Fernanda Nobre explica por que escolheu casamento aberto e opina sobre monogamia: “No fundo sabemos que não existe”


Em julho do ano passado, a atriz Fernanda Nobre surpreendeu o público ao falar do casamento aberto que tem com o dramaturgo José Roberto Jardim. Durante uma entrevista para o site Universa, do Uol, divulgada nesta sexta-feira (8), a artista deu mais detalhes sobre o relacionamento. Além disso, ela falou sobre os desafios que enfrentou para desconstruir consigo mesma as ideias convencionais que a sociedade impôs de compromissos firmados entre casais.

A artista explicou que a decisão de abrir o casamento ocorreu há três anos, quando ela e José tinham cinco anos de casados. Até então, deixar o formato monogâmico nunca sequer passou pela sua cabeça. “Eu gostava de ser monogâmica, me sentia sendo leal ao meu comprometimento naquelas relações, isso não era uma questão e nem nunca tive nenhum grande trauma com traições ou algo parecido”, contou. Mas ao contrário do que muitos possam imaginar, quando a hipótese de um casamento aberto entrou em pauta, não houve qualquer conflito ou tensão.

“Eu tenho um parceiro que é um intelectual, um artista, muito sensível, interessado na desconstrução de padrões e na evolução pessoal. Então, no meu caso, a conversa sobre abrir o relacionamento não foi tensa como poderia ter sido com outros tipos de homens, principalmente aqueles que não refletem sobre seus privilégios masculinos”, explicou.

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No depoimento, Fernanda avaliou que, infelizmente, muitas pessoas estão em uma espécie de “casamento aberto unilateral” por conta das traições que os parceiros podem cometer às escondidas. “É fato que os homens já vivem relacionamentos abertos, mas as mulheres fingem acreditar que não. Nós romantizamos a monogamia, mas no fundo sabemos que ela não existe. Nunca existiu”, opinou. “A gente vive na hipocrisia, sim. Os homens têm essa permissividade, essa desculpa de que ‘não se seguram sexualmente’. Mas e nós, mulheres?”, acrescentou, antes de ressaltar que, claro, existem exceções.

Fernanda Nobre e José Roberto estão juntos há seis anos (Foto: Rodrigo Adão/AGNews)

Para colocar o casamento aberto na prática, Fernanda Nobre assumiu que foi um processo “lento e cuidadoso”. “É muito difícil quebrar padrões, ainda mais um padrão de comportamento emocional que está enraizado na nossa sociedade há tanto tempo! Claro que no início tive que lidar com o meu ciúmes, a posse, a insegurança e o medo de, quem sabe, estragar a nossa relação. Mas os medos ficaram no passado, lá no início. Porque para mim, viver uma relação aberta é uma questão política”, disse.

Uma crise no casamento também estava longe de ser o caso de Fernanda e José Roberto. “Quando começamos a trocar sobre esse assunto estávamos no auge da paixão e da cumplicidade. Eu não embarquei nessa experiência para apimentar a relação ou porque o casamento estava morno. Pelo contrário. Fiz num momento muito seguro da nossa parceria e com a certeza que temos muita troca e somos muito ligados um no outro. Se estivesse numa fase insegura, não sei se iria propor”, ponderou.

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A atriz explicou que ela e o marido sempre tiveram a lealdade como a principal regra, e evitar a hipocrisia comum da sociedade que poderia influenciá-los. “A grande diferença entre relações em que homens traem à vontade e relações abertas não é uma ‘autorização’ para se fazer tudo apenas atendendo ao seu desejo e impulso. O ponto está na busca dos dois envolvidos manterem um diálogo franco e honesto. Eis a única forma que acredito de se estabelecer uma verdadeira parceria num relacionamento amoroso”.

Fernanda Nobre se abriu sobre casamento aberto pela primeira vez em um post no Instagram. (Foto: Reprodução)

Ao longo desses três anos de casados, as “regras” também foram mudando. “Nossas conversas vão estabelecendo os limites. Tudo vai mudando conforme a gente vai amadurecendo. Nem todos os papos e combinações que tivemos no início valem ainda hoje”, entregou. Se no início Fernanda Nobre reivindicava pela igualdade em termos sexuais, hoje, isso já não é mais uma questão. “Afinal, acho que atingimos, sim, a igualdade que eu tanto reivindicava. Ninguém aqui está em desvantagem. É claro que o fato de não termos filhos ajuda nessa dinâmica. Se tivéssemos, talvez não fosse assim, já que a mãe pode não ter tanto espaço e tempo para exercer sua sexualidade”.

E o futuro também pode reservar outras mudanças. “Não sei se temos a fórmula certa ou se, daqui a um ano, mudaremos o nosso relacionamento. Como todas as decisões na vida, nada é definitivo. A reflexão que eu quero fazer é sobre a escolha. É a gente não ser obrigada a repetir um padrão só porque nos impuseram como sendo o certo”, disse Fernanda. E justamente por conta dessas ideias que foram concebidas como as que deveriam ser seguidas por todos, que a atriz decidiu abrir sua vida pessoal.

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“Quero contribuir para esse debate. Não sou uma feminista radical, sou estudiosa do tema e tento colocar as minhas descobertas em prática na minha vida. Ao fazer isso, levanto a reflexão sobre a escolha feminina e alerto o quanto muitas dessas escolhas podem estar sendo compulsórias. Tudo bem ser monogâmica, tudo bem repetir o padrão, desde que isso seja sua escolha”, afirmou.

Sobre o casamento, Fernanda Nobre garante que não poderia estar melhor: “Só posso falar da minha experiência, e ela é de uma transformação muito positiva. Eu tenho um companheiro muito especial, aberto, que me deixa muito segura. Não sei se eu fosse casada com outro homem e se eu não tivesse uma relação com tanta troca e diálogo como a que tenho, isso daria certo. Nossa relação hoje está muito mais forte. Somos muito companheiros, amorosamente e sexualmente falando. Abrir o relacionamento nos fortaleceu de verdade”.

A artista também colheu os frutos pessoais de viver esse relacionamento. “O relacionamento aberto me deu mais segurança, sabe? Até então, eu era uma mulher insegura, que não acreditava no outro, não confiava, era controladora. Vivia com medo de ser passada pra trás”, admitiu. “Eu me sinto mais empoderada enquanto mulher. Não sinto culpa nenhuma — aprendi que a culpa é também uma forma de controle social sobre as mulheres. E me sinto muito mais consciente da mulher que sou, que quero ser e que estou me tornando. Estou livre para exercer as minhas escolhas”, encerrou.

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