Mamonas Assassinas: Repórter revela como Globo chegou antes dos bombeiros, e relembra atitude de curiosos: “Foi chocante”

Mamonas Assassinas: Repórter revela como Globo chegou antes dos bombeiros, e relembra atitude de curiosos: “Foi chocante”


2 de março de 1996. Há 27 anos, um acidente aéreo colocou um ponto final na promissora trajetória dos Mamonas Assassinas, banda que vivia o auge de seu sucesso. No aniversário da tragédia que chocou o Brasil, Eleonora Paschoal, repórter da TV Globo na época, recordou as memórias dessa cobertura dolorosa em entrevista ao portal Na Telinha.

Depois de um dia muito chuvoso em São Paulo, Eleonora saiu de seu plantão turbulento na emissora e foi jantar. Quando voltava para casa, ela se deparou com um motoboy da Globo enviado para avisá-la da suspeita de uma queda de avião na Serra da Cantareira. Com a rápida apuração, veio a confirmação da tragédia: “Fiz alguns contatos e, em questão de minutos, eu já sabia que era o avião dos Mamonas Assassinas.” O voo ia de Brasília até Guarulhos.

Os Mamonas Assassinas eram um fenômeno nacional quando sofreram o acidente aéreo, em 1996. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Todos os cinco integrantes da banda – Dinho Alves, Samuel Reoli, Sérgio Reoli, Bento Hinoto e Júlio Rasec –, um segurança, um assistente de palco, o piloto e o copiloto da aeronave estavam mortos. A princípio, quando ainda havia poucas informações naquela noite de sábado, um diretor de jornalismo do canal pediu para aguardar antes de dar a notícia. “Liguei para a redação e falei com o diretor Roberto Müller, que vetou a divulgação. Ele disse: ‘Imagina… Não podemos dar essa notícia assim. É preciso ter muita certeza. Olha só de quem vocês estão falando’. E eu dizia: ‘Mas eu tenho certeza que são os Mamonas’”, recordou ela.

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Diante da suspeita, a equipe combinou que um helicóptero do canal sairia logo na manhã seguinte (3). A jornalista, que fazia um curso para pilotar aeronaves na época, juntou-se ao piloto da emissora e traçou um plano de voo, cogitando possíveis locais para o acidente. Na sequência, ela pegou a estrada e passou a madrugada na Serra da Cantareira. Então, antes mesmo do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar, o helicóptero da Globo encontrou o local exato do acidente nas primeiras horas de domingo.

A repórter Eleonora Paschoal detalhou como foi marcante e forte a cobertura da tragédia com o Mamonas. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Com isso, Eleonora e o cinegrafista Américo Figueiroa conseguiram um combinado com as autoridades, e a repórter foi a única autorizada a entrar na mata. “Já localizamos os destroços. O helicóptero da PM ainda não decolou. Vamos fazer um acerto?”, pediu ela. “O senhor segura toda a imprensa aqui e só eu vou com a tropa. Como fui eu que achei, tenho o direito de ser a primeira a chegar”. O comandante, então, fez um alerta: “Os meus homens não vão carregar nenhum equipamento nem vão socorrer você nem seu cinegrafista se vocês escorreguem. É por sua conta em risco”.

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A jornalista ainda se lembra do choque com o que encontraram pelo caminho. “Enquanto achávamos os destroços, eu ia fazendo a minha matéria, contando o que estava vendo. Tudo o que vimos, assim que chegamos, foi chocante, muito triste mesmo. Por várias vezes, foi preciso parar para respirar fundo. Nosso pensamento era: ‘Calma, vamos lá. A gente precisa esclarecer o que aconteceu e contar para as pessoas. E a gente só vai fazer isso se ficar equilibrado’”, recordou. “Ninguém se acostuma com a tragédia. Na época em que comecei a trabalhar na Globo, eu não podia esboçar muita reação. Era preciso fazer um exercício, respirar fundo e passar a informação, fazendo o trabalho de ‘reportagem’ mesmo”, pontuou.

Eleonora Paschoal atualmente se divide entre Orlando, nos EUA, e em São Paulo, como freelancer para várias emissoras. (Foto: Reprodução/Instagram)

Para Eleonora, a pior lembrança são as imagens fortes dos corpos mutilados na mata, que impactaram e muito a equipe. “Não vou entrar em detalhes, porque acho que ninguém merece detalhes disso. Eu e meu cinegrafista precisamos parar por alguns segundos. Pedimos luz para aquelas pessoas e força para que a gente pudesse terminar o nosso trabalho. Tivemos que segurar a emoção e fazer tudo de forma mais clara e objetiva possível”, lembrou.

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Outra memória é a de encontrar uma jaqueta do Mamonas Assassinas intacta no local. “Fiz uma passagem na reportagem da Globo mostrando exatamente como encontramos aquela jaqueta. Aliás, não tocamos em nada. Tudo o que mostramos na reportagem estava exatamente da forma como foi encontrado depois do acidente“, mencionou ela, que disse também ter sido marcada pela imagem do corpo de Dinho – o último resgatado – sendo içado pelo helicóptero das autoridades.

A jaqueta do Mamonas Assassinas encontrada no local do acidente também foi uma imagem marcante. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Segundo Paschoal, algo que também lhe chocou foi a busca de curiosos por “lembranças” da banda no local do acidente. “As pessoas começaram a correr para a Serra, e pegavam tudo o que viam pelo caminho. As pessoas queriam souvenirs daquela tragédia. Falo disso e fico até arrepiada até hoje”, pontuou.

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O que a repórter nunca esqueceu é a comoção nacional causada pela triste notícia. “Todo mundo era fã deles. Eu também gostava das músicas, até hoje gosto. Meu filho tem 21 anos, ou seja, não viveu aquela febre, mas adora Mamonas Assassinas desde pequeno. Havia um carinho nacional, e eu me encaixo nessa legião de fãs. Achava a banda o máximo, com aquela vontade de viver e aquela luz para divertir as pessoas”, declarou.

Veja a reportagem abaixo:

Leia a entrevista na íntegra, clicando aqui.

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