Sobreviventes de tragédia entre trens na Índia relatam momentos de terror: “Banho de sangue”

Sobreviventes de tragédia entre trens na Índia relatam momentos de terror: “Banho de sangue”


Na noite desta sexta-feira (2), trens descarrilaram e se chocaram em Balasore, na Índia, no que se tornou o maior acidente ferroviário do país. De acordo com as autoridades locais, são 288 mortos e 803 feridos até o momento. Para o The Guardian, médicos, sobreviventes e testemunhas contaram detalhes do acidente. O primeiro-ministro Narendra Modi, decretou luto no país e mencionou indenização para a família de todos que foram vítimas fatais da colisão. As autoridades locais não deram detalhes sobre o envolvimento de um terceiro trem de carga no acidente.

O Coromandel Express colidiu com um trem de carga que estava viajando a cerca de 130 km/h. O trem de carga, por sua vez, descarrilou alguns vagões do trem Howrah Superfast Express, que viajava na direção oposta. Tinham mais de dois mil passageiros a bordo dos dois trens. Os moradores dos arredores ouviram o barulho dos freios e o som da batida. Muitos se juntaram à operação oficial de resgate, que contou com a Força Nacional de Resposta a Desastres, equipes do governo estadual, força aérea, bombeiros, policiais e cães farejadores.

Buscas por sobrevivente conta com cães farejadores. (Foto: Getty Images)

A colisão chegou a fazer com que vagões fossem lançados para o alto e caíssem de volta torcidos e de cabeça para baixo. Uma fila com dezenas de corpo cobertos por lençóis foi feita à espera de ambulâncias, carros e até tratores para levá-los aos hospitais. Os pertences dos passageiros estavam espalhados ao redor deles como sapatos, brinquedos e malas abertas. Os moradores que ajudaram nas buscas contaram que houve roubos no local. “Alguns aldeões pegaram algumas dessas sacolas abandonadas e fugiram na escuridão. Isso foi chocante. Eles roubaram os objetos de valor das vítimas do acidente”, contou a testemunha identificada como Ghosh.

Sobreviventes também fizeram relatos sobre a tragédia. Segundo o The Guardian, um rapaz que estava dormindo no momento da colisão disse que pessoas caíram nele. “Umas 10 a 15 pessoas caíram sobre mim. Eu machuquei minha mão e pescoço. Quando saí do trem, vi membros espalhados por toda parte. Uma perna aqui, uma mão ali. O rosto de alguém desfigurado“, contou. Outra passageira, que estava com a filha de 11 anos, comentou:  “O impacto foi tão grande que dois banheiros do nosso vagão foram completamente destruídos. Dos vagões adjacentes, ouvimos pessoas gritando por socorro e chorando alto. Cenas horríveis da noite passada continuam diante dos meus olhos. Não consigo tirar isso da cabeça. Ainda estou traumatizada“.

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Outra testemunha acrescentou que viu “pilhas de corpos guardados em uma escola“. Ao India Express, o sobrevivente Santosh Jain disse: “Os cadáveres estavam espalhados por todos os trilhos, as pessoas gritavam por socorro”.  Já Anubha Das, descreveu ao Independent que levou um “banho de sangue“. “Famílias esmagadas, corpos sem membros e um banho de sangue nos trilhos“, detalhou. Quem também deu seu relato foi o médico Mrutunjay Mishra, do hospital de Balasore, que recebeu mais de 250 pacientes ao mesmo tempo. “Estou na profissão há muitas décadas, mas nunca vi tanto caos em minha vida”, revelou.

Outro médico da faculdade de medicina e hospital em Cuttak contou que o local está lotado. “Alguns perderam seus membros e muitos têm ferimentos graves em seus corpos. Cerca de 20 pessoas feridas que foram trazidas a mim faleceram enquanto tentávamos tratá-las. O hospital está lotado de feridos. Eles estão deitados no chão. Estamos correndo de um paciente para outro. Acabei de cuidar dos ferimentos de uma garotinha, ela está passando bem, mas não temos ideia sobre os pais dela“, disse.

Busca pelos familiares

Logo após a batida, familiares começaram uma busca por entes queridos. Rabindra Shau procurava pelo filho Govinda, que havia embarcado no Coromandel Express. “Por favor, me ajude a encontrar meu filho. Pelo menos me ajude com seu cadáver”, gritou, enquanto revirava os corpos. Sheikh Zakir Hussain também estava no local à procura de informações parentes e vizinhos. “Desde que soube do acidente, liguei para meu irmão e meu sobrinho, mas os telefones deles estavam desligados. Cheguei de manhã cedo e desde então tenho ido de um hospital para outro, mas não há vestígios deles. Eu até fui ao local e vi montes de corpos caídos ali. Vi os rostos de mais de 100 pessoas mortas, mas não consegui encontrar meu irmão, sobrinho ou meus vizinhos”, detalhou.

Toton Sekr também foi nos trilhos na manhã deste sábado para procurar pelo sobrinho de 24 anos. “As autoridades disseram que alguns corpos ainda estavam presos dentro dos vagões danificados e levaria algum tempo para removê-los”, contou. “Ainda estou procurando por ele. Estamos rezando para que ele seja encontrado vivo em algum lugar”, continuou.

Necrotérios improvisados

Os hospitais ficaram sem espaço para os mortos e, por isso, uma escola em Bahanaga se transformou em necrotério de última hora. O local está com centenas de corpos empilhados esperando para serem identificados por seus parentes. Uma indústria próxima a escola também está sendo usada para o reconhecimento. De acordo com um funcionário, mais de 200 corpos ainda não foram identificados. “O desafio agora é identificar os corpos. Onde quer que os familiares possam fornecer provas, os corpos são entregues após as necropsias. Se não for identificado, talvez tenhamos que fazer um teste de DNA e outros protocolos”, explicou o oficial estadual PK Jena.

Famílias ainda buscam por parentes e cerca de 200 corpo ainda segue sem identificação. (Foto:Getty)

Pronunciamento

Segundo o “The Times of India”, o governo anunciou uma indenização 500 mil rúpias indianas, cerca de R$ 30 mil, para cada parente mais próximo das pessoas vítimas fatais. Outras 100 mil rúpias indianas, cerca de R$ 6 mil, será destinada para cada um dos feridos, além de 50 mil rúpias, equivalente a R$ 3 mil, para as demais vítimas. O primeiro-ministro, Narendra Modi, voltou ao local do acidente no período da tarde deste sábado e visitou os feridos nos hospitais. “As palavras não podem expressar minha profunda dor”, lamentou, prometendo que “aqueles considerados culpados serão severamente punidos”. O ministro das ferrovias, Ashwini Vaishnaw, que estava enfrentando pedidos de demissão, prometeu que fará uma investigação profunda para entender o que causou a tragédia.

Líderes mundiais como o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, o presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente chinês Xi Jinping, manifestaram-se sobre o acidente trágico. No Twitter, Sunak disse que seus “pensamentos e orações estavam com Narendra Modi e todos os afetados pelos trágicos eventos em Odisha”.

 

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