Gypsy Rose Blanchard abre o jogo sobre assassinato da mãe e revela arrependimento: “Estava desesperada”

Gypsy Rose Blanchard abre o jogo sobre assassinato da mãe e revela arrependimento: “Estava desesperada”


Em 2016, a norte-americana Gypsy Rose Blanchard foi condenada a 10 anos de prisão pelo assassinato de sua mãe, Dee Dee Blanchard, após ter sofrido uma série de abusos da genitora. Depois de cumprir 8 anos, a pena progrediu para liberdade condicional, e a jovem deixará a prisão amanhã, 28 de dezembro. Em nova entrevista à People, Gypsy confessou se arrepender de ter tirado a vida da mãe.

Ao veículo, Gypsy Rose admitiu que, ao longo dos oito anos que passou atrás das grades, ela relembrou constantemente os acontecimentos de junho de 2015, quando pediu ao namorado, Nicholas Godejohn, para matar Dee Dee. No momento do assassinato da genitora, Gypsy afirma que estava sendo vítima de abusos mentais e físicos, além de ter sido forçada a se submeter a mais uma cirurgia desnecessária. “Eu estava desesperada para sair daquela situação”, confessou ela.

Tal desespero a teria levado a pedir a Godejohn que matasse sua mãe, o que ele fez enquanto a jovem se escondia no banheiro da residência em Springfield, Missouri. Entretanto, com sua iminente saída da prisão, Gypsy Rose confessou à People que sente um “profundo remorso” sobre o assassinato da mãe.

“Se eu tivesse outra chance de refazer tudo, não sei se voltaria a quando era criança e diria aos meus tios e tias que não estou doente e que a mamãe me deixa doente, ou, se eu voltasse exatamente ao ponto daquela conversa com Nick e dissesse a ele: ‘Quer saber, vou contar tudo à polícia’. Eu meio que luto com isso”, admitiu. “Ninguém jamais me ouvirá dizer que estou feliz por ela estar morta ou que estou orgulhosa do que fiz. Me arrependo todos os dias”, acrescentou.

Durante o julgamento, a defesa argumentou que Gypsy foi vítima de Munchausen por procuração, uma forma rara de abuso em que um tutor ou pai exagera ou induz doença a uma criança para obter atenção e simpatia para si mesmo. Acredita-se, especialmente nos Estados Unidos, que a motivação do crime foram os anos de abuso médico, psicológico e físico aos quais a genitora submeteu Gypsy, por meio de procedimentos médicos dolorosos dos quais ela nunca precisou.

Gypsy Rose e a mãe, Dee Dee. (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal/People Magazine)

Relembre o caso

Quando Gypsy tinha 7 anos, Dee Dee alegou falsamente que sua filha sofria de inúmeras doenças. Uma delas era a distrofia muscular, que, segundo Dee Dee, exigia que Gypsy usasse uma cadeira de rodas, embora a menina conseguisse andar sem problemas. Em seguida vieram tubos de alimentação dolorosos e desnecessários e a alegação de que Gypsy tinha leucemia, razão pela qual Dee Dee raspou a cabeça de Gypsy. Dee Dee enganou amigos e familiares, fazendo-os acreditar que as doenças eram reais e enganou os médicos para que as diagnosticassem e tratassem.

A própria Gypsy passou anos no escuro: “Obviamente eu sabia que podia andar e não precisava de sonda de alimentação, mas todo o resto era uma grande confusão para mim”. Sobre seu diagnóstico de epilepsia, ela afirmou que era enganada por Dee Dee constantemente: “Sempre que eu a questionava, minha mãe dizia que eu ‘tive uma convulsão na noite anterior e não me lembrava’. Sempre havia uma desculpa”.

“Eu expressava preocupações, dizendo: ‘Eu realmente sinto que não preciso disso’, e ela ficava muito, muito chateada comigo e começava a me manipular”, detalhou Gypsy. Nos primeiros anos, para fazer com que Gypsy obedecesse, “ela dizia ‘Se você se sair bem no hospital, então iremos à Toys ‘R’ Us comprar uma nova Barbie’”.

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A situação se agravou ainda mais quando Gypsy teve o contato com outras pessoas totalmente cortado. Ela nunca foi matriculada na escola e também foi impedida pela mãe de conviver com seu pai, Rod, sua madrasta Christie e seus meio-irmãos. “Eu estava limitada no que podia assistir e na exposição que tinha a outras crianças. O que eu conhecia do mundo exterior estava apenas nos filmes da Disney e eles não falam sobre sinais de alerta de pais ruins”, disse ela.

Foi na adolescência que Gypsy se rebelou contra os abusos e a relação com a mãe se tornou violenta. “Eu tentei o meu melhor para ser respeitosa, mas às vezes era difícil. Ela me chamava de coisas como vadia, vagabunda etc. (…) Dee Dee começou a me bater, socar e dar tapas para conseguir o que queria. Era muito semelhante a um tipo de relacionamento de violência doméstica. Contanto que você seja complacente, está tudo bem. A contrarie, e então será ruim”, relembrou.

Gypsy Rose foi vítima de Munchousen por procuração. (Foto: Reprodução/HBO)

O assassinato

Na conversa com a People, Gypsy Rose revelou que decidiu matar a mãe depois de uma tentativa de fuga frustrada. Com mais um procedimento médico desnecessário marcado, este em sua laringe, a jovem decidiu sair de casa. Entretanto, ela foi encontrada horas depois. “Eu simplesmente não estava aceitando. Ela me encontrou, me trouxe de volta e preparou a papelada dizendo que eu era incompetente e que ela tinha uma procuração sobre mim”, contou.

Sentindo-se encurralada, ela tentou colocar um fim na situação. “Eu estava tentando muito descobrir outra maneira. Foi quando houve uma conversa entre mim e meu co-réu Nick”, disse, referindo-se ao rapaz que conheceu em um site de namoro online. “Ele disse: ‘Eu faria qualquer coisa para proteger você’. Eu disse: ‘Qualquer coisa?’. Ele disse sim’”, detalhou.

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Ao contrário de Gypsy, Nicholas Godejohn foi condenado à prisão perpétua por desferir o ataque mortal. Recentemente, ele disse em depoimento que “[mataria] de novo se isso significasse salvar Gypsy”. A jovem, por sua vez, passou por anos de reflexão e terapia e concluiu que a mãe não merecia a morte.

“Ela não merecia isso. Ela era uma mulher doente e, infelizmente, eu não fui educada o suficiente para ver isso. Ela merecia estar onde eu estou, sentada na prisão cumprindo pena por comportamento criminoso”, observou. À medida que sua liberdade se aproxima, ela disse que ainda está processando seu passado. “É uma jornada. Ainda estou realmente tentando chegar a um ponto de perdão por ela, por mim e pela situação. Eu ainda amo minha mãe. E estou começando a entender que era algo que talvez estivesse fora de controle dela, como um viciado com impulso. Isso me ajuda a lidar e aceitar o que aconteceu”, refletiu.

Como forma de alertar outras pessoas, Gypsy pretende contar sua história real na série documental “The Prison Confessions of Gypsy Rose Blanchard” (As confissões de prisão de Gypsy Rose Blanchard), que estreia em 5 de janeiro, no canal norte-americano Lifetime. “Quero ter certeza de que as pessoas em relacionamentos abusivos não recorram ao assassinato. Pode parecer que todas as vias estão fechadas, mas há sempre outra maneira. Faça qualquer coisa, mas não tome esta atitude”, finalizou. Assista ao trailer abaixo:

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