feira (11), a ex-cantora gospel Jotta se declarou publicamente como mulher trans. Nesta semana, ela revelou novos detalhes de sua transição nas redes sociais. Atualmente com 24 anos, a artista – que ganhou fama na competição de calouros de Raul Gil e já foi indicada até ao Grammy Latino – contou que está mudando seu nome de registro.
Nas redes sociais, em uma carta aberta aos fãs, Jotta detalhou o longo processo, que teve seus altos e baixos. “Essa sou eu, indo ao cartório para fazer a primeira solicitação de retificação do meu nome de registro. O processo é um pouco demorado, devido aos detalhes e protocolos. E na minha condição, que nasci em Guarajá-Mirim, em Rondônia, fica ainda mais difícil (na perspectiva de quem mora no sudeste do país)“, começou a jovem.
Em sua página no Instagram, a cantora já fez alterações: além de revelar o novo visual, Jotta também atrelou o pronome “she” (ela, em inglês) ao perfil. “Demorei muito tempo escolhendo meu nome, foram vários rascunhos, alguns deles sugeridos por melhores amigos. Confesso que já usei alguns crushs como cobaia para provar a fonética… E cheguei à conclusão de que deveria manter Jotta, apesar de nunca ter sido meu nome de registro, só artístico”, continuou. “Além de ser uma maneira de estar atrelada à minha história, acredito que seria difícil readaptar meus sobrinhos pequenos a deixarem de me chamar de tia Jotta (essa é a maneira carinhosa que eles me chamam já há alguns meses)”, compartilhou a artista.
Ela pontuou ainda que, no futuro, deve dividir o segundo nome com os fãs, mas por ora, continuará respondendo apenas por ‘Jotta’. A cantora reforçou que, apesar das dificuldades, tem aproveitado o processo. “Recomeçar não é fácil, mas estou feliz por estar vivendo todo esse processo. Feliz em ter tantas pessoas que me apoiam e acreditam em mim nessa nova etapa!”, celebrou.
Jotta ficou conhecida ao ganhar a tradicional competição de calouros do “Programa Raul Gil”. Após a vitória, a artista assinou com uma gravadora gospel e lançou cinco álbuns no segmento. Em 2014, o disco “Geração Jesus”, foi indicado ao Grammy Latino, fazendo dela a cantora mais jovem a ser nomeada no prêmio. Já em 2020, a artista se declarou gay e, mais tarde, bissexual. Ela eventualmente deixou o segmento gospel, mas não a carreira musical.
Dificuldades e ataques
Em 2021, antes de sua transição, Jotta falou sobre a decisão de se declarar parte da comunidade LGBTQIA+ e detalhou as dificuldades que enfrentou na igreja e no mercado gospel. “É muito difícil estar exposta a tantos olhares em uma fase em que você está se descobrindo, em busca de aceitação. Eram 15 shows por mês, programas de TVs, viagens. Tudo isso vivenciado em um ambiente religioso, cheio de regras e cobranças”, relembrou, em papo com o UOL Splash.
“Eu era uma das cantoras com mais visibilidade no mercado gospel, mas a culpa só crescia porque o aprendizado que tive dentro da igreja era de que ser homossexual é errado. Eu tinha toda uma estrutura empresarial e familiar que dependia financeiramente do meu trabalho. Como se desfazer de tudo isso quando você sabe que se assumir afetará toda a sua carreira? Você não será aceita da forma que é, e, sim, da maneira que eles querem que você seja”, refletiu.
“Por dentro, já estava vivendo um processo de autoconhecimento. Meu maior medo era expressar isso e entender como mostrar esse novo trabalho, guardado há tanto tempo dentro de mim”, disse ela. “Hoje, estou mostrando quem realmente sou, podendo assumir minha arte e minha verdade. Tirei das costas um sistema que não me aceitou como sou”, reforçou.
Em 2020, a jovem deixou a igreja e passou a apostar em uma sonoridade pop para a carreira musical, mas sofreu diversos ataques na web. “Sofro ameaça de morte todo dia, palavras de ódio, racismo, homofobia. Pessoas subestimam meu trabalho”, lamentou. “Até hoje, enxergo Cristo com um mensageiro de amor para todos, não só para as pessoas que a Igreja prega. Sou grata pela trajetória que tive, mas não sigo nenhuma religião. Só acredito em Deus”, pontuou a artista, na época.