Estudante hostilizada por ter mais de 40 anos em SP revela tristeza ao descobrir vídeo e emociona com trajetória: ‘Chorei muito’

Estudante hostilizada por ter mais de 40 anos em SP revela tristeza ao descobrir vídeo e emociona com trajetória: ‘Chorei muito’


Patrícia Linares, estudante do curso de biomedicina da universidade particular Unisagrado, em Bauru (SP), se manifestou após ser hostilizada por suas colegas. Nas imagens que viralizaram, três universitárias ironizam a idade de Patrícia, afirmando que ela já deveria estar “aposentada”. Ao g1 nesta segunda-feira (13), a vítima contou como descobriu sobre vídeo e o choque que sentiu ao assistir. Linares também garantiu que não vai desistir da faculdade após o caso.

Na entrevista, Patrícia lembrou que foi avisada sobre o que estava acontecendo pouco antes de apresentar um dos trabalhos em sala de aula. “Nós tínhamos um trabalho de anatomia super difícil para apresentar. Durante o intervalo da aula, fui para o banheiro. Tinha várias pessoas olhando para mim. Pensei: ‘Meu Deus. O que será que está acontecendo?’”, contou.

“Antes de eu voltar para a sala, duas pessoas, que não sei quem são, me chamaram. Perguntaram se eu era a Patrícia e falaram: ‘Sabia que tem um vídeo seu rolando na faculdade?’. Fiquei preocupada. Falei: ‘Ué, será que alguém me filmou?’. Falaram que não. ‘São três meninas que estão falando mal de você’”, continuou.

Com o trabalho por apresentar, ela não quis assistir ao vídeo inicialmente: “Eu falei que não podia ver o vídeo porque tinha um trabalho difícil para entregar”. Dentro da sala, no entanto, outra pessoa a abordou novamente sobre o tema. “Ela falou: ‘Patrícia, eu não queria, porque sei que vai te chatear, mas preciso te falar. Fizeram um vídeo caçoando da sua idade’, e me mostrou o vídeo. Eu olhei e comecei a chorar. Foi um misto de emoções. Eu estava preocupada com o trabalho e, ao mesmo tempo, tinha acabado de ver aquele vídeo deprimente”, lembrou.

Segundo a estudante, que tem 44 anos e está cursando o primeiro ano de biomedicina, ela encontrou consolo na família. “Me abalou profundamente. A tristeza que me abateu foi muito grande. Eu chorei muito. Quando cheguei em casa, contei para o meu esposo o que tinha acontecido, mandei para as minhas irmãs e aí tudo começou a acontecer”, disse.

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Apesar do choque, Patrícia garantiu que não pretende desistir do curso, que sempre foi o seu sonho. “É um sonho de adolescência que nunca pude realizar porque tive várias interrupções de estudo. E agora também não vou desistir, o sonho não morreu dentro de mim. Não tem essa opção desistir. Nem quando eu era vendedora, nunca desisti das minhas clientes, eu nunca desisti da minha vida. E muito menos pelo meu sonho”, afirmou.

Ela ainda agradeceu o apoio que recebeu até de desconhecidos após o vídeo viralizar. “Eu estou estarrecida com essa corrente de amor que eu tenho recebido. A gente vê muitos relatos na internet de pessoas que sofrem preconceito, mas eu não sabia que tinha tanta gente bacana, que também já passou por esse tipo de coisa. Eu chorei, mas eu tenho pessoas que cuidam muito de mim”, acrescentou.

Patrícia foi homenageada por colegas após o episódio. (Foto: Arquivo Pessoal)
Patrícia foi homenageada por colegas após o episódio. (Foto: Arquivo Pessoal)

Para a publicação, Linares contou que era lojista, mas precisou fechar o comércio durante a pandemia. “Tive uma loja por quase 11 anos. Fui muito feliz. Mas a pandemia me fez fechar. Fui pra casa e fiquei pensando o que eu poderia fazer pra mudar minha história. O meu esposo me disse: ‘Se você tem o desejo de estudar, a gente vai fazer o possível pra isso, pra ter uma nova profissão’. Fechar a loja me abalou demais. Então eu tinha que vivenciar outras coisas. Todo mundo se reuniu pra me ajudar e comecei esse ano a graduação”, contou.

“Tinha que ser na área da saúde. Minha mãe foi enfermeira durante muitos anos e vivi muito dentro de hospitais. Mas a vida leva a gente por outros caminhos. E devido a isso eu não consegui fazer uma graduação”, continuou.

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Vídeo viral

No registro que viralizou no último final de semana, três jovens debocham de Patrícia por ela estar estudando aos “40 anos”. “Gente, quiz do dia: como ‘desmatricula’ um colega de sala?”, questiona uma das meninas. “Mano, ela tem 40 anos já. Era para estar aposentada”, responde outra. “Realmente”, concorda a terceira. “Gente, 40 anos não pode mais estudar, eu tenho essa opinião”, conclui a moça com o aparelho celular.

Também para o g1, uma das meninas que aparecem no vídeo se manifestou, afirmando que todas se arrependeram da “brincadeira de mau gosto”. “Nunca foi na intenção de dizer que pessoas de mais idade não podem adquirir uma graduação, pois não tenho esse pensamento. Foi uma fala imprudente e infeliz que tomou uma proporção que não imaginávamos”, disse Bárbara Calixto. As outras duas são Beatriz Pontes e Giovana Cassalatti. Todas maiores de idade, elas podem responder pelo caso na Justiça.

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Universidade se manifesta

Sem mencionar diretamente o caso, a Unisagrado fez uma publicação nas redes sociais apontando que é contra qualquer tipo de discriminação. “Acreditamos que todos devem ter acesso à educação de qualidade, desde pequenos até quando cada um quiser, porque educação é isso: autonomia”, diz o post.

“As oportunidades não são iguais para todo mundo em todos os momentos da vida. Sabemos, por exemplo, que os pais, muitas vezes, abrem mão da sua formação para oferecer as melhores oportunidades para seus filhos e, somente depois, optam por se profissionalizarem”, finaliza a nota.

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