Reportagem revela valores astronômicos que Virgínia, Carlinhos Maia, Cauã Reymond, Neymar e mais famosos recebem para divulgar jogos online

Reportagem revela valores astronômicos que Virgínia, Carlinhos Maia, Cauã Reymond, Neymar e mais famosos recebem para divulgar jogos online

Uma reportagem da revista Piauí, publicada no sábado (3), revelou os cachês multimilionários que influenciadores como Virgínia Fonseca, Carlinhos Maia, Gkay, Maya Massafera, e outros famosos, incluindo Cauã Reymond e Neymar, recebem para promover a jogatina online. Sob o título “Como os influenciadores ganharam fortunas e ajudaram as bets a produzir a pandemia do vício”, os jornalistas João Batista Jr. e Alessandra Medina apuraram que os valores podem chegar a R$ 100 milhões.

Gkay, que acumula mais de 20 milhões de seguidores no Instagram, costuma apostar no Esportes da Sorte, que oferece vários jogos online. De acordo com a reportagem, ela havia feito um contrato de ao menos 2 anos com a plataforma, cuja sede fica em Curaçao, no Caribe, considerado paraíso fiscal. O valor mensal recebido era de R$ 1,4 milhão. Contudo, a má repercussão levou a influenciadora a romper o acordo. Ela e a empresa não se pronunciaram.

Virgínia Fonseca assinou um contrato com a Esportes da Sorte nos termos do “cachê da desgraça alheia”, ou seja, ganha 30% do que os usuários perdem com os jogos. Se o apostador ingressar na plataforma através de um link divulgado por ela e perder R$ 100 em uma aposta, por exemplo, R$ 30 vão para a influenciadora. Em dezembro de 2022, quando assinou o acordo, Virgínia recebeu um adiantamento de R$ 50 milhões, informou um profissional envolvido no negócio à revista.

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Dona de um perfil com cerca de 52 milhões de seguidores no Instagram, a influenciadora fez o primeiro anúncio da Esportes da Sorte em janeiro de 2023. Ela atraiu 120 mil novos apostadores com apenas um story sobre a aposta. Após um tempo, ela passou a divulgar a Blaze, depois de fechar um novo contrato de R$ 29 milhões por ano. Virgínia não respondeu à revista, afirmando que não pode falar sobre o assunto em razão da cláusula de confidencialidade do contrato.

A Blaze, que igualmente possui sede em Curaçao, pagou um cachê de R$ 40 milhões por ano para Carlinhos Maia. Maya Massafera, por sua vez, possui contrato com a plataforma estimado em R$ 7,8 milhões anuais. Nem ela, nem a plataforma confirmaram o valor. Investigada pela Polícia Civil de São Paulo por suspeita de estelionato, depois que apostadores denunciaram que os prêmios mais altos nunca eram pagos, a Blaze não respondeu ao pedido de entrevista.

Gkay, Cauã Reymond e Virgínia foram alguns citados pela Piauí. (Foto: Reprodução/Instagram)

O garoto-propaganda mais famoso da plataforma é Neymar. Segundo a reportagem, o jogador possui um contrato estimado em R$ 100 milhões. Para intermediar o acordo da bet com o Santos Futebol Clube, seu pai recebeu R$ 4,5 milhões. Quem também chegou a ser contratado pela empresa foi Felipe Neto. “Já na primeira vez fui procurado com uma proposta agressiva“, disse ele à revista. Segundo o influenciador, ele recusou três convites, até decidir aceitar a quarta proposta.

O valor do cachê já havia subido para a casa de dezenas de milhões de reais por ano. Os valores não foram revelados. Ele contou que aceitou divulgar a jogatina sem dizer que essa era uma oportunidade dos jogadores para obter “renda extra”. “No intervalo entre o primeiro e quarto convite, vi inúmeros influenciadores se tornarem embaixadores de casas de apostas. Aquilo me levou a pensar que não teria nada de mais em aceitar. Não tinha praticamente quem não fizesse. Aí, seguindo uma ideia estúpida, eu me convenci de que poderia aceitar aquilo sem ser antiético“, declarou.

Contudo, enquanto promovia os jogos, Neto passou a ler as notícias e reportagens que citavam o vício em bets e o endividamento da população. Foi então que o influenciador sentiu um peso na consciência, inclusive, depois de divulgar por engano uma legenda pronta do marketing da Blaze, que apresentava o cassino online como uma chance de faturar a “renda extra”. Depois de dez meses, Felipe cancelou o contrato. “As casas de apostas criam uma ansiedade no influenciador, que recebendo cachês tão altos e mudando de patamar financeiro, sentem que precisam agradar o anunciante“, criticou.

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Há ainda quem venda o próprio nome do perfil para as bets, como foi o caso de David Brazil, cujo contrato é de R$ 200 mil mensais. O ator Cauã Reymond também se rendeu às bets, informou a Piauí. Desde maio de 2024, ele possui um contrato de 22 milhões de reais por ano com a BateuBet. Ele não quis se pronunciar, mas lembrou que Galvão Bueno e Vinícius Júnior também fazem publicidades para plataformas de jogos online. O jogador Grafite, que aparece em propaganda ao lado de Cauã, também não quis fazer comentários à publicação. A BateuBet igualmente não se manifestou.

A reportagem também citou famosas que não aceitaram fazer propagandas, como Ivete Sangalo e Taís Araújo. “A construção da marca pessoal demora muito. O artista representa e endossa a marca que patrocina. Os tigrinhos da vida pagam muito porque compram, na verdade, a credibilidade de alguém, para depois queimar o filme da pessoa de forma irreversível“, disse uma agente de artistas que não teve o nome revelado.

Lei das Bets e vícios

A legalização das apostas esportivas foi imposta no final do governo de Michel Temer. As bets já atuavam no Brasil ilegalmente e não eram taxadas. No fim de 2018, Temer sancionou a lei, criando a “aposta de quota fixa”, em que o apostador sabe de antemão o valor do prêmio. Contudo, a regulamentação acabou prorrogada por mais dois anos. Ela também não foi feita durante o governo de Jair Bolsonaro. Apenas em 2013, durante o governo do atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, o assunto passou a ser novamente discutido no Congresso.

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A lei que regulamenta o setor foi publicada no Diário Oficial da União em 30 de dezembro de 2023, ficando conhecido como a “Lei das Bets”. O Ministério da Fazenda criou a Secretaria de Prêmios e Apostas, que definiu que as empresas teriam até 20 de agosto do ano passado para pedir autorização para operar no país. Além disso, proibiu o jogo a crédito e impôs que, a partir de janeiro deste ano, as bets teriam que pagar os prêmios em até 120 minutos depois de feito o pedido.

No entanto, a regulamentação foi conduzida apenas pela equipe econômica, sem a análise do impacto social e saúde mental. O psiquiatra Rodrigo Machado, que também atua no Instituto de Psiquiatria da USP, disse que era previsível que as bets causariam um grande problema no país, inclusive por serem associadas ao futebol. Além disso, ele explicou que as redes sociais são um convite para a dependência. As principais vítimas do vício estão nas classes C e D.

Neymar é o mais famoso da Blaze; Tali Ramos recomendar os cursos de outra influenciadora, Luana Fernandes, sobre como faturar com os jogos online. (Foto: Reprodução/Instagram)

À Piauí, a corretora Thatiara Fonseca revelou ter perdido R$ 1, 8 milhão ao longo de 3 anos na jogatina online através da Betano. Ela relatou que viu a gaúcha Tali Ramos recomendar os cursos de outra influenciadora, Luana Fernandes, sobre como faturar com os jogos online. Os valores estão documentados no processo que ela move contra a Betano e outras 44 empresas de meios de pagamento que intermediaram suas apostas.

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Thatiara tenta, agora, receber o dinheiro de volta. “Eu sonhava com o barulho e as cores do joguinho. Eu nunca tinha tido um vício na vida. Não reconheci o que estava acontecendo comigo“, lamentou. Luana Fernandes disse que jamais indicou a Betano em seu curso, ou qualquer outra casa de aposta. Já Tali Ramos afirmou que daria entrevista, mas depois de receber as perguntas, não voltou mais a fazer contato.

A Betano não quis divulgar valores e disse que tem duas modalidades de “parceria” com influenciadores. Uns postam nas redes sociais da própria plataforma em troca de remuneração fixa e outros divulgam a marca em suas redes sociais. Sobre as empresas de meio de pagamento contratadas, a Betano respondeu que trabalha “somente com operadores financeiros e processadores de Pix licenciados e autorizados pelo Banco Central”.



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